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Mostrando postagens com marcador Coronavirus. Mostrar todas as postagens
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quarta-feira, 13 de outubro de 2021

A Boa Notícia

Mais de meio milhão de brasileiros mortos. Alguns milhares de menores de idade órfãos. Um massacre que faz Canudos se apequenar. 

Quando penso em outros países, como a Coreia do Sul, que não chegou a três mil óbitos,  me bate um misto de revolta e tristeza por tanto sofrimento desnecessário. 

Mas a boa notícia é que, desde o início da pandemia, o Brasil  fez 40 novos bilionários...

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Paranoia pandêmica

Relato de uma conversa presenciada por um amigo: 

Meus queridos, acompanhando aqui o vigésimo terceiro minuto de um debate a respeito do futuro da humanidade...

Resumidamente, a pandemia foi um grande plano das famílias mais poderosas do mundo para jogar a humanidade no caos e ampliar o seu domínio sobre o planeta.

O objetivo final dessa etapa do plano é convencer/obrigar a maior quantidade de pessoas a se vacinar, implementando dispositivos de leitura orgânicos para ampliar o controle sobre as populações.

Tudo isso representa uma etapa preliminar e preparatória para o golpe final, que visa a implantação da NOM (Nova Ordem Mundial), onde todos os dados do mundo, desde dados bancários até registros civis e profissionais, serão deletados por ordem dessas famílias mais ricas, sob a desculpa de sucessivos ataques hackers

O grande comandante dessa operação seria o fundador do Fórum Econômico Mundial, que tem áudios e vídeos espalhados pela internet confirmando a veracidade de todas essas informações 

A ideia é implementar a NOM em meio ao caos absoluto e à anarquia decorrente desse apagão global de dados, a partir de uma aliança entre essas famílias mais ricas (essencialmente anticristãs e antissemitas) e a China, impondo ao mundo, a partir de então, a ditadura do ateísmo e do esquerdismo, que nos levará para a perdição definitiva...



sexta-feira, 30 de julho de 2021

Bestializados, Pedestres e Pavorosos

Ontem tivemos mais uma perda lastimável, com o incêndio da Cinemateca Nacional - mais um em poucos anos.

Vejo uma nítida correlação entre esses incêndios de instituições públicas, as queimadas (não apenas) na Amazônia e o atual massacre pandêmico que vivemos. 

Por trás de tudo isso há muita incúria e omissão, não apenas por parte do governo, mas também da sociedade brasileira. O descaso governamental reflete, em grande medida, o desinteresse popular. 

Acho que nunca deixamos de ser aquele povo que assistiu "bestializado" a proclamação da República. Permanecemos ligados ao "pragmatismo pedestre" que Sérgio Buarque apontava em nossa colonização. 

Como diz um professor meu, um povo é sua História, e a nossa é pavorosa.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Cidadania Carioca

 Eis que ouço na rua, em frente a meu prédio, o indignado comentário de um cidadão carioca, reclamando que o lockdown imposto pela prefeitura obriga o fechamento dos bares, mas permite o funcionamento das igrejas. E assim segue a cidadania carioca em tempos pandêmicos. Debret foi embora, mas o Rio continua "pitoresco" - ou picaresco, nunca se sabe...

domingo, 28 de março de 2021

Que comemoram?

Apesar do lockdown decretado pelas autoridades fluminenses, o sábado se mostra festivo e barulhento em minha vizinhança. Que pensar de coisa semelhante? 

Em um país com mais de 300 mil óbitos pela pandemia, há quem continue brincando com a vida e a morte. O que motiva tão desvairada alegria em momento de pesar tão doloroso? Que profundo desespero tortura essas almas caprichosas?

Não sei se semelhante atitude me causa estranheza, indignação, raiva, tristeza ou pena - pois é digno de pena um povo que se entrega inerme às garras da ignorância, da falta de civilidade e à mercê de microorganismos irracionais.

