É bem aquele "pragmatismo pedestre" que Sérgio Buarque de Holanda tanto criticava no ethos lusitano. Existe uma piada francesa muito eloquente: "Qual é o maior zoológico da Espanha? Portugal". Sad, but almost true. Saramago tinha alguma razão ao falar em sua "jangada de pedra".
O fato de que outras línguas europeias já tinham dicionários e gramáticas muito bem estruturados no século XV e a língua portuguesa só teve seu primeiro "Vocabulário" (não dicionário) publicado no XVIII por um filho de franceses diz muito sobre nossas raízes. Da mesma maneira, a reforma universitária de Pombal já era obsoleta quando foi realizada. Sempre sob as bênçãos da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana e do mais que infame Tribunal do Santo Ofício.
No fundo, é o tal "Arcaísmo como Projeto" de que falam João Fragoso e Manolo Florentino num estudo clássico sobre a economia colonial. Em quase todos os aspectos, da educação à ciência, passando pela economia, por tudo, para o bem e para o mal, somos dignos herdeiros da brava gente lusitana, com sua estreiteza de vistas e horizontes - da Lisboa de Eça de Queiroz ao Rio de Lima Barreto, passando pelos sertões de Euclides da Cunha.
Ao Brasil cabem as honras duvidosas de ter sido o maior canavial do mundo, o maior traficante negreiro, a maior mina de ouro, o maior cafezal, o maior seringal, o maior pasto... Êxitos e "êxitos" sempre efêmeros que decantam laboriosamente nossa posição na retaguarda planetária. Agora, ao que tudo indica, somos sérios candidatos a vencer o campeonato pandêmico. É provavelmente por escárnio que nossa bandeira declama ao mundo "Ordem e Progresso" - e até esse pífio slogan importamos da mais obtusa intelectualidade francesa.
Às vezes parece que somos vítimas de uma multissecular conspiração pela ignorância...
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Capa do excelente, embora limitado, "Vocabulário" de Rafael Bluteau. |
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