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domingo, 27 de fevereiro de 2022

"There is no propaganda as potent or powerful as war propaganda. It seems that one must have lived through it at least once, as an engaged adult, to understand how it functions, how it manipulates and distorts, and how one can resist being consumed by it".

Glenn Greenwald

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

 Não há tragédia maior que a conquista de sucesso individual através de fracasso coletivo.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

O valor da cautela

Corrigir erros é muito mais difícil que evitar erros. O valor da cautela é, literalmente, inestimável, pois riscos subestimados costumam resultar em prejuízos exponencialmente multiplicados. Diante de grandes incertezas, como ensina a sabedoria taoísta, é melhor "agir pela não interferência".

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Jerusalém Libertada

 Hoje tive um sonho.


Sonhei contigo, Jerusalém, "três vezes santa": santa para judeus, santa para cristãos, santa para muçulmanos. Santa para todos os povos de Abraão.

Jerusalém sofredora, Jerusalém atormentada. Três vezes santa, três vezes desejada, muitas e muitas vezes disputada!

Jerusalém, Jerusalém, quanto sangue já correu, corre e ainda correrá por ti! Quantas lágrimas vertidas, quanto ranger de dentes, quanto bater de espadas!

Até quando, Jerusalém, os povos de Abraão lutarão por ti? Até quando, três vezes santa Jerusalém, serás pedra de tropeço para aqueles que dizem te amar?

Embriagados pelo vinho da ira, sorvido em poluídos cálices, teus pretendentes te cortejam violentamente, tomando por amor aquilo que não passa de vulgar paixão. Te idolatram, pensando te adorar. Pois, infelizmente, Jerusalém, te tornaste ídolo no coração daqueles que julgam te amar - e é como idólatras sanguinários que te disputam.

Antes de Abraão e seus herdeiros eras Salém, reino do misterioso Melquisedec. Generoso, hospitaleiro Melquisedec, que acolheu Abraão fatigado dos combates.

Abraão foi teu hóspede, jamais teu dono, Jeru-Salém, cidade, antes de tudo, hospitaleira. Acolheste em teu seio a Arca daquela Aliança que diz: "Não matarás".

Quão iludidos estão aqueles que se entrematam em teu nome! Aqueles que deveriam te santificar, te profanam, derramando sangue sobre o solo de Melquisedec.

Onde estás, onde estás, Jerusalém? Estás nos céus ou estás na terra? Em todo lugar ou lugar nenhum? Estás, antes de tudo, nos corações de todos aqueles que amam?

Que podes significar, Jerusalém, de mais nobre, digno e elevado, senão o Amor?

Todos aqueles que amam, hospitaleira Jerusalém, acolhem a ti, no fundo de seus corações e almas. Te acolhem e te possuem, em Espírito e Verdade! Pois és mais que pedra, és um sonho, um ideal, tantas vezes destruído, pisoteado, aviltado. Em Espírito e Verdade te encontras em toda parte, como disse o galileu à samaritana.

Aprisionada choras, Jerusalém, mas venho oferecer-te consolo.

Sonhei contigo, Jerusalém, como sonham os profetas, os visionários e os poetas. Sonhei como sonham os esperançosos, aqueles que teimam em sonhar!

Em meu sonho, Jerusalém, todos aqueles que se matam por ti depuseram as armas. Os povos de Abraão finalmente se entendiam como irmãos, após séculos de encarniçado ódio. Ismael e Isaac se estreitavam em infinito abraço; Caim, Abel e Set partilhavam o banquete da paz. Moisés, Jesus e Maomé sorriam.

E depondo suas armas, te libertavam do cruel jugo em que tanto sofres. Amando uns aos outros, te libertavam. Renunciando a toda paixão possessiva, se encontravam juntos sob a reluzente tenda de Melquisedec.

Mais uma vez eras Salém, a simples, humilde e hospitaleira Salém. Rejuvenescida, revigorada, renovada, resplandecias para todos os povos da Terra, como sonhava Salomão. Todos aqueles que amam se encontravam em ti, em Espírito e Verdade.

Salém, três vezes santa, muitas vezes santa, acolhias crentes e descrentes. Tua luminosa tenda era um santuário de paz, um sagrado recinto onde ninguém ousaria derramar o sangue do irmão.

Mais uma vez governada pelo sábio, misterioso Melquisedec, acolhias todos aqueles fatigados das guerras, dos prantos e do ranger de dentes.

Sob o cetro de Melquisedec, a amorosa e zelosa hospitalidade se tornava tua primeira e única lei. Eras verdadeira e plenamente a Terra Prometida, onde não mais se ouviam os ecos das espadas, lanças, flechas ou canhões. Soava apenas um silencioso cântico de paz, murmurado em cada coração.

Sonho acordado, bem sei, Jerusalém. Mas o sonho é irmão da esperança, e a esperança é mãe de milagres.

Segundo a segundo, minuto a minuto, dia a dia, se aproxima o dia de tua libertação, Jerusalém...

Inspirado pela Águia de Patmos e por Victor Hugo; dedicado a Priscila, minha Sara

Encontro de Melquisedec e Abraão; pintura atribuída a Peter Paul Rubens (séc. XVII)


terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

2023 - Que esperar do Brasil após as eleições?

As eleições de 2022 se aproximam e não me sinto nada esperançoso em relação às candidaturas presidenciais e suas perspectivas para o futuro. 


A grande prioridade para mim, assim como para boa parte do eleitorado, é afastar Bolsonaro do poder, após quatro nefastos anos de mandato. Uma pauta negativa, portanto, em nada propositiva. No entanto, uma vez derrotado Bolsonaro, que será do Brasil? 


