Cara Sr.ª Secretária,
no gozo de meus direitos como cidadão, servidor público e professor da rede municipal, tomo a iniciativa de escrever-lhe para discutir algumas questões que me parecem relevantes quanto à gestão (democrática) de nossa rede de ensino.
Antes de tudo, quero deixar claro: não a tenho por inimiga, apesar de minhas profundas discordâncias quanto à maior parte das medidas administrativas que vem implementando desde que assumiu o cargo em 2009. Pelo contrário, não creio que a verdadeira democracia se faça através de inimizades, mas do diálogo sincero, do mútuo respeito e de acordos honestos entre todas as partes interessadas.
Por sinal, gosto de ser justo em todas as minhas relações, e devo dizer que sempre fui bem tratado pela senhora em nossos diálogos pelo Twitter, assim como fui muito bem atendido por uma de suas assessoras quando precisei resolver um problema administrativo de ordem pessoal, referente a uma licença.
Além disso, quando desempenhei a função de coordenador da elaboração dos cadernos de apoio de História, durante apenas um bimestre, tive a impressão de que a senhora tem boas intenções quanto à educação municipal. Não tivemos contato pessoal durante o período em questão, mas era essa imagem que me transmitiam outros colegas no nível central. Contudo, boas intenções não são suficientes para a gestão democrática da coisa pública - é necessário diálogo multilateral para alcançar a melhor governança possível, articulando saberes, opiniões e valores de todos os profissionais envolvidos nesse processo. Em minha humilde opinião, não é o que vem acontecendo em nossa rede: as decisões partem de cima, unilateralmente, dispensando nossa participação no processo deliberativo.
Todos nós, professores da rede municipal do Rio de Janeiro, desejamos participar desse processo.
Mas quem somos nós?
Parece-me necessário apresentar melhor o corpo docente de nossa secretaria. Por vezes, tenho a impressão de que boa parte dos servidores que ocupam cargos de chefia em nossa rede - incluindo a senhora - não têm uma ideia correta da composição de nosso magistério público. Me refiro particularmente ao altíssimo nível de capacitação dos professores do município do Rio, que parece passar ignorado nesses altos escalões administrativos.
Permita-me oferecer uma breve amostra desse corpo docente. Começo por mim mesmo que, por razões óbvias, conheço muito bem.
Sou professor da disciplina História na Escola Municipal Quintino Bocaiúva e na Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá; durante quatro anos também lecionei na Universidade Castelo Branco. Sou mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense e dentro de poucos meses serei doutor pelo mesmo programa (um dos melhores do Brasil e da América Latina), onde sou ligado à Companhia das Índias, núcleo de pesquisa de excelência. Também fiz estágio como pesquisador convidado no Centre Roland Mousnier, da Universidade de Paris IV - Sorbonne.
Desde que me graduei, em 2006, venho desenvolvendo uma produção acadêmica razoável, tendo publicações em periódicos acadêmicos ou de divulgação científica, como a Revista de História da Biblioteca Nacional - aliás, meu artigo "Guerra santa na Guanabara" (publicado neste periódico em 2009) foi selecionado pela assessoria de imprensa da Presidência da República para figurar no site Portal Brasil, dedicado à divulgação nacional e internacional da imagem de nosso país. Além disso, tenho três livros publicados - um dos quais premiado - como a senhora poderá verificar neste blog.
Deixando de lado esses títulos, posso dizer que sou um professor dedicado, procurando sempre trabalhar com meus alunos de forma criativa e significativa, buscando proporcionar-lhes as melhores oportunidades possíveis para o desenvolvimento de sua consciência crítica, de sua ética pessoal e de comprometimento com o bem-estar da sociedade.
Assim como eu, temos muitos outros profissionais altamente capacitados em nossa rede. Apenas em minha escola, posso lhe falar da Profª Rosiane Dourado, de Artes Visuais, mestra em História da Arte pela PUC-RJ, onde também ministra cursos de extensão. A Profª Rosiane demonstra grande sensibilidade artística, mobilizando nossos alunos para belíssimos projetos, como a produção de animações; o recente "Mentes que voam" se encontra atualmente em exibição no festival Anima Mundi.
Poderia lhe falar ainda do Prof. Tiago Ribeiro, de Língua Portuguesa, doutor em Linguística pela PUC-RJ, onde leciona em cursos de pós-graduação. Ele desenvolve sofisticadas pesquisas em torno dos usos da linguagem em ambientes virtuais. Também tem sido um incansável inovador nos usos criativos da tecnologia em sala de aula, produzindo ricos trabalhos com nossos alunos.
Ou, quem sabe, o Prof. Vinicius Borges, de Geografia, que também leciona no Colégio Santo Alberto Magno, escola particular de elite. Como sempre afirma, ele faz questão de oferecer ensino da mesma qualidade a todos seus alunos, não importando a classe social dos mesmos ou a diferença de remuneração entre os dois empregos. Pelo contrário, incentiva sempre seus estudantes a pensar criticamente o espaço geográfico em suas variadas articulações geopolíticas, através de estimulantes atividades, mobilizando corações e mentes para o conhecimento da Geografia.
Esses são apenas alguns exemplos de nossas "pratas da casa". Poderia citar muitos, muitos, muitos outros excelentes profissionais que conheço, tanto na Escola Quintino quanto em outras; não o faço simplesmente porque tão extensa enumeração tornar-se-ia logo cansativa...
Como creio ter demonstrado, somos profissionais capazes e comprometidos com a educação pública. Queremos ter voz ativa nos processos deliberativos relativos a nossa rede. Somos intelectuais e, mais que isso, somos os verdadeiros especialistas em ensino fundamental, realidade com a qual lidamos cotidianamente. A voz das salas de aula deve contar tanto - ou mais - quanto a voz dos gabinetes.
Em minhas próximas cartas pretendo desenvolver melhor inúmeras temáticas aqui esboçadas.
Cordialmente,
Prof. Luiz F. F. Tavares
Nenhum comentário:
Postar um comentário