Newsletter

Sua assinatura não pôde ser validada.
Você fez sua assinatura com sucesso.

Oficina de Clio - Newsletter

Inscreva-se na newsletter para receber em seu e-mail as novidades da Oficina de Clio!

Nous utilisons Sendinblue en tant que plateforme marketing. En soumettant ce formulaire, vous reconnaissez que les informations que vous allez fournir seront transmises à Sendinblue en sa qualité de processeur de données; et ce conformément à ses conditions générales d'utilisation.

sábado, 27 de abril de 2013

Leituras - "Monstro de Deus", de David Quammen

Depois de uma qualificação e dois artigos, de volta ao velho blog!

Nesse meio tempo, tive oportunidade de ler alguns livros maravilhosos em minhas horas vagas, dentre os quais o interessantíssimo Monstro de Deus, cujo esclarecedor subtítulo em Português é "Feras predadoras: história, ciência e mito". A obra constitui um excelente exemplo do quanto um bom trabalho de divulgação científica, escorado em pesquisa sólida e questionamentos criativos pode oferecer perspectivas intelectuais extremamente instigantes.

David Quammen elabora uma interessante abordagem interdisciplinar, unindo ciências humanas e biológicas para discutir as relações entre as culturas humanas e os grandes predadores ou, como os denomina, os "predadores-alfa", animais capazes de atacar e devorar sozinhos um ser humano, como leões, ursos, crocodilos, tigres, entre outros.

Sua análise explora a temática em diversos sentidos, por exemplo, discutindo as relações entre mitologia e ecologia, explorando as relações entre as feras mitológicas e as interações entre os homens e seus ecossistemas em épocas arcaicas. Para tanto, recorre a textos como a epopeia de Gilgamesh, o Nibelungenlied, a saga de Beowulf ou a Bíblia. Como bem observa Quammen, Humbaba ou Leviatã eram mais que monstros - eram a personificação da fragilidade humana ante uma natureza poderosa e incontrolável, povoada por grandes animais realmente capazes de reduzir indivíduos à condição de refeição... Como sintetiza o autor, "uma morte no trânsito é um infortúnio banal que não choca a consciência pública com a mesma força que um urso homicida, devorador de carne. Uma coisa é estar morto. Outra coisa é transformar-se em carne".

Um dos pontos altos do livro é a discussão do artigo Being Prey ("Ser presa"), da filósofa australiana Val Plumwood, sobrevivente de um ataque de crocodilo em sua juventude:

"'Se a morte ordinária é um horror, a morte nas mandíbulas de um crocodilo é o horror supremo', testemunha Plumwood. Seu horror mais profundo deriva daquelas 'quebras de fronteiras proibidas' que combinam 'decomposição do corpo da vítima com a reviravolta da vitória sobre a natureza e a materialidade que a morte cristã representa. A predação de crocodilos sobre humanos ameaça a visão dualista do domínio  humano sobre o planeta no qual somos predadores mas não podemos nunca ser presas. Podemos consumir diariamente outros animais aos bilhões, mas nós mesmos não podemos ser comida para vermes e certamente não carne para crocodilos'".

De fato, tornar-se presa é a antítese radical de nossas antropocêntricas ilusões sobre o cosmo - e nosso lugar no cosmo. É assumir um papel que há muito nos recusamos a representar, especialmente em nossa sociedade hedonista, que procura inutilmente expulsar da vida as dimensões de sofrimento. É lembrar humildemente que não somos o centro do universo.

Quammen explora magistralmente as ramificações políticas, econômicas e sociais dessa questão em vários contextos históricos, formando um complexo quadro sobre a importância dos animais em nossas vidas e em nosso imaginário. Um livro indispensável para todos aqueles que se interessam pela ecologia e por nossas relações com o mundo natural.

sábado, 13 de abril de 2013

O robô político

"Quando observamos algum político de segunda na tribuna repetindo de modo mecânico os chavões familiares [...] temos muitas vezes a curiosa sensação de que não estamos vendo um ser humano, mas algum tipo de simulacro [...] E isso não é de forma alguma uma fantasia: o orador que usa esse tipo de fraseologia já avançou muito no sentido de se transformar numa máquina. Os ruídos apropriados saem de sua laringe, mas seu cérebro não está envolvido como estaria se ele escolhesse as palavras por si mesmo. Se o discurso que faz é do tipo que está acostumado a repetir sem cessar, ele talvez quase não tenha consciência do que diz, como acontece quando repetimos respostas numa igreja".

George Orwell