O assunto vem sendo veiculado em matérias mal redigidas, confusas e sensacionalistas, típicas de jornalismo "científico". Fui pesquisar melhor sobre o assunto, inclusive no site da própria universidade.
Pelo que pude entender e inferir, como leigo curioso, na verdade teria algo a ver com o Teorema de Göddel (que vem recebendo tímidas e ambíguas corroborações empíricas desde os anos 90) - basicamente supondo que o que convencionamos chamar "tempo" seria reversível para partículas subatômicas (como um fenômeno natural e frequente, acontecendo o tempo inteiro).
A notícia parece remeter também a uma discussão recente no campo da cosmologia. A astrofísica sempre trabalhou com a premissa de que o universo seria homogêneo e isotrópico, mas hipóteses e dados recentes sugerem que não só essa premissa é arbitrária como é possível, quiçá provável, que o universo seja heterogêneo e anisotrópico e que a física tal qual a conhecemos nesse cantinho do cosmos talvez não se aplique a todo o universo observável - com muita ênfase na complexa noção de "universo observável", que remete tanto às capacidades quanto às limitações das tecnologias de pesquisa atualmente disponíveis.
Alguns desses paradoxos supostamente obrigariam a uma profunda revisão do corrente modelo-padrão da física e dos dados empíricos coletados ao longo do século XX. O "cenário Big Bang", por sinal, está em vias de cair. Em suma, estamos (ou talvez não) às portas de uma nova revolução copernicana - o que é fascinante.
As menções a "universos paralelos" só figuram na imprensa leiga, remetendo sempre a uma breve e confusa reportagem de 8 de abril do magazine New Scientist (semelhante à brasileira Superinteressante). Ao que tudo indica, o assunto começou a reverberar do nada na imprensa indiana nos últimos dias e viralizou mundo afora.
De concreto, só há sinais de rádio inesperados, que podem ser indícios de um tipo de partículas nunca detectado antes - o que já é, por si, suficientemente instigante. Daí a universos paralelos vai um abismo.
Me lembra o próprio Edwin Hubble, que nunca endossou a teoria do Big Bang, embora originalmente fundamentada em observações dele. Cauteloso, ele sempre enfatizou: "a única coisa que detectei foram desvios para o vermelho".
A pesquisa científica de ponta hoje envolve grandes projetos, com experimentos caríssimos, grandes equipes transdisciplinares e, por vezes, muitos anos de análise meticulosa de dados coletados em um único experimento - mas para o grande público ainda prevalece a imagem do gênio solitário gritando "Eureka!" em seu laboratório
A grande verdade é que somos formiguinhas tentando copreender coisas que nos ultrapassam imensamente.
Para piorar, temos uma educação científica pífia, com pouca ênfase nos complexos aspectos metodológicos da pesquisa, um público ávido por sensacionalismo e mal preparado para digerir esse tipo de informação e uma cobertura jornalística igualmente rasteira.
Não espanta que em plena pandemia se veja gente tão mal informada, acreditando em mil boatos e panaceias.
Entre outras coisas, o COVID-19 veio nos lembrar que Educação científica e jornalismo de qualidade não são luxos, mas questões, literalmente, de vida ou morte.
Finalizo citando a milenar sabedoria do Tao Te Ching:
"Quanto mais falamos no universo,
Menos o compreendemos.
O melhor é auscultá-lo em silêncio".
Ou ainda, como teria dito Sócrates:
"Tudo que sei é que nada sei".
Balão empregado no experimento ANITA. |
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