Chega a ser irônico que essa espécie tenha a ousadia de se declarar "Homo SAPIENS". Somos estultos da pior natureza.



quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Quem decide sobre nossas vidas? - Aulas presenciais, pandemia e "protocolos científicos"

"Não ser ouvido não é razão para silenciar-se".

Victor Hugo


Entrando em fevereiro de 2021 as redes de ensino públicas e privadas do Brasil retomam suas atividades letivas e volta à baila a discussão sobre a possibilidade de um retorno "seguro" às atividades presenciais - com ou sem vacina. Apesar da verdadeira matança ocorrida em 2020, há quem teime em brincar com a vida (alheia).

Inúmeros gestores públicos se valem de comitês científicos para deliberar sobre protocolos de retorno. Há aí um imenso, colossal problema.

Ninguém, em sã consciência, há de negar os avanços e confortos que a ciência moderna proporcionou à humanidade. No entanto, nada disso faz de cientistas - e, portanto, comitês científicos - autoridades inquestionáveis em relação à gestão de riscos.

Não quero com isso desacreditar a valorosa contribuição dos cientistas em relação à gestão sanitária da pandemia. No entanto, cientistas geralmente são bons em sinalizar aquilo que é potencialmente perigoso, mas péssimos em garantir que algo é seguro. É mais fácil provar a existência de um grave perigo que provar a inexistência de uma ameaça - ou, em termos de lógica formal, "ausência de evidência não significa evidência de ausência".

Para ficar apenas com um exemplo recente, vimos há poucos anos a terrível tragédia nuclear de Fukushima, da qual o Japão ainda não se recuperou completamente.

O desastre de Fukushima é um alerta contra a arrogância científica. Examinando em retrospecto, chega a ser absurdo que comitês científicos permitissem o funcionamento de um obsoleto reator nuclear de circuito aberto justamente no litoral de um país tão vulnerável a terremotos e tsunamis. Fukushima era uma tragédia anunciada, mas cientistas garantiam que a operação da usina era "segura". O preço dessa arrogância se conta em milhares de mortos, vítimas de envenenamento radiativo e famílias desalojadas de seus lares, com suas vidas desfeitas pelo risco de exposição à radiação residual.

Luc Ferry, filósofo e ex-Ministro da Educação da França, em obra de 1992, já criticava a ilusão de que comitês científicos sejam capacitados a tomar decisões éticas com repercussões na vida de terceiros. Cientistas, quaisquer que sejam suas especialidades, estão aptos apenas a prestar esclarecimentos técnicos sobre sua área de atuação profissional. Isso não significa que lhes caiba decidir sobre os desdobramentos éticos de tais pareceres, mormente quando se trate de questões de vida ou morte. Os cientistas que garantiram a "segurança" operacional de Fukushima são responsáveis por todas as mortes e danos provocados pela usina.

Da mesma forma, quando um comitê científico subscreve as decisões de qualquer político a respeito de retomada de atividades educacionais presenciais ele se torna responsável por todos os enfermos e mortos em decorrência dessa situação, seja entre estudantes, profissionais da educação e respectivos familiares.

A situação se torna ainda mais perversa quando os gestores da educação tornam a decisão de retorno ao ensino presencial facultativa aos estudantes e suas famílias, mas lançam mão de recursos administrativos variados para pressionar os profissionais da educação a retomar suas atividades.

Tomo a liberdade de adaptar o testemunho* de uma amiga professora que adoeceu de COVID devido à atabalhoada retomada de atividades presenciais no segundo semestre de 2020:

Estou apavorada. Sofri com essa doença. Só eu sei  o que passei. Quando foi dito novamente que tínhamos que ir à escola, não consegui dormir. Tive crises de ansiedade e pânico. Não sei, para mim, como será esse retorno. Meu médico me passou remédios para relaxar e dormir. Está muito difícil para mim. Ou perco minha sanidade ou perco meu sustento.

