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segunda-feira, 15 de maio de 2017

Reflexões de um suposto coxinha

Excelente coluna de Artur Xexéo:

Ando sensível. Acho que já contei isso aqui. Choro à toa. Antes era com comercial de margarina, cenas de novela, trechos do filme. Agora, é lendo jornal. Cada notícia da Lava-Jato, de início, me enche de indignação. Em seguida, fico triste. É aí que choro. Ando tendo vontade de chorar também em discussões com amigos. Gente que tempos atrás dividia comigo a mesma ideologia hoje se comporta como inimiga. Ou sou eu o inimigo? De qualquer maneira, num mundo que derrubava muros, de repente, um muro foi erguido para me separar desses amigos. Tento explicar como vejo o trabalho de Sergio Moro e nunca consigo terminar o raciocínio. No meio da discussão, me emociono, fico com vontade de chorar e prefiro interromper o pensamento. “Coxinha”, me xingam nas redes sociais. Bem, se o mundo está obrigatoriamente dividido entre coxinhas e petralhas, não tenho como fugir: sou coxinha!

Leio na internet que “coxinha” é uma gíria paulista cujo significado se aproxima muito do ultrapassado “mauricinho”. Mas, desde a reeleição de Dilma, esse conceito se ampliou. Serviu para definir de forma pejorativa os eleitores de Aécio Neves. Seriam todos arrumadinhos, malhadinhos, riquinhos e votavam em seu modelo. Isso não tem nada a ver comigo. Mas, nesta briga de agora, estou do lado que é contra Lula, logo sou contra os petralhas, logo sou coxinha. 

Gostaria de falar em nome da democracia. Mas não posso. A democracia agora é direito exclusivo dos meus amigos que estão do outro lado do muro. Só eles podem falar em nome dela. Então, como coxinha assumido, deixo uma pergunta. Vocês acharam muito normal o ex-presidente Lula incentivar os sindicalistas para os quais discursou esta semana a irem mostrar ao juiz Sergio Moro o mal que a Operação Lava-Jato faz à economia brasileira? Vocês acreditam sinceramente nisso? O que a Operação Lava-Jato faz? Caça corruptos pelo país. Não importa se são pobres ou ricos. Não importa se são poderosos. Não era isso o que todos queríamos, quando estávamos todos do mesmo lado, quando ainda não havia um muro nos separando, e fomos às ruas pedir Diretas Já? Não era no que pensávamos quando voltamos às ruas para gritar Fora Collor? E, principalmente, não era nisso que acreditávamos quando votamos em Lula para presidente uma, duas, três, quatro, cinco vezes!!! Não era o Lula quem ia acabar com a corrupção? Ele deixou essa tarefa pro Sergio Moro porque quis.

Como, do lado de cá do muro, me decepcionei com o ex-líder operário, o lado de lá deu pra dizer que sou de direita. Se for verdade, está aí mais um motivo para eu estar com raiva de Lula. Foi ele quem me levou pra direita. Confesso que tenho dificuldades de discutir com qualquer petralha que não se irrita quando Lula diz se identificar com quem faz compras na Rua 25 de Março. Vem cá, já faz tempo que os ternos de Lula são feitos pelo estilista Ricardo Almeida. Será que Ricardo Almeida abriu uma lojinha na rua de comércio popular de São Paulo? Por mim, Lula pode se vestir com o estilista que quiser. Mas ele tem que admitir que o discurso da 25 de Março ficou fora do contexto. A gente não era contra discursos demagógicos? O que mudou?

Meus amigos petralhas dizem que é muito perigoso tornar Sergio Moro um herói. Que o Brasil não precisa de um salvador da pátria. Mas, vem cá, não foi como salvador da pátria que Lula foi convocado para voltar ao governo? Não é ele mesmo quem diz que é “a única pessoa” que pode incendiar este país? Não é ele mesmo quem diz que é a “única pessoa” que pode dar um jeito “nesses meninos” do Ministério Público? Será que o verdadeiro perigo não está do outro lado do muro? Não é lá que estão forjando um salvador da pátria?

Há muitas décadas ouço falar que as empreiteiras brasileiras participam de corrupção. Nunca foi provado. Agora, chegou um juiz do Paraná, que investigava as práticas de malfeito de um doleiro local, e, no desenrolar das investigações, botou na cadeia alguns dos homens mais poderosos do país. Enfim, apareceu alguém que levou a sério a tarefa de desvendar a corrupção que há muitos governos atrapalha o desenvolvimento do país. E, justo agora, quando a gente está chegando ao Brasil que sempre desejamos, Lula e seus soldados querem limites para a investigação. Pensando bem, rejeito a acusação de ser coxinha, rejeito ser enquadrado na direita, rejeito o xingamento de antidemocrata, só porque apoio o juiz Sergio Moro e a Operação Lava-Jato. Coxinha é o Lula que se veste com Ricardo Almeida e mantém uma adega de razoáveis proporções no sítio de Atibaia. E, para encerrar, roubo dos petralhas sua palavra de ordem: sinto muito, mas não vai ter golpe. Sergio Moro vai ficar.


Método não democrático


Os estudiosos de humanidades existem, basicamente, para ser ignorados.

A gritaria dos surdos loucos

Ensaio melancólico sobre a indigesta logofagia brasileira que nos ensurdece, sufoca e engasga:

"Coxinha!"

"Petralha!"

"Reaça!"

"Esquerdopata!"

"Bolsomito 2018!"

