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quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Amostra da decadência educacional brasileira

o pele era o manho gogado de futebol do mudo o pele e o gogado que feis mas gol do mudo que teve mas bola de ouro do mudo que teve copa do mudo que e o manho gogado do universo e o pele gogava do santos foi o manho gogado do santo e do futebol a istora do pele e muito triste ele foi a istora mas triste do futebol o pele gogava muto ben bola ele era a lheda do futebol e ele gogava de caso na rua de baro dele ele gogava de caso com os amigos ali na rua deles ele amisava

"Seria melhor ver o filme do Pelé"...



segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

"Essa cidade acabou"

Curioso relato de um amigo retratando um bucólico momento do cotidiano carioca

Acabo de passar por uma fascinante experiência almoçando em um restaurante  numa mesa ao lado de um casal de policiais, aparentemente de folga, assistindo e comentando (em voz média) o noticiário do RJTV. 

Durante a reportagem sobre uma onda de assaltos em Copacabana, a policial começou reclamando que agora vai ter que ir todo mundo pra Copacabana "só por conta desses trombadinhas mortos de fome que não conseguem ficar sem roubar pra cheirar e fumar uma porra de um dia."  - sendo prontamente apoiada pelo parceiro, que faz o importante complemento:  "mas vai a gente endurecer pra esses merdas pra ver o que acontece? É só sumir 2 ou 3 desses cracudos que no dia seguinte tem ONG fazendo protesto no Jornal Nacional." Talvez emocionada com o apoio do conje, a policial arremata que "Resolver isso aí é fácil, mas se acabar a bandidagem vai ter muito playboy filho de artista sem emprego". 

As coisas se acalmam, voltam a comer mais tranquilamente, mas aí começa uma reportagem mostrando diversos PMs distraídos ao celular em turnos de patrulha. Aí já foi demais... Ela, indignada, reclama: "Agora é o que faltava... Querem que a gente fique de prontidão por cinco, seis horas, sem fazer nada!! Esse pessoal acha mesmo que a gente tem obrigação de resolver os problemas dessa merda de cidade?!" Fala forte, devidamente complementada pelo amado: "O problema é que a gente não pode dar um apavoro nesses jornalistazinhos de merda. O endereço deles todo comandante tem, mas ninguém tem coragem pra dar a ordem. Por isso que a gente é desrespeitado. Vê se nos EUA alguém enquadra policial desse jeito?!" 

Já se preparando pra irem embora, a conja solta um "Essa cidade acabou. Tem mais jeito, não. Aqui, bandido é herói e policial é vilão."

Toda distopia é a utopia de alguém...


sábado, 4 de novembro de 2023

A nauseante espiral do ódio

Difícil dizer o que diferencia esse tipo de gente de figuras como Putin. Como dizem os japoneses, "mosca faz cocô de mosca; elefante faz cocô de elefante" - e haja mosca desarranjada por aí...


quinta-feira, 19 de outubro de 2023

A reputação e o caráter

Quem tenta arrastar outras pessoas na lama quase sempre acaba se enlameando junto. É preferível ter enodoada a reputação perante o mundo que enodoado o caráter perante si mesmo: o auto-respeito vale muito mais que a aprovação alheia, sempre caprichosa e volúvel, capaz de tirar amanhã o que concedeu hoje - tarde ou cedo, os louros fenecem, esquecidos, quando não pisoteados. Por outro lado, ainda que enlameado, um diamante é sempre um diamante.

terça-feira, 3 de outubro de 2023

Guarani Taradão - Literatura pelo método confuso

-O Guarani era taradão, né, Professor?

-O Guarani...?!

-O professor de Literatura é que disse; o Guarani só pensava em sexo!

- Será que você não está falando do Macunaíma, de Mário de Andrade?

-Ah, é! Acho que era esse aí...

Errou o índio, mas pelo menos estava atento à aula de Literatura...

"Ceci n'est pas Peri".





sábado, 30 de setembro de 2023

Brasil - Distopia da distopia

Ficções distópicas costumam imaginar regimes políticos opressivos onde a alta tecnologia é posta a serviço da vigilância da população sob os mais variados aspectos, estabelecendo intoleráveis sistemas de controle social.

Em uma autêntica distopia à brasileira os avançados sistemas de vigilância seriam adquiridos a preços superfaturados e apenas parcialmente instalados (fora do prazo, de preferência). O equipamento instalado seria parcamente supervisionado, por falta de pessoal, empregando mão-de-obra precarizada. Finalmente, o custoso equipamento logo deixaria de funcionar, por falta de manutenção. De resto, as autoridades em nossa distopia brasileira estariam mais interessadas em coletar propinas que em realmente vigiar a população...

Gambiarra panóptica


quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Criminosas lealdades de caserna

Segundo a revista Veja, ao sair da cadeia, o coronel Mauro Cid teria feito curiosa declaração: “A gente é leal ao superior, mas protege o subordinado” - formulação estranha, para dizer o mínimo. 

A única lealdade lícita e legítima que se espera de um militar é ao povo brasileiro, às instituições republicanas e à Constituição.