Ao que tudo indica, o segundo turno em 2022 será uma disputa entre Lula e Bolsonaro. A reeleição de Bolsonaro seria uma tragédia na qual não desejo sequer pensar. Mas que esperar de uma eventual vitória de Lula?


Antes de qualquer coisa, um mandato tumultuado, marcado por fortíssima polarização política, consideravelmente agravada. O antipetismo radical  enquanto força social e política não deve ser subestimado. Caso eleito, Lula governará sob fogo cerrado desde o primeiro dia de mandato, enfrentando uma oposição feroz e virulenta, tanto por boa parcela da população quanto por parte significativa do Legislativo federal - mesmo derrotado Bolsonaro, certamente muitos de seus acólitos serão eleitos ou reeleitos (inclusive nas assembleias legislativas estaduais). Mesmo como minoria parlamentar, tais deputados e senadores serão parte do jogo político. Até aqui poucos analistas me parecem interessados na questão, o que é sintomático da estreiteza de vistas com que costumamos pensar nossa política, costumeiramente relegando o Legislativo a segundo plano. 


Em todo caso, Lula não terá a mesma margem de manobra para viabilizar seu governo que em mandatos anteriores. O grande problema disso é que, salvo engano, Lula ficará mais que nunca refém do "centrão" (como aliás, já sinaliza sua reaproximação ao gelatinoso MDB, incluindo figuras como Helder Barbalho). A reedição dos velhos "pactos de governabilidade" que marcaram a Era PT-PMDB é, por si só, uma perspectiva sombria. Convém lembrar que a longo prazo o desfecho de tais pactos foi o colapso do mandato Dilma-2, os retrocessos da Era Temer e, em última instância, a eleição de Bolsonaro, fortemente impulsionada pelo antipetismo.


Sabemos que a História nunca se repete, mas muitas vezes rima. A atual conjuntura me parece demasiado parecida com aquela do retorno de Vargas ao poder e seu subsequente suicídio, acossado pelo lacerdismo - que possui muitos traços em comum com o antipetismo. Não creio que Lula venha a se matar, mas aposto, com pouco medo de errar, que não fechará mandato. Lula terá a perspectiva de impeachment como espada de Dâmocles sobre a cabeça a cada dia de mandato - principalmente caso se confirme a chapa "Lulalckmin" (parece que a lição não foi aprendida com Temer). Caso consiga completar quatro anos de mandato, é imperioso ter em mente que entre 2022 e 2026 é mais que provável que se dê um agravamento da sanha antipetista e não é impossível a emergência de alguma figura semelhante ou pior que Bolsonaro para concorrer à presidência da República.


Substituir Bolsonaro por Lula é uma aposta de alto risco, cujos escolhos e perigos não devem ser subestimados. Tanto a conjuntura nacional quanto a internacional hoje são radicalmente diferentes daquelas que Lula encontrou em 2003. No plano doméstico, temos um elevadíssimo grau de polarização política, inflação aguda, extrema desvalorização da moeda nacional, elevado índice de desemprego e uma população depauperada, entre outros problemas. No plano internacional temos extrema volatilidade econômica, baixa demanda por commodities e uma situação diplomática delicada, marcada por elevada tensão entre potências como Estados Unidos, Rússia, União Europeia e China - sem mencionar as incontornáveis sequelas da pandemia. Acreditar que Lula reeleito terá um mandato tranquilo é ingênuo, para dizer o mínimo. 


Que fique bem claro que eu votaria em Lula sem hesitar, em um segundo turno contra Bolsonaro. Lula tem inúmeros defeitos, mas Bolsonaro é uma notória ameaça à democracia, à ordem constitucional e às instituições republicanas. No entanto, nesse caso, votarei sem ilusões, consciente de que o mandato vindouro será mais que turbulento, com a possibilidade de agravar problemas e elevar os riscos para os ciclos eleitorais de 2024 e 2026. Me inquieta ver que boa parte do eleitorado, da mídia e dos analistas não tem se mostrado suficientemente consciente desses problemas, reduzindo o processo eleitoral a uma briga entre Bolsonaro e Lula - fruto de uma visão demasiado condicionada ao curto prazo e ao calendário eleitoral. Para bem e para mal, os verdadeiros desafios para o Brasil nos aguardam em 2023.


Há alternativa à dicotomia Lula x Bolsonaro?


A meu ver, sim. Não sou entusiasta de Ciro Gomes e tenho sérias críticas a ele e à atual configuração do PDT. Ainda assim, tendo a crer que é o candidato com o projeto mais coerente e abrangente para o Brasil a longo prazo - ainda que me desagrade em pontos específicos. Mas a política é a arte do possível, não do ideal. Tendo a crer que Ciro, com suas virtudes e defeitos, teria condições de amenizar ao menos parte dos problemas sociais e econômicos que assolam o Brasil, bem como de mitigar a polarização política que nos trouxe até esse contexto sombrio. Ainda aí, no entanto, alento poucas esperanças. Ao que tudo indica, Ciro não terá condições de avançar para o segundo turno.


Pensando no tenso processo eleitoral que se aproxima e nos quatro turbulentos anos que provavelmente o seguirão, venho tentando cultivar uma atitude estoica, tomando para mim as palavras de Gandhi: "Bem-aventurados os que nada esperam"...




quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

O preço da paz

Violência gera violência. E toda violência tem um preço. O valor da paz, por outro lado, é incalculável. Nenhum preço é alto demais para se conquistar a paz.