E temos aqui o cerne da questão. A profissional mencionada se sente ameaçada e coagida em sua subsistência a retomar suas atividades laborais, apesar de ter sofrido terrivelmente com a enfermidade. É exatamente por essa razão que cientistas não estão aptos a tomar decisões de ordem ética que afetem terceiros: é relativamente simples e fácil para um comitê científico definir protocolos sanitários "seguros" sem levar em consideração as complexas realidades vivenciadas em uma escola. 

Afinal de contas, protocolos são apenas instruções redigidas e registradas em documentos, que muitas vezes não funcionam na realidade. E aqueles que redigem os protocolos, muitas vezes, não são aqueles cuja pele será posta em jogo pela aplicação dos mesmos. Como em Fukushima, aqueles que dizem o que é "seguro" não costumam ser os mesmos que arriscam suas vidas. 

Para usar uma velhíssima analogia, são como generais que, no conforto de seus gabinetes, decidem sobre a vida de soldados lutando para sobreviver na trincheira. Qualquer ser humano com o menor escrúpulo percebe quão sórdida e perversa é essa situação.

O mínimo que comitês científicos e gestores educacionais poderiam fazer seria EFETIVAMENTE ouvir o que os profissionais com anos de experiência nas trincheiras escolares têm a dizer sobre a suposta eficiência e segurança de tais protocolos.

Mais ainda, é absurdo, injusto e mesmo indecente tornar o retorno facultativo aos estudantes, mas compulsório aos profissionais da educação. Isso significa simplesmente dizer que uns têm o direito a decidir sobre sua saúde, integridade física e, no limite, sua vida, enquanto a outros é negado esse direito.

É ainda mais paradoxal ver que tantos advogados de longa data do ensino remoto em condições "normais" se manifestam agora como intransigentes defensores da retomada de atividades educacionais presenciais e da importância da presença do estudante em sala de aula - em meio à pior crise sanitária global desde a Gripe Espanhola, com elevado risco de contágio.

Por fim, tudo que os profissionais da educação desejam é simplesmente o DIREITO de preservar a vida e a saúde deles mesmos, assim como de suas famílias. 2020 não foi um ano de ócio para os profissionais da educação; foi um período de intenso trabalho, tentando atender às necessidades dos estudantes sob as mais adversas condições.

Nenhum de nós - professores ou trabalhadores administrativos da educação - se recusa a trabalhar. Queremos apenas trabalhar em condições seguras para nós e nossos entes queridos.

O mero fato de ainda precisarmos lutar por esse direito diz muito sobre o modo como a sociedade realmente enxerga a educação e seus profissionais. Pouco adianta realizar homenagens piegas no Dia do Mestre quando nossa vida não é valorizada em um momento de crise sanitária. Não somos super-heróis nem sacerdotes; somos apenas profissionais dedicados à instrução da juventude - e é assim, com profissionalismo, que gostaríamos de ser tratados pela coletividade da qual fazemos parte.


*Texto ligeiramente modificado para preservar a privacidade de minha amiga.



quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Um apelo cristão aos cidadãos do Brasil











"Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado. (Tiago 4:17)


Iniciamos o ano de 2021 com muitas incertezas em relação ao cenário político, econômico e sanitário. As campanhas negacionistas em torno da pandemia da Covid-19, a falsa oposição entre fé e ciência, com a gradativa perda de empatia e de responsabilidade coletiva, visíveis na resistência ao uso correto de máscara e nas aglomerações contribuíram para que os índices diários de morte e infecção superassem os do início da pandemia.


As imagens de Manaus-AM angustiam toda e qualquer pessoa com a capacidade de se colocar no lugar da outra pessoa. Imagens que poderão se repetir em outros estados se não frearmos nossos comportamentos negacionistas e egoístas. A compaixão é um dom de toda e qualquer pessoa, religiosa ou não, capaz de sentir a dor do outro.


A empatia é uma condição para o pensamento ético, tendo contribuição decisiva para o altruísmo e para a coesão social. Essa última é essencial para constituição de uma nação e de uma identidade nacional.