A relação entre superior e subordinado é um vínculo profissional e impessoal, regida apenas pela hierarquia militar e pela cadeia de comando; para além disso, nenhuma "lealdade" é necessária. Se o superior age de modo legal e legítimo, cabe o dever profissional; se o superior age fora da lei, qualquer lealdade é traição à República, ao povo brasileiro e às próprias Forças Armadas que, em suas atribuições institucionais, só podem ser prejudicadas por espúrios pactos particulares de lealdade.

Semelhante lealdade só se entende em função das mesquinhas picuinhas de caserna, tristemente comuns ou, pior, de inconfessáveis mutretas - igualmente comuns; não raro, picuinhas e mutretas caminham de mãos dadas. Nesse sentido, o leal subordinado aceita de bom grado a posição de cúmplice dos mal-feitos de seu superior, em detrimento dos interesses legítimos pelos quais se espera que trabalhe.

Por outro lado, que tipo de proteção um subordinado pode esperar em troca de sua lealdade? Proteção contra o que, ou contra quem?

Só se compreende tal proteção em termos de apadrinhamento para todo tipo de bocadas e peixadas das quais muitos militares se valem para obter promoções, cargos, indicações, transferências e outros benefícios. Tais relações de apadrinhamento tampouco servem à missão institucional das Forças Armadas, que precisam sempre das pessoas mais competentes no desempenho de cada função, e não das melhor relacionadas na caserna.

Em que outras circunstâncias um subordinado leal precisaria da proteção dos superiores? Quem age corretamente está devidamente protegido pela probidade de sua própria conduta; só se precisa de proteção especial para o cometimento de atos ilícitos, imorais ou indecorosos.

A equivocada fala de Mauro Cid parece mais adequada no âmbito de relações feudais, regidas pelos vínculos entre senhor e vassalo - o que pode ser muito bonito em romances de cavalaria, mas é completamente inadequado no contexto da ordem militar moderna.

Mas a declaração também remete a outra prática, quiçá mais afim à casta de militares à qual pertence o coronel Cid: lembra tremendamente as relações de "omertà" que se esperam entre mafiosos, unidos por laços de extremada lealdade contra as forças da Justiça. 

Pensando melhor, a fala de Cid não é nada estranha - é exatamente o tipo de coisa que se espera ouvir de um coronel que sai da prisão, devidamente ataviado por uma tornozeleira eletrônica...



quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Perfectivelmente imperfeita

À cidade dos homens cabe ser exatamente como é: tola, cruel e mesquinha, na exata medida em que somos tolos, cruéis e mesquinhos - tristonha resultante de abandonados planos, esquecidas promessas, desmentidas profecias e perdidas oportunidades; imperfeitamente perfectível, perfectivelmente imperfeita, atormentado reflexo do que somos e daquilo que gostaríamos de ser. E, no entanto, se move...

terça-feira, 29 de agosto de 2023

A inexorável marcha do tempo


Como meus alunos perguntando sobre um tipo de disco "velhão", supostamente da época da II Guerra, usado para passar filmes - custei a entender que o artefato em questão era o DVD...

O que o povo gosta

 Em doze anos mantendo esse blog aprendi uma coisa: moderação, racionalidade, concisão e simplicidade não geram (muito) engajamento; o público, via de regra, quer opiniões bombásticas, verborragia tonitruante e explicações convenientes. Alguns dos textos com maior repercussão na história desse blog são justamente aqueles cuja qualidade menos me agrada; c'est la vie...

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Gestão humana

Quando um gestor tem a necessidade de ressaltar a seus subordinados que ele "olha o lado humano" significa que provavelmente significa que ele "olha o lado humano" com muito menos frequência e sensibilidade do que seria desejável. A real empatia costuma se fazer sentir esponteamente.

domingo, 30 de julho de 2023

Acolhendo a paz

"Eu achava que a gente ficava em paz indo até ela, quando na verdade as coisas que dão significado pra gente acabam trazendo essa paz".

Tiago Peixoto

domingo, 23 de julho de 2023

Como detectar uma editora picareta?

Há por aí uma infinidade de editoras caça-níquel cuja principal atividade é cooptar "novos autores" para publicar em "parceria", dividindo os custos editoriais. Com raras exceções, é uma tremenda furada - fuja desse tipo de editora!

Nos países de língua inglesa editoras assim são adequadamente qualificadas como "vanity publishers" ou "vanity press", dispostas a acariciar a vaidade de autores novatos em troca de dinheiro fácil, com poucos riscoa. Publicam sem uma seleção criteriosa (desde que o autor pague para isso - bem caro, de preferência).

Esse tipo de editora sempre existiu, mas se tornou uma praga com a recente expansão das comunicações digitais, que facilitam tremendamente a busca de autores para depenar.

Há uma maneira extraordinariamente simples para detectar esse tipo de editora predatória: examine atentamente o site da editora. 

