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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Batman, a Revolução Francesa e o preço da violência

Quando vi "The Dark Knight Rises" pela primeira vez fiquei muito decepcionado com o filme, que não chegou sequer aos pés dos dois anteriores. Há duas semanas resolvi assisti-lo novamente, mas dessa vez o filme me sensibilizou de outra forma. O motivo? Nesse meio tempo visitei em Paris a "Conciergerie" - prisão onde ficaram os presos políticos da Revolução Francesa.

Numa das salas da Conciergerie é possível consultar os nomes e categoria de todos aqueles que foram condenados à guilhotina durante a Revolução Francesa e estiveram presos ali. O que mais me impressionou foi a multidão de condenados vindos das camadas mais baixas da sociedade, artesãos e camponeses. Apenas uma ínfima parte dos guilhotinados pertencia à aristocracia. A Revolução, feita em nome "dos pobres", como gostava de dizer Robespierre, matou principalmente esses mesmos pobres...

Em nome da segurança da República, a mesma República se tornava insegura para cada um de seus cidadãos, vulneráveis às denúncias maliciosas, aos processos sumários e à paranóia generalizada. No fim, como se sabe, os próprios líderes se tornaram vítimas da fúria que desencadearam.

Fiquei pensando sobre como adotar o caminho da violência para a mudança social pode ser algo realmente trágico. A tormenta logo se torna incontrolável, consumindo a tudo e todos, numa voragem insana. É justamente esse clima de pesadelo que a "revolução" conduzida em Gotham City por Bane no último filme de Batman consegue evocar. As falas do personagem ecoam justamente certo moralismo falacioso contra a corrupção que fazem pensar o quanto os discursos políticos banalizadores são perigosos. Por sinal, segundo o diretor Chris Nolan, o roteiro foi originalmente inspirado em "Um conto de duas cidades", de Charles Dicken, narrativa passada na Revolução Francesa.

Creio que o maior desafio para o nosso século será a busca de meios pacíficos para superar o marasmo político em que nos encontramos. O preço da violência é muito alto, por mais sombria que seja a situação.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O gigante de Luís XIV

Depois de um mês sem postar, eis-nos de volta à pátria-mãe gentil! As últimas semanas foram tão apertadas devido à conclusão das pesquisas em Paris que não tive tempo para postar. Nos próximos meses tentarei dar conta de todos os posts que ainda pretendo escrever...

Nesse último mês fomos finalmente visitar o palácio de Versailles. Embora o palácio em si seja fantástico, o que há de realmente especial são seus jardins. É interessantíssima a concepção dos jardins divididos em inúmeros "bosquets" planejados para usos variados e com temáticas próprias. De todos, o que me causou mais viva impressão foi o "bosquet de Encelade", dedicado à figura mitológica de Enceladus.

Como vim a descobrir, Enceladus é um dos gigantes que participou da Gigantomaquia, combate legendário entre os deuses gregos e os gigantes criados por Gea - fertilizada pelo sangue de Cronos mutilado - para vingar a expulsão dos titãs.

A derrota de Enceladus possui inúmeras versões, sendo a mais difundida a de que foi atravessado pela lança de Palas Atena. O detalhe comum a todas as versões é que ao fim dos combates Enceladus foi soterrado sob as pedras que formam o Etna; diziam que as erupções do vulcão eram provocadas pela respiração do gigante.

A escultura em questão mostra grande eloquência nos gestos do gigante parcialmente soterrado, erguendo uma pedra para atirar contra os deuses, num último ato de insolência. Não é difícil entender de que modo a estátua se enquadra no programa mitológico de Versailles, centrado na celebração de Apolo, confundido com o Rei Sol. De fato, Versailles deve muito à Fronda, revolta conduzida pela alta nobreza francesa ainda durante a menoridade de Luís XIV, contra a crescente centralização monárquica.

Todavia, me parece ainda mais curioso pensar no "uso prático" da escultura, ou melhor, no modo como foi experimentada pela corte francesa ao longo da Idade Moderna, até a Revolução. Para os nobres que tinham a oportunidade de transitar pelos jardins de Versailles a imagem certamente devia ter algum impacto, sendo um constante lembrete do poder da monarquia e do destino daqueles que ousavam se erguer contra a coroa. Nesse sentido, mais que mera alegoria da Fronda, o gigante é também a imagem idealizada de todo e qualquer movimento contrário à autoridade real - provavelmente, quanto mais afastados cronologicamente da Fronda propriamente dita, mais os nobres podiam interpretar a estátua sob esse caráter genérico, tornando-se menos referência ao passado concreto que às possibilidades do presente.

Ironicamente, contudo, o gigante de chumbo mostrava ainda seu potencial dominado, exalando uma coluna d`água de mais de vinte metros de altura, assim como o Enceladus mitológico se manifestava nas erupções do Etna. E de fato, em 14 de julho de 1789, o gigante se ergueu de sua prisão...