A ausência de empatia, no entanto, é perceptível não somente no comportamento individual. Ela também se revela nos direcionamentos políticos e econômicos do país. Em função de uma política e economia não empáticas, orientadas única e exclusivamente para o lucro de alguns, o Brasil vive, talvez, o momento mais difícil de sua história recente. As decisões tomadas na política brasileira estão destruindo o país como nação.


A Emenda Constitucional 95 – Lei do Teto de Gastos – é um exemplo das causas que potencializam os impactos causados pela pandemia, porque reduziu o investimento na saúde pública. Outras opções políticas equivocadas que precisam ser lembradas são: a interrupção do Programa Mais Médicos, por razões ideológicas, e a expulsão de médicos e médicas cubanas que atendiam nas regiões mais carentes do país. A não valorização dos e das profissionais de saúde também é causa da realidade visível nas mais de 200 mil mortes que poderiam ter sido evitadas. E, por fim, o desinvestimento em pesquisas.


A falta de oxigênio em Manaus, a estafa dos e das profissionais da saúde, a desesperança e o medo precisam cair na conta de todas as instituições, empresas, corporações que vislumbraram seus lucros em detrimento do bem-comum.


De fato, colocar o lucro na frente do direito à existência das pessoas parece ter funcionado. Vejamos um exemplo: o lucro líquido das grandes empresas não financeiras da bolsa brasileira teve alta de 86,9% no terceiro trimestre, quando comparado com o mesmo período de 2019, chegando a R$ 20,856 bilhões.


No entanto, a economia real não se beneficiou disso, pois a taxa de desemprego, segundo dados do IBGE, chegou a 14,6%, com mais de 14 milhões de pessoas desempregadas. Além disso, mais de 600 mil micros e pequenas empresas foram à falência e 9 milhões de pessoas foram demitidas em função dos efeitos econômicos da pandemia. Por entraves burocráticos e demora na liberação de recursos menores do que os necessários, a ajuda às micro e pequenas empresas só chegou a 15% delas. Com o fim do Auxílio Emergencial, sob o argumento de que o “Brasil está quebrado”, uma parcela significativa da população fica abandonada por seu próprio país.


Estamos nas mãos de um governo orientado por política de morte. Os números mostram que o argumento utilizado para justificar a não realização de lockdown para conter a pandemia foi falacioso e é um dos principais indicativos da ausência de responsabilidade das pessoas que ocupam postos-chave no país: Executivo, Legislativo e Judiciário.


Enquanto pessoas enterram seus familiares, amigos e amigas, assistimos o governo federal anunciando planejamentos inconsistentes para dar início à imunização da sociedade. O sufocamento das pessoas que lutam e lutaram por suas vidas não tem sido suficiente para que as autoridades responsáveis assumam o seu papel.


Cada anúncio inconsistente realizado na televisão e nas mídias sociais representa escárnio e desrespeito com a vida da população brasileira.


Que neste domingo, e ao longo do mês de janeiro, possamos orar por todas as famílias enlutadas.


Oremos pelos profissionais de saúde, pela comunidade científica, pelos pesquisadores e pesquisadoras.


Oremos também pelos movimentos sociais, ONGs, comunidades religiosas, lideranças comunitárias que, desde o início da pandemia, não cessaram seu esforço em concretizar ações solidárias que diminuíram o sofrimento das pessoas desempregadas e sem amparo.


Que ao longo deste mês, ainda peçamos a Deus piedade por todas as pessoas e lideranças religiosas, ou não, que de maneira irresponsável potencializam campanhas negacionistas e comportamentos egoístas.


Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC)"

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

A Doria o que é de Doria

Um dos personagens mais fascinantes de Victor Hugo é o sombrio e implacável Marquês de Lantennac, sempre justo em reconhecer os méritos e deméritos de seus aliados, subordinados e adversários. Lantennac é um homem mais movido pela rigorosa consciência do dever que por paixões. No que tange à crítica política, tendo a tomar Lantennac por modelo.