Editoras sérias querem, antes de tudo, promover seu catálogo e vender seus livros. Consequentemente, o site de uma editora assim se ocupa principalmente com a exposição de suas obras, visando converter o visitante em leitor; geralmente há pouco espaço dedicado à busca de novos autores. É comum que haja algum link intitulado "Publique conosco", mas geralmente é discreto (até difícil de achar, em alguns casos) e costuma remeter a uma página bastante sucinta expondo os padrões para submissão de originais e um contato, normalmente por e-mail.

O site de uma editora caça-níquel, por outro lado, quase sempre é voltado para atrair autores e a essa função dedica a maior parte das páginas e links. Como vender livros não é o objetivo principal desse tipo de editora há pouco destaque para o catálogo, que via de regra não é apresentado de modo visualmente atraente; também não há muitos detalhes das obras, dificultando a atração de potenciais leitores. Por outro lado, o site de uma editora picareta quase sempre é repleto de promessas de visibilidade para "novos talentos", quando não de sucesso. 

Editoras sérias vendem livros e procuram leitores; editoras predatórias vendem promessas e procuram autores - seus respectivos sites normalmente deixam evidentes essas diferenças de propósito. Fique atento!

https://blog.reedsy.com/guide/publishing-companies-to-avoid/vanity-press/


sábado, 1 de julho de 2023

Zelensky em guerra pela "democracia"

Eis que o Sr. Volodymyr Zelensky, comediante feito presidente, anuncia o cancelamento das eleições na Ucrânia "até o fim da guerra", Deus sabe quando. Tudo em nome da nobre luta pela democracia, obviamente. Os bravos guerreiros do Batalhão Azov devem estar contentes (embora talvez não tão contentes, devido à ascendência judaica do Sr. Zelensky). A suspensão de eleições provavelmente não será motivo de maiores questionamentos por parte da OTAN e seus mercadores de armas, tão compenetrados no combate à autocracia russa - afinal de contas, o show não pode parar...



sábado, 17 de junho de 2023

"One measure of a civilised society is the freedom and cheapness with which it encourages ideas to be communicated"

Ian McKellen

quinta-feira, 15 de junho de 2023

A pobreza, segundo o ChatGPT

Ontem, só por curiosidade, bati um papo sobre pobreza com o ChatGPT, para ver que platitudes ele me responderia. 

As respostas tendiam sempre a caracterizar a pobreza como uma infelicidade derivada de fatores múltiplos e complexos que afetam a "alocação de recursos". Pressionei de todas as maneiras possíveis para que ele me respondesse quem é responsável por essa "alocação de recursos", e só recebi respostas evasivas e genéricas.

Em linhas gerais, a pobreza seria uma coisa muito triste e lamentável, que simplesmente acontece, sem ser responsabilidade de ninguém. Perturbador, especialmente considerando que essas respostas são apenas uma colagem de material garimpado na web. Pelo menos não culpou os pobres por serem pobres. 

Em determinado momento provoquei, perguntando se pessoas ricas são cínicas - recebi uma notificação de que aquele prompt violava os termos de uso da plataforma. A inteligência é artificial, mas não é boba...

"Auto" - O robô comprometido com a preservação do status quo na animação Wall-E.


quarta-feira, 14 de junho de 2023

Prioridades civilizatórias e o paradoxo do "progresso"

Hoje um aluno escreveu em um trabalho sobre tempo e projetos de vida que um de seus sonhos para o futuro é ter "água todo dia em casa", pois o abastecimento é irregular onde mora - uma comunidade na Zona Norte do Rio de Janeiro. 

A humanidade já foi à Lua.

Uma estação espacial tripulada orbita sobre nossas cabeças.

Durante a atual pandemia foi possível desenvolver vacinas com rapidez jamais imaginada. 

Bilhões de dólares são investidos no desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial. 

Utilizamos rotineiramente tecnologias que deixariam Julio Verne desconcertado - e ainda nos damos ao luxo de queimar milhões de reais em fogos de artifício no Réveillon.

Apesar de tudo isso, neste século de tantos prodígios, conseguimos a proeza de termos famílias em uma das maiores cidades do hemisfério sul sem acesso regular ao recurso mais imprescindível à sobrevivência humana. 

A grande tragédia da humanidade há muito deixou de ser sua debilidade perante a natureza; milhões de seres humanos vivem à margem do "progresso" simplesmente porque ESCOLHEMOS que assim seja. Não nos falta tecnologia; falta-nos simplesmente vergonha na cara.

Nossa grande e verdadeira miséria é a monstruosa capacidade de tolerar que tanta gente viva tão mal, com uma resignação fatalista e calhorda.

Há quem tema o fim da humanidade; de minha parte, às vezes duvido que ela tenha realmente existido algum dia...

Irrigação no Egito Antigo; milênios depois, a água continua sendo um luxo para milhões de pessoas. 


segunda-feira, 12 de junho de 2023

Escola em disputa

Reflexão certeira do Prof. Vinicius Borges

Esquerda e direita no Brasil estão se especializando em usar a escola como um "campo de luta" onde tudo é mais importante do que a escola e os que nela trabalham e estudam.

sábado, 27 de maio de 2023

Luto, memórias e encantamento

Hoje recebi uma notícia triste - uma amiguinha de infância faleceu há poucos meses, com pouco mais que trinta anos de idade, vitimada por um câncer. 

