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sábado, 25 de fevereiro de 2023

"Me pergunto se, a pretexto de odiarmos ideias, não acabamos por desprezar pessoas - principalmente as que nem sabemos que existem”.

Rodrigo Watzl

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

MCU - Mega Circo Unificado

Me surpreendi hoje ao constatar que o tão badalado "Universo Marvel" (MCU para os íntimos) já tem trinta e um (!) filmes lançados e mais uns oito (!) agendados - fora os seriados e especiais de TV e streaming (!!!).

Gosto de super-heróis, gosto de (alguns) filmes de super-herois, mas... Para tudo há um limite. 

Excluindo algumas obras mais inspiradas, o grosso dessa produção poderia receber o rótulo de "entretenimento barato" - não fosse o orçamento milionário desses filmes e sua extraordinária arrecadação - sem mencionar a vasta gama de produtos derivados.

Se essas "maravilhas" não ocupassem quase todas as salas e horários de cinema o ano inteiro, não seria o maior dos problemas. Filmes de super-heróis (não apenas Marvel) ocupam uma porção cada vez maior de sessões de cinema, deixando menos e menos espaço para outros gêneros cinematográficos.

Como se não bastasse essa quase usurpação das sessões de cinema, o fenômeno se espalha também pelas prateleiras de livrarias, lojas de brinquedos e milhares e milhares (literalmente) de sites, canais e vídeos em plataformas digitais - em sua maior parte, material de qualidade e relevância duvidosas.

Essa verdadeira monomania é prejudicial inclusive às próprias obras de super-herois, visto que a quantidade cada vez maior de produtos compromete sua qualidade, resultando em trabalhos cada vez menos criativos, mais repetitivos e esvaziados de significado - inclusive devido ao status de propriedade intelectual de grandes conglomerados de mídia; à medida que os paladinos mascarados, encapuzados e coloridos se tornam investimentos milionários, a liberdade de criação dos artistas envolvidos com essa indústria se torna mais e mais limitada, devendo se conformar a um cânone cada vez mais padronizado e enrijecido. De certa maneira, quem viu um filme Marvel, viu todos. 

Os anos 60 e 70 foram quase uma Nova Gênese para os quadrinhos de super-herois, pela contribuição de criadores como Stan Lee, Dennis O'Neal, Jack Kirby, Neal Adams e muitos outros (apesar do papel vagabundo e da limitada paleta de cores); os anos 80 e 90 viram uma vibrante explosão criativa, encabeça por figuras como Alan Moore, Neil Gaiman, Frank Miller, John Byrne, Grant Morrison e outras mentes talentosas - foi o período em que emergiram as ambiciosas "graphic novels", com maiores pretensões artísticas e recursos editoriais mais vastos. O mesmo não pode ser dito das primeiras décadas do século XXI, marcadas por uma assombrosa estagnação, produzindo poucas obras dignas de nota, apesar dos notáveis avanços técnicos que viabilizam edições belas, caras e artisticamente pobres - décadas estéreis como Apokolips...

Tal excesso de oferta, que beira a imposição,  a meu ver, já está se tornando um fator de alienação cultural para grande parte do público, especialmente dos mais jovens. A diversidade é essencial para o cultivo do ser humano em plenitude. Há que se explorar outros horizontes, navegar e mergulhar em outros mares.

Em sua maioria, filmes de super-herois são divertidos, mas tremendamente superficiais. Diversão é importante, mas não pode ser tudo na vida. Um ser humano que se cultive apenas com obras divertidas perde a oportunidade de explorar outras facetas da vida, do mundo, e de si mesmo. O próprio mundo dos quadrinhos, por sinal, não pode ser resumidos a franquias de super-herois - há muitos outros gêneros de "gibis", cada qual com suas riquezas. 

Até a diversão demasiada termina por saturar, enfastiar; deixa de ser um prazer para se tornar uma compulsão - sacia, mas não alimenta. E haja circo para pouco pão...

Viraremos todos "zumbis Marvel"?


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

"Professor, o que é personalidade?"

Encerro perplexo o dia de hoje.

Venho trabalhando imaginário e mitologia com minhas turmas de 6° e 7°ano e propus uma atividade para que meus alunos criem um monstro e um herói, orientados por uma ficha, visando a posterior elaboração de uma narrativa ficcional. 

A pergunta que mais ouvi ao longo do dia foi: "Professor, o que é personalidade?" 

Encontrei extrema dificuldade para me fazer entender por alguns estudantes. Não conseguiam perceber a diferença entre uma característica física, como "forte" e outra de ordem psíquica, como "corajoso". A maneira que melhor encontrei para tornar a diferença mais inteligível foi opondo "características do corpo" a "características do coração ou da alma".  Alguns pareciam confusos com a própria definição de "característica". 

Em dezesseis anos de magistério já vi muita coisa espantosa, mas o episódio de hoje me pareceu particularmente perturbador. 

Me pergunto quanto deve ser difícil para um ser humano conquistar o mínimo de autoconhecimento, de capacidade de reflexão sobre si mesmo e sua vida, sem dominar palavras e noções tão essenciais para isso, como "personalidade" ou "característica". 

Me parece extraodinariamente difícil avaliar o impacto de semelhante empobrecimento de vocabulário não apenas sobre os estudantes propriamente ditos, mas também sobre o ambiente social em que vivem. Soa como algo quase orwelliano.

Nos últimos meses o mundo vem se mostrando perplexo com o chatbot ChatGPT, capaz de gerar textos complexos (embora superficiais) cosendo retalhos textuais extraídos de sua imensa base de dados.

