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domingo, 31 de julho de 2022

Da genealogia do pensamento

Dedicado aos amigos Tiago Ribeiro e Vinicius Borges, interlocutores de parte dessas inquietações


O exercício profundo da autocrítica é algo trabalhoso. 


Em primeiro lugar, devo conhecer minhas próprias ideias, o modo como elas se articulam e, tarefa sempre complicada, identificar suas contradições e paradoxos. 


Em outro nível, devo buscar os contextos, épocas e lugares em que essas ideias foram engendradas, e examinar as distâncias entre a realidade que vivo e as realidades em que as ideias que ora me habitam foram pensadas. 


Por fim, e talvez mais complicado, preciso entender de que maneira essas ideias chegaram a mim, através de que caminhos e descaminhos elas palmilharam a distância entre o presente que vivo e o passado em que emergiram, em um longo processo em que foram interpretadas, filtradas, traduzidas e modificadas por uma miríade de intermediários. 


Tais são as condições mediante as quais preciso examinar a mim mesmo, em sentido amplo e profundo. Através dessas operações intelectuais posso, talvez, chegar a superar as contradições e paradoxos que percebo em mim...

sábado, 30 de julho de 2022

Picaresco paradoxo brasileiro

A triste verdade é que estamos vivendo uma grande farsa eleitoral, no sentido teatral do termo. Um processo eleitoral  absolutamente esvaziado de discussão democrática pelo medo de que Bolsonaro acabe com a democracia. Seria cômico se não fosse trágico.

domingo, 17 de julho de 2022

As redes sociais estão deformando você?

Deixei de usar assiduamente as ditas "redes sociais" em janeiro de 2019; nos últimos três anos só as tenho usado esporadicamente, com finalidades muito específicas. 

Constato que a decisão me fez um bem imenso, sob muitos aspectos. Embora ainda passe mais tempo do que gostaria navegando na Internet, esse tempo se tornou muito mais fértil. Ocupo meu tempo com temas que realmente me interessam e evito as polêmicas descartáveis que mantém as redes sociais em perpétua ebulição. 

Venho percebendo que pessoas que passam muito tempo em redes sociais tendem a se tornar caricaturas de si mesmas. Costumam se tornar monomaníacas, ou talvez "oligomaníacas", excessivamente engajadas em meia dúzia de temas sobre as quais regurgitam incessantes e repetitivas catilinárias. Observo tal tendência em pessoas à minha volta e, retrospectivamente, percebo que era exatamente o tipo de comportamento ao qual eu mesmo me via condicionado.

A arquitetura das redes sociais tende a expor seus usuários a cada vez mais do mesmo, não apenas em função do modo como seus algoritmos operam, mas também pelas dinâmicas propriamente sociais que engendram. 

O excesso de comunicação propiciado pelas redes favorece a emergência de afinidades e antagonismos doentios, multiplicando interações onde os envolvidos, dia a dia, semana a semana, vão cultivando suas neuroses. Os acalorados debates com antagonistas recorrentes fazem com que muitas pessoas embarquem em verdadeiras cruzadas, ao mesmo tempo que desenvolvem uma relação algo patológica com as pessoas com cujas opiniões se afinizam, reforçando comportamentos obsessivos e, em alguma medida, compulsivos.

Para tanto contribuem também outros elementos presentes em muitos sites, blogs e serviços de Internet, como as estratégias de "link building" e SEO ("otimização para mecanismos de busca"), entre outros, sempre estimulando os usuários a uma inquietante exposição a mais do mesmo. Tendo a crer que, para muitas pessoas, isso proporcione uma quixotesca distorção da realidade, transformando moinhos de vento em gigantes - a exposição constante a determinados temas faz com que pareçam muito mais relevantes e prementes do que realmente são. 

Outro elemento que agrava essa situação é que, via de regra, esses temas obsidentes costumam estar associados a medos e receios, induzindo a variados graus de paranoia - em certo sentido, adeptos de teorias extravagantes e conspiratórias são apenas casos extremos de uma mesma patologia coletiva.

Convém ainda lembrar que essas atitudes tendem a extrapolar e extravasar para fora das redes sociais, afetando inúmeras dimensões do convívio cotidiano. Na menos pior das hipóteses, tais comportamentos se tornam uma amolação para as pessoas à volta daqueles que se deixam enredar nessas verdadeiras armadilhas emocionais e cognitivas. Nos piores casos, emergem desavenças desnecessárias e até rupturas com conhecidos, amigos e familiares. 

Com tudo isso, não quero convencer ninguém a abandonar as redes sociais; empregadas com moderação e consciência, elas podem ser úteis, divertidas e saudáveis. Fica aqui apenas o convite à reflexão de cada um sobre o modo com que lida com essas tecnologias e de que maneira se vê afetado por elas. 


 



quarta-feira, 13 de julho de 2022

Quinta da Boa Vista - Le 13 juillet 2022

No Rio, não há Bastilha a derrubar, nem Tulherias a incendiar; tudo despenca e queima sem necessidade de jacobinos nem communards.

A antiga morada imperial jaz engaiolada; Dom Pedro II espia nossos tristes tempos por cima da cerca. Afiadas concertinas lembram a selvageria da megalópole. Dom João VI temeria as hordas cariocas mais que as hostes napoleônicas?





Em uma escada menos frequentada, moscas assediam a putrefata carcaça de um gato. Balões de hélio flutuam emaranhados entre galhos.






Camadas de tempo se acumulam. Um motor a diesel ronca sobre o gramado imperial. Raízes centenárias se derramam pelos muros do antigo jardim onde passeava a Princesa Isabel. Um velho poste de madeira, desprovido de cabos, permanece altivo, testemunha de progressos obsoletos. Uma velha planta parasita viceja sobre um tronco ainda mais antigo. O oco de uma árvore venerável se vê usado como lixeira. Um bucólico nicho arquitetado para a realeza se transforma em santuário e altar para alguma entidade trazida de além-mar, contrabandeada de plagas africanas no ventre sórdido dos navios negreiros.








Os seres humanos se apequenam e amesquinham em meio à paisagem. Gloriosas palmeiras se elevam aos céus, lembrando a efemeridade de nossas vidas e obras. Tudo se transforma, para além de nossos planos e intenções. Sinuosos caminhos imitam o tortuoso fluir da vida. Outro felino, vivo, caminha preguiçosamente sobre a grama, indiferente às inquietações do bicho-homem.




















sábado, 9 de julho de 2022

Hibernação - Comunicado aos leitores

Comunico à meia dúzia de diletos leitores que este blog entrará em período de hibernação. Embora tenha mais de 150 posts em rascunho, nos próximos meses pretendo me dedicar a outras atividades e projetos (incluindo um blog irmão, sobre História do Brasil, dedicado ao público francófono). Deste modo, as postagens semanais regulares permanecerão suspensas até segunda ordem. Agradeço aos poucos e caríssimos leitores pela compreensão! À bientôt!




quarta-feira, 6 de julho de 2022

Erros interessantes

Pessoas inteligentes cometem erros interessantes. Alguma criatividade, coragem e grandeza de alma são necessários para cometer erros novos, que não sejam rotineiros e triviais como a maioria daqueles que cometemos, mais por acomodação e covardia, que por qualquer outra razão. Há algo de mesquinho nesse apego aos erros com que já nos acostumamos e nos sentimos confortáveis - tão confortáveis a ponto de tomarmos tais erros por acertos ou mesmo como parte da ordem natural das coisas.