Tivemos pouquíssimo convívio. Era prima de amigos, consideravelmente mais nova que nós. Tinha dois ou três anos quando veio com a mãe passar umas poucas semanas com os parentes. Era uma criança encantadora, como costumam ser nessa idade. 

Nunca mais nos vimos e havia caído em meu esquecimento há muitos anos, até a triste notícia de hoje. Considerando a idade, é provável que ela não guardasse qualquer memória a meu respeito.

Hoje, porém, ao saber de seu falecimento, inúmeras lembranças me afloraram à consciência, uma delas particularmente enternecedora.

Me recordo que a menina se encantou por um brinquedo que eu tinha, um "View Master 3D", espécie de binóculo desengonçado onde eram inseridos discos com imagens que contavam historinhas com personagens de filmes e desenhos animados. Ao se acionar uma alavanca, o disco girava e trocava a imagem estereoscópica exibida.

Não era um de meus brinquedos favoritos. Os discos com histórias eram bastante caros e eu possuía pouquíssimos. Para uma criança crescida como eu logo se tornava uma atividade enfadonha. O mesmo não sucedia com minha amiguinha, cujos pequenos olhos azuis ainda se encantavam com esse tipo de bagatela.

Várias vezes ao dia a pequena vinha à varanda de minha casa e pedia para usar o brinquedo. Passava longo tempo visualizando o mesmo disco, manuseando a alavanca, revendo incessantemente as mesmas imagens. Havia ali algo que a encantava, ainda que provavelmente não percebesse que as figuras compunham uma narrativa. Quando cansava de um disco, me pedia que trocasse por outro, operação muito simples, mas não para uma criança tão pequena.

Provavelmente ela foi a pessoa que mais aproveitou aquele brinquedo, que eu e meus amigos já estávamos grandes demais para apreciar com a mesma intensidade; já não tínhamos a mesma disposição para o deslumbramento que se encontra apenas nas crianças muito pequenas, para quem tudo é novidade.

Nunca mais a vi. De certo modo, para mim é como se tivesse morrido aquela criancinha de dois ou três anos, não uma mulher adulta.

Espero, com todo coração, que ao longo de sua breve vida ela tenha tido oportunidade de se encantar com muitas coisas, como outrora com as imagens coloridas daquele brinquedo.



quinta-feira, 27 de abril de 2023

Demonologia escolar

Ontem passei por uma das situações mais insólitas de minha carreira docente: uma turma de sexto ano tendo um ataque histérico por medo do Diabo!

Um dos alunos (que, como soube depois, se encontra em avaliação psiquiátrica) teve uma rusga com um colega de comportamento "exuberante", que volta e meia se envolve em confusões com os colegas. Chamei os dois para  conversar fora de sala de aula e achei que a situação estivesse resolvida; ledo engano. 

Retornando à sala, o menino que se encontra em avaliação médica se pôs a escrivinhar no caderno. Subitamente se iniciou um tumulto em torno da carteira do rapaz, cercado por vários colegas apavorados - ele escrevia os nomes de diversos deles e desenhava "símbolos do Diabo". Vários alunos gritavam que iriam morrer, outros tentavam ver se seus nomes haviam sido registrados no "caderno diabólico". Eu tentava, em vão, acalmar os ânimos. 

O menino "endiabrado" começou a fazer cruzes com os dedos, que brandia na direção dos colegas, enquanto declamava em tom monocórdico "Fulano vai morrer... Beltrano vai morrer..." Os colegas em pânico me pediam para fazer alguma coisa (e tenho cara de exorcista?), enquanto eu tentava segurar o riso diante diante de tanta sandice - sem muito sucesso, temo dizer. 

Saí em busca da coordenadora pedagógica, que retirou o aluno do meio do tumulto e me explicou que o mesmo se encontra em tratamento médico. Aproveitando o ensejo, tentei conversar com a turma, pedindo que fossem compreensivos com o colega - em vão: estavam todos amedrontados e revoltados. Pedi a eles que se acalmassem, afirmando que o caderno do colega era apenas um caderno e nada aconteceria com eles. Resvalando no terreno teológico, cometi o deslize de dizer que "o Diabo nem existe", no que fui calorosamente refutado por diversos estudantes. Um deles chegou a argumentar que, em se cavando muito fundo, há de se sentir a "quentura" do Inferno - um argumento com base empírica, portanto... Outro insistia sobre a eficácia da "macumba" do colega, que poderia, sim, levá-los à morte! Como já se fazia tarde, liberei a turma com o compromisso, não muito sólido, de deixar em paz o colega. 

Como se não bastasse, após a saída, a coordenadora e eu conversamos com a mãe do estudante "encapetado", que fora buscá-lo e aos irmãos. A responsável se mostrou muito solícita e nos explicou sobre os problemas de ansiedade do menino. Ficou também esclarecido que o "caderno satânico" era inspirado na animação japonesa "Death Note", cuja trama gira em torno de um caderno sobrenatural que provoca a morte de todos que tiverem seus nomes registrados naquelas páginas.