Embora não tenha nenhuma simpatia pela pessoa do Sr. Doria, nem afinidade com seu discurso político, me inclino a reconhecer que ontem o governador de São Paulo proporcionou uma página de "Grande Politique" a esse país tão habituado a chafurdar na "Petite Politique", histriônica e mesquinha. 

Em primeiro lugar, pois soube fazer da cerimônia de vacinação um ato repleto de "gravitas", com uma liturgia sóbria, mas repleta de potentes simbolismos, a começar pela vacinação da enfermeira negra, executada por uma médica especialista em doenças infecto-contagiosas. Tudo isso dentro de um hospital universitário. Sem fanfarra ou fanfarronice.

Depois, e mais importante, no gesto de ceder "espontaneamente" a maioria das doses ao Ministério da Saúde. Em terra onde impera o "ma fois" e nunca há suficiente farinha para tanto pirão, Doria soube PARECER generoso e, mal ou bem, esse gesto garantirá vacinação precoce a alguns milhões brasileiros em todo o território nacional.

Não escrevo essas linhas ingenuamente. Bem sei que a política sempre é um imenso teatro de sombras. Mas reconheço que Doria se mostrou um exímio titereiro. E, por ora, basta.

Recorrendo ao jargão das grandes provas ciclísticas, o governador de São Paulo foi o "vencedor do dia".

"Chapeau, Monsieur Doria!"




domingo, 18 de outubro de 2020

Remando para Caronte

Uma amiga médica, teve COVID em maio - essa semana testou positivo DE NOVO.  Encaminharam o caso dela para estudos. As reinfecções estão acontecendo. Centenas de crianças ao redor do mundo vêm manifestando uma síndrome inflamatória que deveria ser rara, mas tem ocorrido associada à infecção viral, muitas vezes resultando em óbito. 


Semana passada, segundo li no último boletim epidemiológico da OMS, foi a semana com mais óbitos registrados no mundo desde o início da pandemia, cerca de 50% dos quais na América, com EUA, Brasil e Argentina liderando. O número de casos registrados nas Américas segue subindo há um mês, com um salto na última semana. Outra coisa que me entristeceu muito nesse último boletim foi a estatística (até bastante óbvia) de que até agora as categorias profissionais com maior número de óbitos são as da área da Saúde. 


A situação está cada vez pior, mas os cidadãos, e mesmo os órgãos governamentais, agem como se fosse o contrário. Parece que todo mundo resolveu tocar a vida de volta à "normalidade", com máscara e álcool gel, "morra quem morrer", como disse um prefeito por aí, não lembro bem onde. 


A dura realidade, me parece, é que nossa sociedade hedonista e consumista resolveu remar na barca de Caronte, "sem medo de ser feliz". Olho para isso tudo como uma grande tragédia moral, nosso atestado de falência civilizacional. 


É um tipo de "banalização do mal" comparável àquele experimentado sob o Nazismo. Já ultrapassamos um milhão de mortes ao redor do mundo - e ainda não terminou a tragédia.  Estamos coletivamente lavando nossas mãos diante do Holocausto Pandêmico, indiferentes e bestializados. 


Fica cada vez mais evidente que lucro e prazer nos importam mais que vidas - "morra quem morrer". Diante de tanta insanidade, quem parece louco é quem está cumprindo a quarentena, preservando as vidas de suas famílias e poupando a coletividade de riscos desnecessários. Realmente, como dizem, é difícil viver decentemente em tempos indecentes.




domingo, 9 de agosto de 2020

2020 - A maior tragédia brasileira

Lembrem a Guerra dos Tamoios.


Lembrem a Batalha de Guaxenduba.


Lembrem Guararapes.


Lamentem a Guerra de Palmares.


Lembrem os Emboabas.


Lembrem a Balaiada.


Lembrem a Cabanagem.


Lembrem a Farroupilha.


Chorem a Guerra do Paraguai.


Lembrem a Revolta da Armada.


Lembren a Revolta da Chibata.


Lembrem Canudos, montanha entre colinas.


Lembrem o Contestado.


Lembrem a II Guerra Mundial.