"Bolsonaro fascista!"

"Imprensa golpista!"

"Blogueiro petista!"

"Fora, Dilma!"

"Primeiramente, fora Temer!"

"É golpe!"

"Não é golpe!"

"Não vai ter Copa!"

"Não vai ter Golpe!"

"Não passarão!"

"Crivella é 10!"

"Fecho com Freixo!"

"Lula ladrão!"

"Lula, guerreiro, do povo brasileiro!"

"Dilma piranha!"

"Dilma sapatão!"

"Dilma, guerreira, da pátria brasileira!"

"Esquerdomacho!"

"Feminazi!"

"Cultura do estupro!"

"Bandido bom é bandido morto!"

"Desmilitarização da PM!"

"Nenhum direito a menos!"

"Grevista atrapalha trabalhador!"

"Alienado!"

"Analfabeto político!"

"Massa de manobra!"

"Homem branco, heterossexual, de classe média!"

"Não existe racismo no Brasil!"

"Racista!"

"Apropriação cultural!"

"Vai ter branca de turbante, sim!"

"Lugar de fala!"

"Bicha!"

"Homofóbico!"

"Viado!"

"Fanático religioso!"

"Cristofobia!"

"Espaços seguros!"

"Livre debate!"

"Legalização das drogas!"

"Armamento dos cidadãos!"

"Moralista!"

"Corrupto!"

"Puta!"

"Machista!"

"Piranha!"

"Sexista!"

"Ideologia de gênero!"

"Escola sem partido!"

"Doutrinação marxista!"

"Manipulação midiática!"

"Legalização!"

"Criminalzação!"

"Culpado!"

"Inocente!"

"Certo!"

"Errado!"

"Bom!"

"Mau!"

"Burro!"

"Ignorante!"


"Na maioria dos casos, provas cabais só existem em filmes"

Comentários do historiador Fred Oliveira sobre post de ontem.


dos dois lados do Moro - digo, do muro". O autor do artigo não poderia ter definido melhor o ponto no qual estamos. O barão de Itararé aplaudiria. Eu concordo com boa parte do texto.

Juridicamente o Lula ainda é inocente... No entanto, como qualquer pessoa, em caso de suspeita, está sendo investigado e deverá responder às acusações. Para isso tem competentes e caros advogados. Ele não foi condenado.

Tampouco é aceitável (afinal somos ou não somos todos cidadãos, gozando dos mesmos direitos?) uma inimputabilidade vitalícia, como alguns parecem querer lhe atribuir. Há um processo. Há instâncias. Há publicidade dos atos e fatos e há a vigilância de inúmeras instituições atores. Ponto. Mais do que isso é querer tumultuar a normalidade. Uma normalidade que até então havia sido conveniente aos queixosos de hoje... somente agora foi posta em dúvida. Lembremos disso.

Lula foi presidente. Tem responsabilidades. Não sobre tudo ao tempo de seu governo mas sobre aquilo que possivelmente tenha favorecido seu partido, seus aliados e sua manutenção no governo. Provas? Alguns querem "provas cabais", mas antes (creio) deveriam definir o que seriam as tais provas cabais. Uma confissão de culpa? Batom na cueca? Uma selfie reveladora? Um vídeo confessional com o autor enumerando ilícitos? Na maioria dos casos, provas cabais só existem em filme. A maior parte das provas são indiciárias, circunstanciais... O goleiro Bruno que o diga. Até hoje não encontraram o corpo da moça e, no entanto, o conjunto probatório levou à conclusão, pelo juiz, de sua culpa.

Ora... Levar ao pé da letra a ideia de "provas cabais" (depois que se tenha pensado nas suas implicações, para além do caso em discussão) colocaria a própria História numa saia justa, pois muitas de suas conclusões sobre eventos importantes não se dão por "provas cabais" ("cabais" para quem?) e sim pelo encadeamento de indícios que no final tornam possível a produção de um razoável consenso sobre seu significado. Não basta dizer: “as provas são insuficientes!” Qualquer um pode simplesmente dizer isso. Qualquer um pode dizer: “não reconheço tal coisa como prova cabal”.

Hitler e Stalin, não tem nenhum vídeo de confissão de seus crimes. Temos, no entanto, muitos documentos que encadeados e lidos na teia das circunstâncias daqueles contextos específicos tornam o convencimento de sua culpa um "fato", uma interpretação amparada em amplo consenso entre os estudiosos do assunto. Mas mesmo isso não é prova suficiente para algumas pessoas, ainda que afirmemos que são. Não há unanimidade.

E aqui esbarramos num problema que está para além do direito: o reconhecimento da suficiência da prova depende de cada juízo. Ou seja, não se pode obrigar quem não quer aceitar a suficiência da prova a mudar seu entendimento sobre a questão. Nesse caso, o foro é íntimo.

Com relação ao Lula não chegamos a esse ponto mas percebemos uma resistência a reconhecer nele o possível responsável, direto ou indireto, por ilicitudes. Paixão? Também. Mas também um cálculo. Um cálculo que parece querer aproveitar da própria democracia para sabotá-la colocando em dúvida todo aquele que pretenda julgar um determinado homem.

Afinal, uns são melhores que outros, e portanto merecem direitos especiais diante da Lei, ou devemos todos ser tratados da mesma forma ao responder a ela?

Há pouco diálogo quanto a isso. Há torcidas, com muita gente desinformada ou mal intencionada dos dois lados do muro. Democracia é um processo em eterna elaboração e jamais deve pretender ser a realização de um pensamento único que queira ganhar no grito uma discussão.