O "causo" dá o que pensar. 

A situação me fez imediatamente pensar no quanto o discurso "demonológico" de figuras como a atual senadora Damares Alves encontra profunda ressonância na cultura popular brasileira, lembrando que os séculos passam, mas o Diabo ainda faz a festa na Terra de Santa Cruz - com todos os desdobramentos sociais e políticos que isso ocasiona. A recente moda dos padres exorcistas que arrastam multidões para igrejas parece bem menos espantosa quando se percebe o quanto a figura do Diabo e sua capacidade de provocar malefícios permanecem, ainda e sempre, presentes como forças aterradoras capazes de induzir pânico mesmo em estudantes cariocas que vivem em áreas conflagradas.

Por outro lado, fica também patente a vitalidade do Diabo no imaginário ocidental, capaz de encarnar tanto o Mal para os cristãos como de incorporar o medo da "macumba" afro-brasileira, salpicado ainda pela cultura pop nipônica. Como salientava o historiador Robert Muchembled, o Diabo é figura que atravessa os séculos sofrendo inúmeras metamorfoses, sempre atual porque sempre cambiante, remetendo à figura jocosa, espalhafatosa e compósita do arcano do Diabo no Tarot de Marselha. Sempre híbrido, isto-e-também-aquilo, o Diabo evoca um jogo de ecos e reflexos entre diferentes épocas, lugares e culturas - mesmo a animação "Death Note" nos devolve um imaginário diabólico cristão reinventado através do encontro com a cultura japonesa.

Not least, os acontecimentos deixam a certeza de que "jamais fomos modernos", como provoca Bruno Latour. O projeto da modernidade iluminista de uma sociedade pautada pela razão vitoriosa sobre as trevas da superstição permanece obra fadada à incompletude. Que diria Voltaire ao constatar que o Diabo ainda faz tremer jovens do século XXI, apesar de seus smartphones e tantas outras bugigangas proporcionadas pela Revolução Industrial?

Não há inteligência artificial que algo assim...

O Diabo é Pop: Klarion, o Menino Bruxo e o demônio Etrigan em episódio da saudosa série animada de Batman, no fim dos anos 90


sexta-feira, 3 de março de 2023

Sonambulantes

Vendidos, vendados,

Cegos seguimos,

Aos tropeços,

Solavancos,

Gregariamente solitários,

Solidamente liquefeitos,

Comprimidos, apressados,

Sonâmbulos,

Cegos seguimos,

Vendidos, vendados

sábado, 25 de fevereiro de 2023

"Me pergunto se, a pretexto de odiarmos ideias, não acabamos por desprezar pessoas - principalmente as que nem sabemos que existem”.

Rodrigo Watzl

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

MCU - Mega Circo Unificado

Me surpreendi hoje ao constatar que o tão badalado "Universo Marvel" (MCU para os íntimos) já tem trinta e um (!) filmes lançados e mais uns oito (!) agendados - fora os seriados e especiais de TV e streaming (!!!).

Gosto de super-heróis, gosto de (alguns) filmes de super-herois, mas... Para tudo há um limite. 

Excluindo algumas obras mais inspiradas, o grosso dessa produção poderia receber o rótulo de "entretenimento barato" - não fosse o orçamento milionário desses filmes e sua extraordinária arrecadação - sem mencionar a vasta gama de produtos derivados.

Se essas "maravilhas" não ocupassem quase todas as salas e horários de cinema o ano inteiro, não seria o maior dos problemas. Filmes de super-heróis (não apenas Marvel) ocupam uma porção cada vez maior de sessões de cinema, deixando menos e menos espaço para outros gêneros cinematográficos.

Como se não bastasse essa quase usurpação das sessões de cinema, o fenômeno se espalha também pelas prateleiras de livrarias, lojas de brinquedos e milhares e milhares (literalmente) de sites, canais e vídeos em plataformas digitais - em sua maior parte, material de qualidade e relevância duvidosas.

Essa verdadeira monomania é prejudicial inclusive às próprias obras de super-herois, visto que a quantidade cada vez maior de produtos compromete sua qualidade, resultando em trabalhos cada vez menos criativos, mais repetitivos e esvaziados de significado - inclusive devido ao status de propriedade intelectual de grandes conglomerados de mídia; à medida que os paladinos mascarados, encapuzados e coloridos se tornam investimentos milionários, a liberdade de criação dos artistas envolvidos com essa indústria se torna mais e mais limitada, devendo se conformar a um cânone cada vez mais padronizado e enrijecido. De certa maneira, quem viu um filme Marvel, viu todos. 

