Acabo de receber a notícia de que Marcelo Freixo desistiu de sua candidatura à prefeitura do Rio em 2020.
Sou eleitor de Freixo, mas não me considero militante. Muito pelo contrário, na condição de cidadão, me vejo no dever de criticar rigorosa e abertamente o político que elegi, sempre que julgar necessário. Não boto a mão no fogo por político ou partido algum e não ofereço apoio incondicional a nenhum deles - tenho isso por imperativo republicano e democrático.
Assim sendo, a presente desistência me parece uma ótima notícia.
Em primeiro lugar, porque estou muito satisfeito com sua atuação como deputado federal, tanto pelo modo parcimonioso e sensato com que vem se posicionando nesses tempos de insensatez como em sua atuação na comissão parlamentar que fez a revisão do "Pacote Anticrime", conseguindo remover ou atenuar alguns dos itens mais nocivos da proposta original - uma pequena vitória, mas importante nesse contexto. Mais uma vez Freixo provou sua eficácia em dialogar e articular, mesmo em condições desvantajosas - um bom exemplo da política enquanto "arte do possível". Considero útil que ele permaneça no Congresso.
De resto, a ideia de uma terceira candidatura como prefeito nunca me agradou. Me parecia um grave erro de cálculo político, pois o contexto ser-lhe-ia muito desfavorável e a experiência pouco agregaria à sua carreira pública.
A situação ficou ainda pior quando começou a se alinhavar uma coligação com o PT, trazendo Benedita como vice. Tanto PT quanto Benedita possuem elevados índices de rejeição - sem contar com o passado de Benedita como vice de Garotinho e sua lastimável atuação no período em que assumiu o governo do Rio. Em tais condições eu sequer votaria em Freixo num eventual primeiro turno.
Semelhante candidatura seria erro comparável ao que foi a atropelada articulação da candidatura de Boulos à presidência em 2018, um grave equívoco, a meu ver, como já apontei em outras oportunidades.
Todavia, há que se refletir sobre as circunstâncias da desistência em questão. Segundo soube, Freixo recuou diante da resistência de setores do PSOL (partido muito fragmentado, como se sabe) em fazer semelhante aliança. A candidatura de Boulos também gerara grande atrito interno no partido.
Por um lado, fica patente o equívoco daqueles que teimam, por ignorância ou malícia, em rotular o PSOL como "puxadinho do PT". Muito pelo contrário, o PSOL se formou como dissidência justamente no momento em que se realizava a tão sonhada eleição de Lula, diante dos desacertos que se desenhavam ainda no primeiro mandato petista. O PSOL se constituía então como crítica aos temerários "pactos de governabilidade" e ao crescente fisiologismo da burocracia petista.
Durante todo o período do PT na presidência o PSOL se apresentava como "oposição de esquerda", nunca integrou a base governista ou fez coligação eleitoral com o PT. Muito pelo contrário, o PSOL era constantemente acusado por petistas e simpatizantes de ser "a esquerda que a direita gosta". Nesse sentido, é muito emblemática a trajetória de Chico Alencar no PSOL.
Essa postura só começou a mudar em setores do PSOL a partir do impeachment de Dilma e da crescente polarização política que então se acentuava. Nesse clima de "nós contra eles" uma perigosa aproximação começou a se esboçar e se reforçou ainda mais nas acaloradas eleições de 2018. Aproximação perigosa tanto pela força do antipetismo quanto pela tendência da burocracia e da militância petistas em desejar vassalos, e não aliados.
Concluindo, a notícia de hoje me satisfaz por saber que ainda resta algum vigor e brio dentro do PSOL, mas me entristece saber que Freixo tomou essa decisão mais por pressão partidária que por iniciativa própria.
Enfim, torço para que Freixo continue em sua excelente atuação parlamentar e espero que este seja o ponto final desse inapropriado e embaraçoso flerte com o PT.
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