É inquietante viver em uma época em que máquinas absolutamente inconscientes sejam capazes de "redigir" textos por inteligência artificial (simulacro que sempre tem muito mais artifício que inteligência) e, ao mesmo tempo, jovens humanos mostrem tamanha dificuldade para compreender palavras e noções não apenas corriqueiras, mas imprescindíveis ao desenvolvimento de suas consciências, em suas múltiplas dimensões. Alienados de ferramentas cognitivas tão poderosas, se alienam de si mesmos e, consequentemente, do mundo. 

Mais espanto que os avanços da inteligência artificial deveriam causar as graves perdas culturais coletivas, que minam nossa capacidade de expressão, comunicação e convívio. 

Um dos grandes desafios de nossa época, mais que nunca, parece ser o de reconhecer, resgatar e cultivar nossa maravilhosa capacidade de nos fazermos plenamente humanos. Nesse tempo em  que as máquinas parecem permear tantos aspectos da experiência humana, os apelos de Erasmo de Roterdã e Pico Della Mirandola se mostram não apenas atuais, mas urgentíssimos. Precisamos humanizar nosso presente, para que o futuro valha a pena ser vivido; para que não nos tornemos pessoas controladas por máquinas controladas por outras pessoas, como diria Frank Herbert - pois é exatamente disso que se trata. 

Dentro de cada um de nós dorme um potencial tremendo; que não nos faltem a sabedoria e a coragem para desperta-lo.



terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Sangue indígena

Todo brasileiro tem sangue indígena nas veias; alguns também o trazem manchando as mãos. 

Imagem de Gerd Altman, via Pixabay


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Como o Capitalismo "funciona"?

Hoje presenciei uma cena de cortar o coração. Em uma farmácia, uma senhora diabética, acompanhada da filha, escolhia quais remédios deixaria de levar para poder fechar a conta. As duas faziam piada da situação - às vezes o riso é o último recurso para nos protegermos diante das tragédias da vida. 

Minha esposa é diabética e usa alguns dos medicamentos em questão - realmente são muito caros, pois são fabricados na Europa e, como se sabe, nossa situação cambial tem sido catastrófica nos últimos anos.

Quando um diabético, especialmente idoso, se vê privado de medicamentos prescritos há um provável impacto em sua qualidade de vida e mesmo de sua expectativa de vida. Não há palavras capazes de expressar devidamente quão perversa é uma situação como essas. 

Vivemos em um modelo econômico em que pessoas recebem milhões para chutar uma bola, em que valores estratosféricos são empregados para a realização de um efêmero evento esportivo e mulheres idosas não conseguem comprar medicamentos essenciais - simplesmente porque uma empresa europeia detém o monopólio sobre certos medicamentos e a moeda brasileira se encontra desvalorizada.

Vivemos em um mundo em que milhões de dólares são gastos para a produção de uma patética cena de ação em uma franquia cinematográfica que produz e reproduz há quase três décadas filmes que são quase fotocópias cada vez mais imbecilizadas uns dos outros, estreladas por um galã que em breve precisará de fraldas geriátricas - que constituem também uma pesada despesa no orçamento de milhões de famílias.

Não se trata de argumento utilitarista. Esportes e cultura (inclusive o lixo hollywoodiano) fazem parte da trama da sociedade e da vida e são importantes para a coletividade. O problema é quando atletas e atores voam de balada em balada em jatinhos e hotéis de luxo e diabéticos não conseguem adquirir medicamentos essenciais; é quando bilionários queimam dinheiro com todo tipo de extravagância enquanto a muitos idosos falta dinheiro para aquisição de absorventes geriátricos.

Há quem diga que a grande virtude do capitalismo, guiado pela sabedoria de Mamon, é "funcionar". De minha parte, me recuso a acreditar que uma sociedade em que uns poucos tratam o luxo como necessidade e bilhões de pessoas precisem lidar com a necessidade como se luxo fosse é uma sociedade que "funciona". Se assim é, "funciona" para quem? Para a senhora cujo drama testemunhei hoje, certamente o capitalismo vem "funcionando" de mal a pior. 

"Meritocracia", responderão alguns. A estes pergunto que falta para que a senhora "mereça" seus remédios. Que fazem o "menino Neymar", as estrelas de Hollywood, os magnatas do Vale do Silício, banqueiros, especuladores de toda espécie e tantos outros para "merecer" uma vida de luxo nauseabundo em meio a tanta miséria?

De que adianta uma indústria farmacêutica que desenvolve medicamentos "milagrosos", mas cujos preços excluem desses benefícios bilhões de pacientes, crônicos ou não? Pior ainda, onde milhões de pessoas não conseguem sequer o acesso a um médico que lhes prescreva a medicação? 

"Ciência sem consciência é apenas ruína da alma", dizia Rabelais há quase meio milênio. 

Ciência não nos falta; a consciência, por outro lado, não "funciona".

Se nossa sociedade capitalista realmente funciona é apenas como um satânico moinho de triturar gente, como sugeria Karl Polaniy nos anos seguintes à infame Crise de 1929 - e haja gente para triturar nesse planeta...



domingo, 5 de fevereiro de 2023

Riddle me this

Can a bat fly twice at the same city? Bat and city are never the same. Sameness is in the eye of the beholder - but does the same eye see the bat twice?



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Japamala

Cada lágrima derramada é semente plantada no solo da alma, aguardando oportunidade para germinar. Bem-aventurados os que choram.