Os anos 60 e 70 foram quase uma Nova Gênese para os quadrinhos de super-herois, pela contribuição de criadores como Stan Lee, Dennis O'Neal, Jack Kirby, Neal Adams e muitos outros (apesar do papel vagabundo e da limitada paleta de cores); os anos 80 e 90 viram uma vibrante explosão criativa, encabeça por figuras como Alan Moore, Neil Gaiman, Frank Miller, John Byrne, Grant Morrison e outras mentes talentosas - foi o período em que emergiram as ambiciosas "graphic novels", com maiores pretensões artísticas e recursos editoriais mais vastos. O mesmo não pode ser dito das primeiras décadas do século XXI, marcadas por uma assombrosa estagnação, produzindo poucas obras dignas de nota, apesar dos notáveis avanços técnicos que viabilizam edições belas, caras e artisticamente pobres - décadas estéreis como Apokolips...

Tal excesso de oferta, que beira a imposição,  a meu ver, já está se tornando um fator de alienação cultural para grande parte do público, especialmente dos mais jovens. A diversidade é essencial para o cultivo do ser humano em plenitude. Há que se explorar outros horizontes, navegar e mergulhar em outros mares.

Em sua maioria, filmes de super-herois são divertidos, mas tremendamente superficiais. Diversão é importante, mas não pode ser tudo na vida. Um ser humano que se cultive apenas com obras divertidas perde a oportunidade de explorar outras facetas da vida, do mundo, e de si mesmo. O próprio mundo dos quadrinhos, por sinal, não pode ser resumidos a franquias de super-herois - há muitos outros gêneros de "gibis", cada qual com suas riquezas. 

Até a diversão demasiada termina por saturar, enfastiar; deixa de ser um prazer para se tornar uma compulsão - sacia, mas não alimenta. E haja circo para pouco pão...

Viraremos todos "zumbis Marvel"?


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

"Professor, o que é personalidade?"

Encerro perplexo o dia de hoje.

Venho trabalhando imaginário e mitologia com minhas turmas de 6° e 7°ano e propus uma atividade para que meus alunos criem um monstro e um herói, orientados por uma ficha, visando a posterior elaboração de uma narrativa ficcional. 

A pergunta que mais ouvi ao longo do dia foi: "Professor, o que é personalidade?" 

Encontrei extrema dificuldade para me fazer entender por alguns estudantes. Não conseguiam perceber a diferença entre uma característica física, como "forte" e outra de ordem psíquica, como "corajoso". A maneira que melhor encontrei para tornar a diferença mais inteligível foi opondo "características do corpo" a "características do coração ou da alma".  Alguns pareciam confusos com a própria definição de "característica". 

Em dezesseis anos de magistério já vi muita coisa espantosa, mas o episódio de hoje me pareceu particularmente perturbador. 

Me pergunto quanto deve ser difícil para um ser humano conquistar o mínimo de autoconhecimento, de capacidade de reflexão sobre si mesmo e sua vida, sem dominar palavras e noções tão essenciais para isso, como "personalidade" ou "característica". 

Me parece extraodinariamente difícil avaliar o impacto de semelhante empobrecimento de vocabulário não apenas sobre os estudantes propriamente ditos, mas também sobre o ambiente social em que vivem. Soa como algo quase orwelliano.

Nos últimos meses o mundo vem se mostrando perplexo com o chatbot ChatGPT, capaz de gerar textos complexos (embora superficiais) cosendo retalhos textuais extraídos de sua imensa base de dados.

É inquietante viver em uma época em que máquinas absolutamente inconscientes sejam capazes de "redigir" textos por inteligência artificial (simulacro que sempre tem muito mais artifício que inteligência) e, ao mesmo tempo, jovens humanos mostrem tamanha dificuldade para compreender palavras e noções não apenas corriqueiras, mas imprescindíveis ao desenvolvimento de suas consciências, em suas múltiplas dimensões. Alienados de ferramentas cognitivas tão poderosas, se alienam de si mesmos e, consequentemente, do mundo. 

Mais espanto que os avanços da inteligência artificial deveriam causar as graves perdas culturais coletivas, que minam nossa capacidade de expressão, comunicação e convívio. 

Um dos grandes desafios de nossa época, mais que nunca, parece ser o de reconhecer, resgatar e cultivar nossa maravilhosa capacidade de nos fazermos plenamente humanos. Nesse tempo em  que as máquinas parecem permear tantos aspectos da experiência humana, os apelos de Erasmo de Roterdã e Pico Della Mirandola se mostram não apenas atuais, mas urgentíssimos. Precisamos humanizar nosso presente, para que o futuro valha a pena ser vivido; para que não nos tornemos pessoas controladas por máquinas controladas por outras pessoas, como diria Frank Herbert - pois é exatamente disso que se trata. 

Dentro de cada um de nós dorme um potencial tremendo; que não nos faltem a sabedoria e a coragem para desperta-lo.



terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Sangue indígena

Todo brasileiro tem sangue indígena nas veias; alguns também o trazem manchando as mãos. 

Imagem de Gerd Altman, via Pixabay


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Como o Capitalismo "funciona"?

Hoje presenciei uma cena de cortar o coração. Em uma farmácia, uma senhora diabética, acompanhada da filha, escolhia quais remédios deixaria de levar para poder fechar a conta. As duas faziam piada da situação - às vezes o riso é o último recurso para nos protegermos diante das tragédias da vida. 