Lula ainda é inocente. No entanto ao questionar todo o processo de maneira tão leviana (em alguns casos) alguns parecem não ter para todos os demais uma alternativa de "democracia" digna desse nome. Enfim, Lula é inocente... por enquanto. Que tenha o tratamento de um cidadão... comum.

The Klencke Atlas

De Anakin a Vader - O nascimento de um monstro

Transcrição dos comentários em áudio de George Lucas no DVD de Star Wars - Episódio III: A Vingança dos Sith - um guia para a torturada jornada de Darth Vader

Cena 1 - A indicação forçada de Anakin ao Conselho Jedi
"Quando comecei a fazer o filme, estávamos na Guerra do Vietnã. Num período em que Nixon se candidatou ao terceiro mandato. Ou tentou obter uma mudança na constituição para permitir um terceiro mandato. Isso me fez pensar em como democracias se tornam ditaduras. Não como são tomadas em golpes, ou coisa assim. Mas como a democracia se vira em direção a um tirano. Então eu voltei e estudei como, após o Senado ter matado César na Roma Antiga, eles virão e entregam o Império ao sobrinho dele e o fazem imperador. O mesmo aconteceu com a Revolução Francesa. Após tanto esforço para fazer a revolução, para se livrar do rei e de todos no poder, eles eventualmente entregam a democracia a Napoleão, e o fazem imperador. Isso tem mais a ver com precedentes históricos, e isso acontece muito. Mais do que se imagina. Geralmente, você imagina que um grupo assume o poder - e no moderno século XX, era a realidade comum da "república de bananas", onde um general assume o poder à força. Mas é mais interessante quando ele é realmente entregue, para compensar o fato de que os representantes eleitos não conseguem concordar em nada e são corruptos. Portanto, para limpar a bagunça, se permite a alguém chegar ao poder para consertar tudo. [...] Nessa cena específica, com Obi-Wan e Anakin, estabelecemos o fato de haver uma tensão entre os Jedi e Palpatine, o Chanceler Supremo. E essa tensão entre os dois faz Anakin ficar preso no meio. Palpatine sabia disso quando o colocou no Conselho Jedi, pois sabia que o Conselho se ressentiria. E até Anakin sabia que o Conselho se ressentiria. Mas quando ele é realmente posto naquela posição começa a criar efetivamente uma enorme tensão entre o Conselho e Anakin. E mesmo que Anakin ainda seja leal ao Conselho, está numa posição difícil.

Cena 2 - Anakin e Padmé discutem sobre Palpatine
Esta cena serve para estabelecer que a pressão sobre Anakin está começando a dividir Anakin e Padmé. Ela tem valores sobre a democracia, sobre como as coisas deveriam ser, que estão começando a ficar confusas para Anakin. Você começa a ver a lealdade de Anakin ao Chanceler e não ao Senado, nem necessariamente à democracia. Ela questiona o que Palpatine faz e isso o aborrece muito, pois está atacando seu amigo e seu mentor, e ele entra num estado de confusão com as pressões que sofre de vários lados.

Cena 3 - Anakin e Palpatine conversam na Ópera
Há duas cenas de sedução e essa é uma delas. [...] A intriga política que acontece ao longo de todos os filmes, ou ao menos nos três primeiros, é bem opaca nos dois primeiros. Tem a ver com interesses comerciais, realidades corporativas e as tramas do Senado. Também é a ascensão de Palpatine de um simples senador a Chanceler, e agora de Chanceler a Imperador. Então as maquinações políticas tinham a intenção de ser bem "políticas" - você não entende muito bem o que está acontecendo, nem quais são realmente os problemas, mas agora você vê onde tudo isso leva. [...] O que acontece nos dois primeiros filmes fica muito mais aparente, pois foi realmente planejado que tudo conduzisse a esta cena onde revelamos os segredos sobre a situação política. Mas foi progredindo por toda a história e você verá nos episódios IV, V e VI, que os resquícios dessa situação política também aparecem nesses filmes. Então é um círculo completo que atravessa toda a história e é também uma cena que dá a ideia de onde isso levará após o Episódio VI, que é quando o Senado retorna e volta a ser uma democracia, pois agora sabemos que começou como uma democracia no Episódio I, mesmo não sendo muito eficiente, graças à corrupção e às brigas mesquinhas.

Cena 4 - Despedida de Anakin e Obi-Wan
Mas também é aqui que começamos a ver que embora Anakin finja não ter problemas no relacionamento com Obi-Wan, ele os tem. Está preocupado com o que pensam dele. Veremos na próxima cena que está preocupado com suas próprias motivações e sua confusão, e está aborrecido porque o Conselho e Obi-Wan não confiam nele.

Cena 5 - Anakin e Padmé discutem novamente
Como Anakin passava por problemas com Obi-Wan, isso serve para indicar que seu pesadelo sobre Padmé também começa a envolver Obi-Wan, como se houvesse um certo ciúme entre eles por causa de Padmé. Ele sente [através da Força?] que Obi-Wan esteve lá, falando com ela, e luta contra essa confusão e contra o fato de estar emocionalmente desequilibrado. Palpatine o confundiu. O Conselho o confundiu. Está confuso, pois não quer perder Padmé. Ele acha que tem como descobrir novos poderes que podem talvez salvar a vida dela, mas, no fundo, ele sabe que isso é provavelmente errado. Então há vários sentimentos embaralhados nesta cena.