Que se lembre cada gota de sangue vertido nesta Terra de Santa Cruz.


Mas que não se esqueça o sórdido Massacre de 2020, o Grande Holocausto Brasileiro.


Que ninguém se esqueça dos mais de 100 mil mortos por mais que perversa negligência e torpes interesses.


Que ninguém se cale diante dessa catástrofe.


E que se faça Justiça em nome de todos aqueles que sofrem, sofreram e ainda sofrerão. 


Que cada lágrima vertida forme uma poderosa torrente contra os tiranos cuja indiferença cruel e mesquinha nos trouxeram à beira do abismo.



terça-feira, 7 de julho de 2020

Bolsonaro, Barbárie e o Pacto Civilizatório

Há quase 11 anos postei neste blog um texto lamentando as comemorações pela morte de Bin Laden nas ruas dos Estados Unidos. Comemorar a morte de um bárbaro é um gesto que nos aproxima do próprio bárbaro.

Da mesma forma, mais recentemente, refleti sobre meus próprios sentimentos de regozijo, igualmente lamentáveis, quando recebi a notícia da prisão de Sérgio Cabral.

A língua alemã, em sua riqueza, possui um termo específico para esse tipo de sentimento demasiadamente humano: Schadenfreud - a alegria pela desgraça alheia.

O respeito à doença, ao sofrimento, ao infortúnio e ao luto daqueles que abominamos e nos causam repugnância é um dos limites mais importantes entre a civilização e a barbárie.

O Sr. Jair Messias Bolsonaro, infelizmente, não é uma pessoa conhecida por respeitar esses limites. Sabemos bem disso,  como atestam inúmeros episódios.

Bolsonaro manifestava publicamente seu desejo de que um câncer ou um infarte tirassem a vida da então presidente Dilma Roussef, paciente oncológica convalescente. Comemorou a morte de Fidel Castro.

Mais recentemente, já na função de Presidente da República, fez comentários escarninhos sobre os brasileiros falecidos na atual pandemia, especialmente o grotesco "E daí?"

Jair Messias Bolsonaro, infelizmente, é um ser humano que não respeita, nunca respeitou, os limites do pacto civilizatório. Nem mesmo a experiência da fatídica facada o fez repensar tais posturas.

Agora circulam notícias de que o Presidente Bolsonaro está sob suspeita de ter contraído COVID-19.

Tomemos o cuidado de não nos rebaixarmos, sequer jocosamente, à barbárie de Bolsonaro.

Não devemos desejar "Força, COVID" ou nos regozijarmos com a possibilidade da morte do presidente. Tais atitudes nos rebaixam ao mesmo nível de barbárie que tanto reprovamos nele.

Barbárie alimenta barbárie. Em nome da preservação do sempre frágil pacto civilizatório, precisamos nos colocar acima do "olho por olho, dente por dente".

Diante da barbárie, nos cabe cultivar a altivez ética de lutar contra as próprias pulsões bárbaras, vingativas e rancorosas que existem dentro de cada um de nós.

A alegria diante da desgraça alheia é um impulso muito humano, quase instintivo, que habita em nós. Não é vergonha sentir isso e seria hipocrisia negar que tais sentimentos estão em nós.

No entanto, como humanos, somos seres dotados da capacidade de escolher. Podemos escolher cultivar ou não tais sentimentos. Tal semente existe em nossos corações, mas devemos, em sã consciência, irrigá-la? Desejamos transformar nossas consciências em plantações de amargo ódio? Que colheita podemos esperar de semelhante cultivo?

De minha parte, sinto, como tantos, a inclinação de me regozijar com a enfermidade do presidente, desejar-lhe a morte e fazer piada com o tema.

Mas evitarei isso. Como ser humano, faço a escolha consciente de não me entregar a essas inclinações ou cultivar tais atitudes. Como recitava Mandela, "sou capitão de minha alma".

E como capitão de minha alma, escolho não sucumbir à lamentável barbárie que consome a alma do Capitão Bolsonaro.

