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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Ser povo

O lixeiro é povo. A médica é povo. O professor é povo. O negro é povo. O gay é povo. O cientista é povo. A diarista é povo. O intelectual é povo. O motorista é povo. A mulher é povo. O bancário é povo. A advogada é povo. O homem é povo. O garçom é povo. A criança é povo. O índio é povo. A artista é povo. O pescador é povo. O branco é povo. A vendedora é povo. O agricultor é povo...

Respiramos o mesmo ar. Bebemos a mesma água. Andamos nas mesmas ruas. Vemos o mesmo sol. Estamos todos no mesmo barco.

Não é o seu grau de instrução. Não é o seu salário. Não é o seu gênero. Não é o seu poder aquisitivo. Não é a sua religião. Ser povo é muito mais.

Ser povo é viver em igualdade. Ser povo é lutar pelos direitos de todos. Ser povo é buscar liberdade. Ser povo é pensar coletivamente. Ser povo é respirar fraternidade. Ser povo é "amar ao próximo como a si mesmo".

Eu sou povo. Você é povo. Ela é povo. Ele é povo. Nós somos povo!

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Kant e os fantasmas

Extraído de Sonhos de um vidente elucidados pelos sonhos da Metafísica (1776), de Immanuel Kant:

"A Filosofia, que não receia comprometer-se, examinando toda a sorte de questões fúteis, fica muitas vezes perplexa quando topa em certos fatos de que não se poderia duvidar impunemente e que não poderia crer sem se tornar ridícula. É o que acontece com as histórias de almas do outro mundo. Com efeito, não há censura que a Filosofia sinta mais do que a da credulidade e apego às superstições vulgares. Os que se dão facilmente o nome e o realce de sábios zombam de tudo aquilo que, inexplicável tanto para o sábio como para o ignorante, coloca-os ambos no mesmo plano. É por isso que as histórias de fantasmas são sempre ouvidas na intimidade e denegadas em público. Pode-se ter certeza de que jamais uma academia de ciências jamais escolherá tal assunto para um concurso; não por estar cada um dos membros dessa academia persuadido da futilidade e da mentira dessas narrativas, mas porque a lei da prudência põe sábios limites ao exame dessas questões. As histórias de fantasmas sempre encontrarão crentes secretos e serão sempre alvo, em público, duma incredulidade de bom tom.

Quanto a mim, a ignorância em que estou da maneira por que o espírito humano entra neste mundo e dele sai, impede-me de negar a verdade das diversas narrações que por aí são contadas".

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Mistérios do "nós"

"Nós" - curioso pronome.

Para existir, precisa que ao menos um "eu", um "tu" ou um "ele" se reúnam. No entanto, é um pronome "egocentrado" - não existe "nós" sem que um "eu" o enuncie, a partir de sua relação com os outros seres componentes do "nós".

Por outro lado, o "nós" pressupõe uma experiência partilhada entre o enunciador e outros seres (humanos ou não). Essa experiência pode ser efêmera ou duradoura. Posso dizer: "nós aguardávamos o médico" - eu e outros pacientes na sala de espera, que nunca nos vimos nem tornaremos a ver, mas partilhamos essa breve experiência. Por outro lado, posso dizer: "nós fomos ao cinema" - "eu" e minha esposa, casados há oito anos.

Por vezes, a experiência partilhada engendra identidades e solidariedades: "nós" que torcemos para o mesmo clube de futebol, "nós" que nascemos na mesma cidade, "nós" que estudamos na mesma escola, "nós" que oramos na mesma igreja, "nós" que temos a mesma opinião... Nesse sentido, o "nós" se torna uma força poderosa, capaz de mobilizar esforços e vontades. Mas também pode ser usado como objeto de insidiosas manipulações, por aqueles que manuseiam a retórica do "nós" apenas para atingir os interesses do "eu".

Também vale notar que nem sempre essa experiência partilhada supõe simultaneidade. "Eu" e "Ivo" estudamos no mesmo colégio; "Ivo" foi aluno 50 anos antes de mim - ainda assim, "nós" estudamos nas mesma escola. Desse modo, o "nós" unifica seres separados no tempo ou no espaço. Também não é necessário pertencer à mesma espécie: "nós" atravessamos a rua - "eu" e meu cãozinho. Muitas vezes o "nós" se configura através de antagonismos: "nós" brigamos, "nós" discordamos - paradoxais experiências de oposição compartilhada.

Às vezes o "nós" é evidente; às vezes precisa ser descoberto. Mas no fundo, não seria a vida nesse mundo um perpétuo reinventar do "eu" no "nós" - e vice-versa?