Cena 6 - Palpatine revela sua verdadeira identidade
Originalmente, Anakin devia ser seduzido nesta cena, e tornava-se um Sith nesta mesma cena. Ao final dessa tomada, ao encarar a realidade, ele permanece um Jedi e diz: "Eu investigarei isso e vou entregá-lo". Mas originalmente não era assim. Ele foi envolvido pela ideia de se tornar um lorde Sith e salvar a esposa e essa rápida conversão dele não funcionava bem. Então fazia mais sentido ele permanecer leal aos Jedi o máximo possível e posteriormente, na cena da luta com Mace. Então, nós refizemos a cena. Não havia a parte em que o Imperador [aqui ainda Chanceler - sic] cede. Ele diz: "Você me pegou, você me pegou". Era a cena sem isso. Acabou ficando mais intensa e finalmente Anakin cede e o salva. Mas não tinha essa mesma pausa onde você pensa que... Assim o Imperador fica mais repugnante. É algo dramático e divertido de fazer.

Cena 7 - Anakin entrega Palpatine a Mace Windu
Essa cena também foi adicionada após eu mudar a cena no gabinete, pois como Anakin diz que vai contar aos Jedi, eu precisava de uma cena dele contando. Várias coisas boas aconteceram quando eu fiz a mudança. Reforça a cena quando Mace entra. Significa que quando Mace encontra Palpatine, ele sabia que ele era um lorde Sith. Funciona melhor, pois quando Mace entra, sabe que irá prendê-lo. Sabe que é o vilão, e isso funciona melhor.

Cena 8 - Anakin se angustia na torre do Conselho Jedi
Depois dessa cena, eu precisava de algo para relembrar que a questão real é que ele quer salvar Padmé e esse é o seu conflito. É por isso que está num vai-e-vem emocional. É fácil fazer o público achar que Anakin está ofendido por não pegar a missão, que está com raiva por não ser um mestre e essa cena foi planejada para relembrar que o problema real é que ele não quer perdê-la. E ele sabe que se o Imperador for morto, suas chances de salvá-la estão perdidas. O imperador é a única esperança de salvá-la, o que o faz voltar ao escritório do Imperador.

Cena 9 - Anakin e Palpatine matam Windu
Essa sequência sempre começou com Mace subjugando Palpatine e depois Palpatine usa seus poderes para destruir Mace, que desvia os raios com seu sabre-de-luz. E era sempre Anakin que cortava o sabre de sua mão. Mas essa parte em que ele finge perder seu poder e ficar fraco foi algo que acrescentei depois. Mudou o ponto da virada de Anakin para esse momento aqui. Fica muito claro que ele quer que ele vá a julgamento, para conseguir a informação sobre como obter esses poderes.

Cena 10 - Anakin cruza o limite e se torna Darth Vader
Nessa sequência baixamos a voz do Imperador para a transição ser mais forte e arrepiante. Agora, quando está com uma aparência estranha também queríamos uma voz estranha e lentamente nós retornamos à voz normal de Imperador que é um pouco diferente de sua voz como Palpatine. Mas aqui é mais representação. Tecnicamente, adicionamos um pouco de reverberação para soar mais assustador. Queríamos uma cena mais arrepiante, porque é, "Erga-se, Lorde Vader". É um dos momentos-chave do filme, em que você quer ter algo mais teatral que tudo. [...] É aqui que ele faz o pacto com o Diabo. Esse é o pacto faustiano para tentar fazer algo que ele não deveria. Ele passou dos limites. A morte de Mace... Ele queria impedi-lo de matar Palpatine, que, no fundo, era a coisa certa a ser feita. Ele não percebeu que Palpatine mataria Mace, então agora quer fazer a coisa certa, mas percebe, com a morte de Mace, que passou do limite e então ele sucumbe diz, "Sim. Farei tudo que pedir se deixar que minha esposa viva". [...] Então ele diz, "Eu farei isso, mas você precisa fazer essas coisas. Precisa matar todos os Jedi, porque se não o fizer, se deixar um só vivo, mesmo uma das crianças, eles voltarão e serão um problema para sempre". Nenhum podia sobreviver. É a mesma coisa com os Sith. O problema com os Sith é que sempre há dois e até se livrar de ambos, não se livrou de nenhum, pois sempre podem criar mais. Então precisa se livrar do Imperador e de seu aprendiz. Uma das questões é que os vilões se acham bonzinhos. Lorde Sidious acha que está trazendo paz à galáxia, pois há muita corrupção, confusão e caos. Agora ele poderá colocar tudo em ordem, o que pode ser verdade, mas o preço que a galáxia pagará é muito alto.

Cena 11 - A Ordem 66 e a matança no Templo Jedi
A narração da história de Anakin entrando no Templo Jedi e os outros Jedi morrendo pela Ordem 66 dos clones é feito como um daqueles desfechos inevitáveis em que ele se livra de todo mundo, o Imperador se livra de todos os inimigos. Mas há uma certa inevitabilidade e tristeza nisso. Sempre me preocupei que o Episódio II revelava muita coisa, com as pessoas perguntando de onde vinham os clones. Eles mencionam o fato que Lorde Tyranus e Conde Dooku são a mesma pessoa, e que foi Darth Tyranus quem deu início aos clones. Então, se prestou atenção, é fácil descobrir o que acontecerá aos clones. Eles trairão todo mundo. É difícil preparar isso sem fazer nenhuma revelação.  [...] A situação com as crianças era necessária para estabelecer o quão longe ele foi para fazer algo tão brutal e bárbaro. Tinha de estar ali, mas eu não queria mostrar. E foi na edição que a ideia de entrecortar ela [Padmé] com ele em seu pior momento, com ela se preocupando com ele. A justaposição funciona bem, pois reflete tanto a matança das crianças quanto a preocupação dela por ele, mesmo que ela não saiba da morte das crianças. Mas cria um forte vínculo emocional quando essas duas sequências são conjugadas.