Em nome de meus familiares e amigos que sofrem e sofreram as consequências dessa pandemia, só posso manifestar minha esperança - provavelmente inútil - de que sofrendo a enfermidade na própria carne, Bolsonaro reveja suas atitudes e, como ser humano que também é, possa fazer escolhas e tomar atitudes melhores no futuro.


terça-feira, 16 de junho de 2020

A-KI-RA e AGOSTINHO



A-KI-RA. 

Um dos melhores mangás de todos os tempos, criado por Otomo Katsuhiro Sensei e considerado uma das obras fundadoras da estética cyberpunk. Sua adaptação cinematográfica contribuiu muito para a disseminação da cultura pop japonesa no Ocidente. 

A-GOS-TI-NHO, por sua vez, é um personagem vivido pelo ator e humorista brasileiro Pedro Cardoso no remake do seriado cômico "A Grande Família", realizado pela Rede Globo, um dos maiores conglomerados de telecomunicações da América Latina e do planeta Terra. O seriado "A Grande Família" encontrou bastante sucesso, sendo prolongado por várias temporadas. 

Um de seus protagonistas é o mencionado AGOSTINHO Carrara, taxista suburbano, de caracterização picaresca como um típico "malandro", termo da Língua Portuguesa bastante usado na região do Rio de Janeiro e adjacências para identificar pessoas com tendência a resolver problemas do cotidiano de maneira informal e, ocasionalmente, às margens do ordenamento jurídico da República Federativa do Brasil. 

Seriados são uma forma de entretenimento comum entre os primatas da subespécie Homo sapiens sapiens, que atualmente exerce sua efêmera hegemonia sobre a biosfera terrestre, correntemente ameaçada pelo vírus identificado pelos ditos primatas como "COVID-19", embora alguns dentre os mencionados primatas considerem que o fármaco denominado Hidroxicloroquina seja mais que suficiente para conter o surto do vírus supracitado (crença esta desprovida de crédito entre a seleta coletividade de primatas autoidentificada como "comunidade científica"). 

Note-se que a pandemia de COVID-19 eclodiu no ano de 2020, impedindo a realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio, de maneira semelhante àquela retratada no mangá AKIRA, que prefigurava com décadas de antecedência a programação dos ditos Jogos Olímpicos para o exato ano de 2020, sendo sua realização impedida por um cataclisma (a saber, "o despertar de Akira"), o que pode levar a crer que Otomo, além de ser um dos mais talentosos mangakás da história também teria algum tipo de habilidade precognitiva como aquelas ostentadas pelos próprios personagens paranormais do dito mangá. 

Este longo texto, escrito em avançada hora, sugere que seu autor, acometido de otite, se encontra fatigado por suas penosas tarefas de docência a distância, sonolento e um tanto delirante.


segunda-feira, 15 de junho de 2020

"Cocô de índio petrificado" - Um emblema

Quando mais um museu brasileiro pega fogo, é oportuno lembrar a mais que emblemática fala do Sr. Jair Messias Bolsonaro reclamando que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional "atrasa obras" por causa de qualquer "cocô de índio petrificado", como se a missão do IPHAN, instituição quase centenária, que teve Mário de Andrade como um de seus fundadores, fosse acelerar obras, e não zelar pelo patrimônio cultural do povo brasileiro.

Em que pese a característica prosa do atual presidente e guardadas as devidas nuances, a fala é fiel retrato do modo como pensamos, enquanto coletividade. 

Há alguns anos lembro de um blogueiro petista que reclamava do atraso de uma obra do apressado "Programa de Aceleração do Crescimento", que andava atrasada devido à presença de uma comunidade de anfíbios ameaçados de extinção no futuro canteiro de obras. Segundo o digníssimo publicista, seria um exagero de regulamentação ambiental - concluía que, entre tantas espécies brasileiras de batráquios, uma a mais ou a menos faria pouca diferença. Por que se preocupar com biodiversidade quando precisamos construir um viaduto?