Minha esposa é diabética e usa alguns dos medicamentos em questão - realmente são muito caros, pois são fabricados na Europa e, como se sabe, nossa situação cambial tem sido catastrófica nos últimos anos.

Quando um diabético, especialmente idoso, se vê privado de medicamentos prescritos há um provável impacto em sua qualidade de vida e mesmo de sua expectativa de vida. Não há palavras capazes de expressar devidamente quão perversa é uma situação como essas. 

Vivemos em um modelo econômico em que pessoas recebem milhões para chutar uma bola, em que valores estratosféricos são empregados para a realização de um efêmero evento esportivo e mulheres idosas não conseguem comprar medicamentos essenciais - simplesmente porque uma empresa europeia detém o monopólio sobre certos medicamentos e a moeda brasileira se encontra desvalorizada.

Vivemos em um mundo em que milhões de dólares são gastos para a produção de uma patética cena de ação em uma franquia cinematográfica que produz e reproduz há quase três décadas filmes que são quase fotocópias cada vez mais imbecilizadas uns dos outros, estreladas por um galã que em breve precisará de fraldas geriátricas - que constituem também uma pesada despesa no orçamento de milhões de famílias.

Não se trata de argumento utilitarista. Esportes e cultura (inclusive o lixo hollywoodiano) fazem parte da trama da sociedade e da vida e são importantes para a coletividade. O problema é quando atletas e atores voam de balada em balada em jatinhos e hotéis de luxo e diabéticos não conseguem adquirir medicamentos essenciais; é quando bilionários queimam dinheiro com todo tipo de extravagância enquanto a muitos idosos falta dinheiro para aquisição de absorventes geriátricos.

Há quem diga que a grande virtude do capitalismo, guiado pela sabedoria de Mamon, é "funcionar". De minha parte, me recuso a acreditar que uma sociedade em que uns poucos tratam o luxo como necessidade e bilhões de pessoas precisem lidar com a necessidade como se luxo fosse é uma sociedade que "funciona". Se assim é, "funciona" para quem? Para a senhora cujo drama testemunhei hoje, certamente o capitalismo vem "funcionando" de mal a pior. 

"Meritocracia", responderão alguns. A estes pergunto que falta para que a senhora "mereça" seus remédios. Que fazem o "menino Neymar", as estrelas de Hollywood, os magnatas do Vale do Silício, banqueiros, especuladores de toda espécie e tantos outros para "merecer" uma vida de luxo nauseabundo em meio a tanta miséria?

De que adianta uma indústria farmacêutica que desenvolve medicamentos "milagrosos", mas cujos preços excluem desses benefícios bilhões de pacientes, crônicos ou não? Pior ainda, onde milhões de pessoas não conseguem sequer o acesso a um médico que lhes prescreva a medicação? 

"Ciência sem consciência é apenas ruína da alma", dizia Rabelais há quase meio milênio. 

Ciência não nos falta; a consciência, por outro lado, não "funciona".

Se nossa sociedade capitalista realmente funciona é apenas como um satânico moinho de triturar gente, como sugeria Karl Polaniy nos anos seguintes à infame Crise de 1929 - e haja gente para triturar nesse planeta...



domingo, 5 de fevereiro de 2023

Riddle me this

Can a bat fly twice at the same city? Bat and city are never the same. Sameness is in the eye of the beholder - but does the same eye see the bat twice?



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Japamala

Cada lágrima derramada é semente plantada no solo da alma, aguardando oportunidade para germinar. Bem-aventurados os que choram. 



quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Brazil - Um século não é quase nada

Hoje (pois ainda não dormi) minha mãe completou setenta anos. Em outubro completo quarenta; a prima que vi nascer completa vinte e oito no dia seguinte - e a mãe dela, que me viu nascer, faz cinquenta e cinco ainda esse ano. Minha filha, que está por nascer, tem trinta e duas semanas. O tempo passa. O tempo espanta.

Sete décadas viveu minha mãe - mais de meio século. Nasceu no ano da coroação da Rainha Elizabeth, que meu avô assistiu; menos de oito anos antes acabara a maior guerra da história da espécie humana. Tinha pouco mais de um ano quando Getúlio Vargas saiu da vida para entrar na História.

A bomba atômica era novidade quando minha mãe nasceu; caneta esferográfica, nem pensar. Missa, só em Latim - língua que nunca parece suficientemente morta; minha turma foi a última a aprender Latim no Colégio Pedro II - para provável desgosto do erudito imperador do Brazil. Roma é a "cidade eterna", ainda que talvez discorde Agostinho; há sempre alguém que vem, vê e vence - por bárbaro que seja. Gaulês, romano, germânico, ianque ou brasileiro, há sempre algum bárbaro de plantão para assediar o Capitólio ou vandalizar o Fórum, em Roma, Washington ou Brasília - por Tutatis, Júpiter e Mamon! Quebram até o relógio de Dom João VI, para que o tempo não avance - e pur si muove...