Cena 12 - Anakin se despede de Padmé
Gosto dessa cena porque ele mente para ela e está racionalizando ao mesmo tempo, dizendo que é tudo por ela. Ele é leal ao Senado, ao Chanceler e a ela. Mas ele torce todos os fatos para justificar seu raciocínio, para parecer que tudo está bem, mas enquanto mente para ela, está mentindo para si mesmo e racionalizando seu comportamento. Ele sabe que está errado, mas não admite. Essa é a cena que diz que ela nunca o amaria. É claro que ela está apaixonada, mas nunca poderia viver com ele, pois foi longe demais quando assassinou crianças e depois justificou isso dizendo que apenas fazia seu trabalho.

Cena 13 - Palpatine discursa no Senado enquanto Vader mata a liderança separatista
Eis uma referência a O poderoso chefão. É quando em O poderoso chefão, ele está batizando um bebezinho e ao mesmo tempo matando todos os seus inimigos. É o que acontece aqui. Enquanto o imperador declara o Império, ao mesmo tempo está eliminando seus últimos aliados. O contraste entre os dois eventos, um contra o outro, sempre funciona. É legal ter um cara fazendo algo relativamente benigno e o outro sendo muito físico e ativo. O verdadeiro horror da situação, a parte realmente horrível da situação é ele declarar o Império em contraste com Anakin eliminando todo mundo, cortando as pessoas ao meio e fazendo coisas terríveis. Mas nada tão terrível quanto o que o imperador faz- e ele faz isso apenas com palavras. Isso foi escrito há muito tempo e foi baseado em História. Star Wars é todo razoavelmente político. A maioria das pessoas nunca notou até este Episódio completar o quebra-cabeças. Às vezes a política é meio confusa e nebulosa na perspectiva das pessoas, que é como as pessoas encaram a política. Mas por ser confusa e nebulosa as pessoas não querem se envolver. É claro, se elas não querem se envolver na política, é quando entregam tudo a alguém para dar um jeito. Então, a participação aqui da Federação de Comércio, das Guildas de Comércio e de todas as corporações que basicamente têm muita influência sobre o Senado e não lhe permitem cumprir sua função, é o que realmente começa toda essa confusão. Palpatine consegue utilizar essa corrupção e ganância por parte da Federação de Comércio para avançar seus objetivos. É óbvio que ele está encorajando a Federação de Comércio a se separar da República e levar um monte de sistemas junto, sobre os quais tem influência. Mas nada disso se torna aparente até ver que ele está usando a tudo e a todos para obter o poder supremo.

Cena 14 - Obi-Wan visita Padmé
Adoro a atuação de Ewan [McGregor] nestas sequências finais, pois ele é atraído inevitavelmente a uma realidade terrível da qual tem de participar. E não há nada que ele possa fazer. Ele não quer, mas precisa continuar naquela direção, pois é o destino dele, já que ele jurou ser um Jedi e trazer justiça à galáxia. Agora a única maneira de fazer isto é enfrentando seu amigo que também decidiu trazer justiça à galáxia. Ambos tentam fazer a mesma coisa, só que um faz com poder e vigor, realizando atos que ele sabe que são errados e o outro está realizando o ato inevitável que tem de fazer e ele não quer, que é se livrar de seu amigo. Nesta cena com Padmé, quando ela não quer contar a ele, ele percebe que a primeira ação dela será correr para Anakin e que, em vez de forçar uma resposta, ele pode simplesmente segui-la.

Cena 15 - Anakin pensativo em Mustafar
Coloquei esse pequeno momento poético aqui, de todos os mortos da Federação e Anakin na varanda meditando sobre o que fez. É a primeira vez que ele tem a chance de pensar por si no que aconteceu. A lágrima aqui diz que ele sabe o que fez, mas agora ele se comprometeu com um rumo do qual discorda, mas no qual vai prosseguir mesmo assim. É o momento que mostra que ele está ciente de ter racionalizado seu comportamento. Está fazendo coisas horríveis, mas ele sabe da verdade. Ele sabe que é mau, e não pode fazer nada. Esse é realmente o momento em que o fato de ele estar preso naquele traje é real. Se ele pudesse voltar atrás, seria diferente, mas agora não pode parar. Ele vê o desenrolar do filme. Não que ele vai ser derrotado por Obi-Wan, mas que seu caminho não pode ser seguido por Padmé, e ele vê as consequências e o fato de que terá de lutar contra Obi-Wan. Ele sabe que tudo terminará em uma luta entre ele e Obi-Wan. Ele sabe que Padmé talvez não a aceitará essa nova realidade e que fatalmente ela descobrirá a verdade. Ele fez um pacto com o Diabo e transformou-se nele. Mas não é algo prazeroso para ele, é triste. O que ela diz no final é, "Sei que ele ainda é bom por dentro". Luke diz depois em O Retorno de Jedi, "Sei que há bem em você". É algo que se repete... Porque há. O que vai retornar o equilíbrio à Força é que há uma gota de bem nele, e é seu filho que o faz entender que tomou a decisão errada e que a hora de racionalizar passou, e que precisa fazer a coisa certa, que é se livrar dos Sith e restaurar o equilíbrio da Força.