Assim segue o Brasil: para que se "acelere" o suposto "crescimento", um sapo a mais ou um museu a menos pouca diferença podem fazer.

O povo brasileiro corre sempre, sem saber muito bem para onde ou para quê. Correr, aos trancos e barrancos, tropeços e trambolhões, é o que nos basta. Que se destrua o "cocô de índio" - e até o índio, principalmente o índio - se necessário for.

Seguimos sempre em crescimento acelerado, seja para construir Belo Monte ou para escalar a curva pandêmica. "O Brasil não pode parar".

Como dizia um velho slogan, "esse é um país que vai pra frente" - e pouco se importa com o que deixa para trás...

"Après nous, le déluge" - Luís XIV bem merecia ser brasileiro.

Urnas funerárias amazônicas - mas há quem confunda patrimônio arqueológico com fezes...

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Pandemia na Vila do Chaves

Seu Madruga
Ficou em casa, pedindo delivery da venda na conta da Dona Florinda.

Chiquinha
Fugiu pela janela, mas só pegou catapora.

Seu Barriga
Como tem um coração imenso, suspendeu a cobrança do aluguel durante a quarentena.

Chaves
Internado por COVID-19, mas feliz: no hospital tem desjejum, almoço, lanche, jantar e ceia garantidos, todo dia.

Dona Florinda
Abriu o restaurante, porque a economia não pode parar. Tomou cloroquina e teve um piripaque colateral.

Quico
Em isolamento domiciliar com COVID-19.

Professor Girafales
"Não me passa isso, moleque!"

Dona Clotilde
Ficou em casa com Satanás.

Jaiminho
Evitou a fadiga e chegou atrasado para a pandemia...

Dona Neves
Já saiu da Gripe Espanhola imunizada contra tudo e contra todos, de pandemias a senhorios.

Godinez
"Quarentena? Que quarentena?!"



segunda-feira, 25 de maio de 2020

Povos indígenas, descaso crônico e pandemia

Reflexão da antopóloga Maria Luísa Lucas, que trabalha com a etnia Bora, na Colômbia, e acaba de perder uma amiga indígena na atual pandemia. A reflexão não é pertinente apenas ao contexto colombiano; define bem a situação das populações indígenas em toda parte.

Além das ajudas emergenciais, uma reflexão é necessária.

Essas pessoas não estão morrendo de Covid, elas estão morrendo de anos e anos de falta de assistência de saúde básica. E isso em vários níveis.

Primeiro se vêem obrigadas a viver na cidade, onde não tem a mesma segurança alimentar da aldeia. Não têm trabalho fixo (boa parte dos indígenas em Leticia vive de vender coisas na rua ou como diaristas, pedreiros, etc.).

Têm um sistema de saúde público privatizado nas tais EPS que faz com que as pessoas tenham um acesso muito heterogêneo a coisas básicas como exames e tratamento de diabetes, hipertensão, obesidade, alcoolismo (cada vez mais comum, sem a segurança alimentar)...

E no fim, quando contraem a doença, morrem por não ter leito de hospital, médico, respirador... O mais triste é isso.

É o terceiro indígena que conhecia pessoalmente que morre não só porque a doença é grave, mas principalmente porque não teve assistência médica.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Epitáfios Pandêmicos

ROBERTO WALDEN
1978-2020
Escritor, servidor, pai
Deixa saudades e uma criança órfã
"Apenas uma gripezinha"

NEYMAR DE JESUS
1935-2020
Peladeiro aposentado;
Histórico de atleta

IRENE MARQUES
1950-2020
Avó, eleitora
"Resfriadinho"

CLOROQUINA NEVES
1964-2020
Uma vida de fantasias
Deixa admiradores

HELENA REIS
1972-2020
Enfemeira, esposa e mãe
"E daí?"

EDSON TOMAZ
1985-2020
Apenas mais um desempregado
Não era coveiro

SÉRGIO MORAIS
1968-2020
Magistrado
Caiu atirando

Inspirado por e dedicado ao Sr. R.W.