Minha mãe pegava o bonde para ir à escola e foi a primeira neta de um lusitano seminalfabeto a cursar graduação; minha avó catava carvão na linha do trem e parou de estudar aos dez anos por obra e graça da pobreza, da necessidade e da paterna ignorância - "filha de pobre não precisa estudar". Meu bisavô, entre muitos outros ofícios de uma vida errante, foi condutor de bonde - viera de Portugal com apenas onze anos de idade fugindo da pobreza. A mãe de meu avô, por outro lado, nascida dois meses antes do massacre de Canudos, estudou em internato de freiras francesas e morreu escrevendo "Brazil com Z" por pura teimosia. 

A avó materna de minha filha, dura feito mandacaru, passou fome na infância piauiense e matou de tudo um pouco, de cobra a gavião. Seu marido, meu sogro, nasceu índio no sertão baiano, mas foi criado em Padre Miguel - vendeu laranja, empurrou carro alegórico e aturou sargento em quartel; visitava o padrasto tuberculoso em serrano sanatório, quando ainda engatinhavam os antibióticos. Minha mãe nasceu e cresceu em Quintino Bocaiúva - bairro onde, reza a lenda, Carlos Gardel e um tupinambá borgianamente baixavam em terreiro para executar um tango suburbano. O Brazil realmente é coisa de Outro Mundo - um verdadeiro "samba do crioulo doido", como dizia Stanislaw!

O bisneto do mal letrado lusitano e da afrancesada catarinense é doutor, mas leciona para estudantes assutadoramente pobres, que não catam carvão, mas catam lixo - pobreza é coisa que não sai de moda nesse mundo. Minha filha não há de passar fome como a avó, mas há muita criança que ainda passa. O bonde do progresso, em seus tortuosos trilhos, parece sempre atrasado para alguém.  "No Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é", como sustenta o catedrático da Quinta da Boa Vista.

Minha filha vem aí, mistura desses Brazis, quase uma alegoria digna de Alencar - podia bem se chamar Iracema - mas que esperar da neta de um índio vascaíno que empurrava carro alegórico? Pega o bonde andando, como todos nós, aqui agarrados ao balaústre, entre a Vida e a História.

Minha mãe fez setenta anos. Ainda ontem era criança. Ainda ontem éramos todos crianças; um século não é quase nada.



domingo, 15 de janeiro de 2023

Infinita caminhada

Só existe uma maneira viável para se trilhar um caminho infinito: devagar, um passo de cada vez, com tenacidade e paciência.



sábado, 7 de janeiro de 2023

Virtuosismo apático

Em algumas pessoas, a apatia pode ser uma virtude. Nada mais perigoso que um tolo com iniciativa - o que se inicia em tolice pode acabar em tragédia. Conhecemos muito bem as desgraças cometidas pela imprudência ativa, mas jamais saberemos de quantos flagelos a humanidade foi poupada pela estupidez inativa. A grande marca de um virtuose da tolice apática é ser completamente desconhecido. Antes de reclamar da apatia alheia deveríamos ponderar sobre os prováveis benefícios proporcionados por semelhante conduta - afinal de contas, muito ajuda quem não atrapalha. 





quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

De linhas e barganhas

Há uma tênue linha que separa o pragmatismo do cinismo - o nome dessa linha é integridade.

A integridade consiste em se manter leal a seus próprios princípios, não se deixar comprometer, seja por medo de represálias, seja em troca de vantagens de qualquer natureza.

Hoje soube que uma das ministras nomeadas pelo presidente Lula é suspeita de envolvimento com milícias.

Suspeita obviamente não significa necessariamente culpa e a presunção de inocência é um dos mais básicos direitos civis.

No entanto, a presunção de inocência é um princípio que visa proteger o cidadão de punição arbitrária, não garantir o direito a nomeações ministeriais. A cautela recomenda manter longe do poder pessoas sobre as quais pesam suspeitas tão graves.

Passamos os últimos quatro anos justamente protestando contra o inegável envolvimento do clã Bolsonaro com esse tipo de organização criminosa; indicar uma pessoa sob semelhantes suspeitas - em nome da "governabilidade" - é atitude tremendamente contraditória, beirando a hipocrisia.

Quem clama por justiça para Marielle Franco não pode aceitar semelhante situação com a consciência tranquila.

Tal atitude significa cruzar a linha que separa pragmatismo e cinismo. Significa ceder algo que deveria ser inegociável e assumir compromissos inaceitáveis. Significa abrir mão da integridade - até onde e o que estamos dispostos a barganhar?

A barganha de Fausto - Gravura do século XVIII



segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Milagres de São Jair

Pequena lista para o processo de canonização, com ajuda do amigo Marcos Passini

- Uniu Lula e Alckmin;

- Fez Merval Pereira defender o Lula;

- Fez Hamilton Mourão defender transição pacífica e democrática;

- Fez uma catadora de papel entregar a faixa presidencial;

- Fez Lula chamar Sarney de "companheiro";

- Conseguiu fazer o pior governo de um país cuja história é repleta de péssimos governos.