Cena 15 - Padmé confronta Anakin
A história de fundo que foi feita em 1973 só descrevia fatos gerais de Anakin no lado sombrio, e ela não podendo segui-lo. Ao descobrir que ele se interessa mais por poder que em salvá-la, ela passa a não querer mais nada com ele. Era tudo que tínhamos para essa cena, quando eles se confrontam. É sobre ela percebendo que ele mudou, que está interessado em ser o imperador do universo e que não é o homem por quem se apaixonou. Ele virou um monstro. E devido à possessividade e à ganância, ele fica extremamente irritado porque ela não o acompanha e quando vê Obi-Wan, é a gota final. Anteriormente, e em várias versões do roteiro havia mais ciúme pessoal entre ele e Obi-Wan, mas eu retirei isso. Agora ela o traiu porque o trouxe para matá-lo.

Cena 16 - O duelo de Anakin e Obi-Wan
Um dos problemas com os Sith é que eles são rápidos para a raiva. Nesta cena com ela era muito importante chegar ao ponto em que ele a estrangula como faz com um dos generais no Episódio IV. Mas mesmo assim ele não a mata. Ele só a faz desmaiar. Mas você vê o lampejo de raiva que ele agora não consegue mais controlar. [...] A qualidade principal de um Jedi é que ele consegue controlar sua raiva. Ele chegou a um ponto em que não controla nada. É pela necessidade de controle e poder e por ficar irritado quando não tem isso. Obi-Wan inevitavelmente tentará impedi-lo. Agora ele acha que ela está ligada a Obi-Wan. Não necessariamente algo romântico, mas mais pelo fato de ambos estarem do mesmo lado, seguindo o mesmo rumo, enquanto ele segue outro. [...] Há muita discusão sobre arrogância, tanto por parte do Imperador quanto dos outros. Então a última coisa real que Anakin fala além de "Eu odeio você" é "Você subestima meu poder", o que é o cúmulo da arrogância. Esta sequência dele se arrastando pela lateral do vulcão e depois pegando fogo é uma das imagens principais que permanecem desde o comecinho. A história original, antes de eu escrever o roteiro do Episódio IV tinha esse momento em que ele se arrasta pela parede do vulcão e pega fogo após Obi-Wan cortar seus braços e pernas. Era essa imagem de como ele se transformou em Dath Vader. É bem aqui, nesta tomada. [...] É meio repulsivo, mas necessário para colocá-lo naquele traje e também é trágico. E precisava ser feito de forma que Obi-Wan pense que o matou, mas não realmente. Eu queria que as chamas durassem até Obi-Wan partir e depois se apagassem e fossem desligadas, por assim dizer. Há várias ocasiões nos filmes, em todos os seis episódios em que pessoas diferentes dizem as mesmas falas em situações diversas, com significados diversos ou não, ou por ironia. Eis uma, que é dentro desse filme, onde a única coisa que ela diz é "Anakin está bem?" Depois passamos a Anakin e ele diz "Padmé está bem?", o que é uma técnica repetitiva que permeia os filmes. Em parte é uma piada, como "Estou com um mau pressentimento" e em parte é pura ironia ou tem outra razão, mas a mesma fala é repetida de propósito.


Cena 17 - O Imperador resgata Darth Vader
Nesta cena, originalmente, o Imperador estava muito escuro e eu tive de clareá-lo, para ele ficar parecendo a Morte. Ele é uma figura quase branca. Uma figura de rosto branco, que é uma versão menos realista do que uma muito escura, que seria sua aparência nessas circunstâncias [de iluminação]. Mas eu queria que ele tivesse um ar fantasmagórico da figura da Morte.

Cena 18 - A cirurgia de Darth Vader e o parto de Padmé
Essa sequência dela dando à luz e Anakin se transformando em Darth Vader originalmente estava dividida em duas cenas separadas. Na edição, eu comecei a entrecortá-las cada vez mais e tirei parte de outro material que não era relevante e acabei cortando só dele para ela e vice-versa. Continuei refinando até acabar com essa versão final onde as transições são principalmente dele para ela. Foi bem entrecortada, pois originalmente ela dava à luz e ele se tornava Darth Vader. Um acontecia após o outro.  [...] É difícil fazer isso num pedaço de papel, mas quando põe as mãos no filme, começa a ver certas coisas e a trabalhar com elas e finalmente elas evoluem naquilo que parece certo para o filme. Em no momento em que ele nasce, ela morre. Então temos o momento em que ele começa a respirar como Darth Vader como símbolo do seu renascimento, seguido da cena dela dizendo que ele ainda é bom, e então morrendo. [...] Aqui, eu me senti muito indeciso em termos de quanto diálogo eu usaria. Quanto seria suficiente para essa cena. Queria que ele se sentisse como o monstro de Frankenstein que fora criado ao se levantar da maca, sem escancarar muito, mas dando a sensação de que o Imperador criou um monstro, e que Anakin tornou-se realmente um monstro, não só fisicamente, mas também em sua alma.

domingo, 14 de maio de 2017

LULA: Culpado ou Inocente? 3 respostas CUIDADOSAMENTE PONDERADAS

O ex-presidente Lula é culpado ou inocente? A questão parece simples, mas as respostas podem ser bastante complicadas.

