Texto de autoria do colega e amigo Vinicius Borges, professor de Geografia na Escola Municipal Quintino Bocaiúva e no Colégio Santo Alberto Magno
Sou professor da rede municipal do Rio de Janeiro há 6 anos. Desde então, iniciei uma grande história de amor com a escola onde leciono. Lá, com todos os problemas, com todas as deficiências estruturais e conceituais tão características à rede, consegui estabelecer uma prática cotidiana onde finalmente pude dar vasão a muitos de meus ideais pedagógicos em relação ao ensino da geografia nas escolas públicas.
Desde que ali cheguei, tive por princípio básico romper com os parâmetros consagrados e estabelecidos como hegemônicos em sala de aula. Tirar os alunos da zona de segurança, desenvolvendo neles a capacidade crítica e autoral, estabelecidas a partir da percepção da geografia como algo vivo e essencial para que pudessem melhor entender o mundo em que vivemos, tornou-se meu norte. Modéstia à parte, com muitos sucessos e poucos fracassos, tenho muito orgulho do trabalho que construí ao longo desse tempo.
Entretanto, muita coisa mudou nesses últimos 6 anos. A cada ano que se inicia, maiores e mais numerosos são os obstáculos colocados no caminho dos professores que buscam uma prática docente realmente libertadora.
Seja por meio de burocracias maravilhosamente complexas em suas inutilidades, seja por meio de mecanismos mirabolantes de avaliação externa, o que temos é o agravamento de um contexto onde a mecanização e deslegitimação da prática docente, alijando-a de sua face essencialmente intelectual, tem sido utilizada como clara e evidente estratégia de controle e imobilização.
Soma-se a isto a vergonhosa continuidade da aprovação automática - mascarada por índices, normas e conceitos absolutamente vazios de significados -, e o que temos são alunos cada vez mais apáticos e desmotivados, formando uma verdadeira legião de acomodados, completamente alienados da situação a que estão submetidos.
São por questões tão sérias e urgentes como essas que faço esse apelo a todos os colegas da rede municipal: não negligenciem ao chamado à greve. A hora urge, e outro momento tão propício para que nossas tão importantes e legítimas reivindicações sejam atendidas talvez não se apresente tão cedo.
Ainda que as divergências e desconfianças em relação ao nosso sindicato sejam grandes, ainda que o descrédito e o cansaço torne tudo mais difícil, existe algo maior em jogo: o próprio sentido de nossa profissão. Está mais do que na hora de revertermos esse jogo, tomando as rédeas da situação, e fazendo valer nossa força e relevância dentro de nossa sociedade.
Conto com todos nessa jornada...
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