Depois de alguns dias ponderando calmamente sobre o assunto, chego a algumas conclusões provisórias. Em primeiro lugar, convido o leitor a interrogar sinceramente seus próprios sentimentos, perspectivas, posicionamentos e desejos em relação ao caso:

Quero condenar Lula a qualquer preço? Quero inocentar Lula a qualquer preço? Quero que a Justiça seja feita, independentemente de convicções políticas? Lula é inocente até que se prove em contrário? Lula é inocente mesmo que se prove em contrário? Preferimos sacrificar a lei para prender o Lula? Preferimos sacrificar a lei para inocentar o Lula?

Após refletir devidamente sobre nossas perspectivas acerca do caso, podemos avançar para a seguinte reflexão: o julgamento em questão possui 3 dimensões interligadas, mas autônomas: uma dimensão, política, uma dimensão moral e uma dimensão jurídica.

Adianto minhas conclusões, que explicarei melhor ao longo do texto: em minha opinião, Lula é politicamente culpado, moralmente culpado e juridicamente inocente. Obviamente, cada uma dessas conclusões conduz a consequências políticas, morais e jurídicas particulares, que explorarei a seguir.

Lula: Culpado ou Inocente?


1 - Dimensões jurídicas - O "fator Marisa"

Como já apontei, considero (ao menos provisoriamente) que Lula é JURIDICAMENTE inocente.

Não compro a interpretação de que a Operação Lava-Jato (doravante OLJ) seja uma grande conspiração antilulista e antipetista. Apesar de inúmeras dificuldades, ambiguidades, deslizes e tropeços que passam necessariamente pelo campo da política, não creio que a OLJ seja um grande e maquiavélico "julgamento político".

Pelo que já li sobre Sérgio Moro e alguns dos integrantes do MP envolvidos, minhas convicções políticas são diametralmente opostas às deles, o que não desmerece sua competência jurídica. Por sinal, é o tipo de julgamento em que só poderíamos esperar plena e idealizada "imparcialidade" se nosso aparato jurídico fosse operado por anjos descidos do Céu ou por aliens vindos de Júpiter. Como o processo é conduzido no Brasil, por participantes terrícolas, seria quimérico esperar condições "ideais".

Ao contrário de muita gente dos dois lados do Moro - digo, do muro - eu me dei ao trabalho de ler quase integralmente a denúncia apresentada pelo Ministério Público, e de assistir praticamente toda a arguição de Lula conduzida por Moro (perdi dois dias inteiros de minha preciosa existência fazendo isso). Da mesma forma, pretendo ler a sentença do juiz em seu inteiro teor, assim que for divulgada, antes de emitir qualquer opinião. Obviamente meu parecer é de leigo, embora conheça um pouquinho de nosso ordenamento jurídico, bem como do manuseio de evidências documentais (o feijão-com-arroz do historiador).

Em primeiro lugar, a denúncia é clara, objetiva e bem delimitada: Lula é acusado dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, dentro dos marcos legais do Código Penal. Como se sabe, lavagem de dinheiro é um crime muito sofisticado, difícil de rastrear e ainda mais difícil de comprovar. Todos nós sabemos que laranjas, testas-de-ferro, doleiros e outras figuras desse jaez existem justamente para impedir ou dificultar a detecção e identificação de fluxos de dinheiro, bens etc, dentro e fora do país. Sabendo disso, é difícil imaginar que Lula (que de bobo não tem nada) teria muita coisa em seu próprio nome.

Tudo isso nos leva à questão das provas. Ao contrário daqueles que só viram o famoso Power Point, a denúncia apresenta vasta e diversificada gama de evidências documentais. Algumas dessas evidências são fortes, e outras mais fracas. Não há, realmente, provas materiais (uma escritura com a assinatura de Lula, p. ex.), mas existem muitas provas circunstanciais (contrato com assinatura de Dona Marisa, mensagens de texto para o filho de Lula, a declação de imposto de renda do próprio Lula etc). Reunidas e conjugadas, essas provas circunstanciais compõem um conjunto que deixa muito claro que havia coisas estranhas (estranhíssimas, até) acontecendo em torno dos famosos triplex do Guarujá, sítio de Atibaia e depósitos da Granero. Na melhor das hipóteses, o casal Lula mantinha relações muito promíscuas com grandes agentes do poder privado, recebendo presentes e favores milionários com certa regularidade - tema ao qual voltaremos na segunda e terceira parte desse texto.

Além dessas provas documentais circunstanciais, temos os relatos fornecidos através de acordos de delação - que alguns, para efeitos de retórica política, preferem chamar de delações "premiadas". Esses relatos complementam as evidências circunstanciais, e ajudam a elaborar uma explicação razoavelmente coerentes sobre o conjunto documental em questão. As delações, em si mesmas, não constituem provas suficientes para a condução do processo, mas apresentam testemunhos relevantes corroborados com verossimilhança pelos documentos encontrados. Isolar documentos e delações é falacioso, além de falsear a denúncia encaminhada pelo MP.

Temos um outro problema sério: juntar as duas pontas do processo. Sem a devida comprovação de indicações de má-fé a cargos de confiança, fica difícil provar a corrupção passiva (o que não significa que ela não aconteceu). Sem boas provas de corrupção passiva, a defesa pode (e irá) alegar que não houve lavagem de dinheiro: Lula e família teriam apenas recebidos presentes e favores milionários, em condições um tanto obscuras. E receber certos presentes, embora moralmente questionável, não é crime... A fragilidade nessa ponta do processo é que há provas da corrupção de pessoas indicadas por Lula a cargos comissionados; as indicações propriamente ditas são fatos públicos e notórios, mas é muito difícil comprovar que Lula sabia de antemão o que essas pessoas fariam (ou poderiam fazer) nesses cargos. Podemos (e devemos) julgar Lula responsável política e moralmente por aqueles que ele indicava a cargos públicos, mas responsabilizá-lo juridicamente por isso é questão muito mais complexa. Abordaremos o reverso dessa moeda nas partes posteriores do texto.

Até aqui nos alongamos apenas acerca da denúncia. Ufa! Ainda temos um longo caminho pela frente, explorando a arguição conduzida pelo juiz Moro a partir da denúncia recebida do Ministério Público.

Apesar de alguns momentos de tensão exacerbada, me pareceu que Moro conduziu a dita arguição de modo bastante objetivo e respeitoso. Quem tentou politizar o momento de modo fortíssimo foram o próprio Lula, o PT e seus aliados. Não digo que essa percepção seja correta, mas, enfim, é a minha percepção.

Uma parte considerável da arguição - a primeira a ser divulgada publicamente, por sinal - foi conduzida quase exclusivamente em torno das evidências documentais coligidas e catalogadas pela acusação. Moro fez perguntas claras e objetivas cuidadosamente escoradas em evidências documentais individuais, assim como sobre as possíveis relações existentes entre elas. Dessa forma, o juiz tentou obter de Lula uma argumentação plausível ou verossímil acerca da documentação - enquanto conjunto e enquanto peças individuais. Grande parte das questões poderiam ser respondidas com um "sim" ou um "não", o que não impediu Lula de tergiversar em diversas delas.

Lula respondeu a boa parte dessas questões afirmando que não sabia, não se lembrava ou que "parecia que". Vale lembrar que o ex-presidente exercia assim seu direito de não produzir provas contra si mesmo, embora pareça estranho para alguém que se diz sempre tão disposto a esclarecer a situação. Na minha opinião, os supostos "esclarecimentos" de Lula não se mostraram nada elucidativos. Até aí, nenhum problema para o ex-presidente, uma vez que o ônus da prova cabe à acusação, e não a defesa - ou seja, é o Ministério Público quem deve provar a culpa de Lula, mas ele não precisa provar sua inocência. Em suma, Lula é JURIDICAMENTE inocente até que o Ministério Público prove em contrário, além de qualquer DÚVIDA RAZOÁVEL.

Quanto ao problema das indicações para cargos de confiança, Lula e sua defesa seguiram uma estratégia óbvia: afirmar que o então presidente não tinha motivos prévios para suspeitar daqueles que indicava. Com efeito, Lula atribuiu sistematicamente as indicações a terceiros, sustentando que "apenas assinava" os papéis, confiando plenamente na idoneidade de seus aliados que faziam as indicações. É juridicamente plausível, por mais que seja politicamente incrível. Incrível especialmente quando essa atitude vinha de alguém com décadas de vida política (no Brasil!!!) e, mais ainda, passou toda a década de 90 bradando contra a corrupção que grassava no sistema político-partidário de nosso país. É necessário imaginar que, após eleito, Lula teria sofrido uma estranha metamorfose, tomado por um inconcebível surto de confiança nas pessoas que transitam por um ambiente que todos sabemos recheado de intrigas, traições e desonestidade. A crer no depoimento de Lula, ele seria uma estranha aberração política: um inocente e ingênuo cordeirinho, perdido no meio de uma alcateia esfomeada. Por mais absurdo que isso pareça, creio que há pouca margem jurídica para condená-lo por isso. Mais uma vez, inocente até que se prove o contrário. Se Lula indicou essas pessoas de boa-fé, não há crime de corrupção passiva - e, consequentemente, não há crime de lavagem de dinheiro.

É aqui que entra um argumento-chave elaborado pela defesa de Lula com grande senso de oportunidade. Boa parte das evidências circunstanciais se ligam à falecida primeira-dama Marisa Letícia, e até algumas provas materiais. Dona Marisa seria peça central nesse julgamento: haveria provas materiais envolvendo-a, estreitando a vinculação de Lula ao caso. As explicações que ela fosse capaz (ou não) de fornecer acerca da documentação em questão seria essencial para a definição da sentença de Moro. A morte de Marisa Letícia era um fato com o qual o Ministério Público não podia contar, e que vira o jogo em favor da defesa de Lula. Agora contamos apenas com a versão de Lula sobre os fatos, que pôde assim atribuir à falecida esposa boa parte das responsabilidades, ao mesmo tempo que alegando seu desconhecimento ou esquecimento sobre as circunstâncias em que parte dos documentos foi produzida. Esse movimento de esquiva não seria possível - ou, pelo menos não tão fácil - caso Dona Marisa ainda estivesse entre nós.

Sem o depoimento dela, a denúncia apresentada pelo Ministério Público fica gravemente desarticulada, tornando a situação muito favorável à defesa do ex-presidente. Resta, todavia, um ponto fraco na linha defensiva, que ficou muito claro durante o depoimento. A linha de argumentação apresentada por Lula durante essa semana entra em flagrante contradição com nota divulgada pelo Instituto Lula em janeiro de 2016, assim como com o depoimento do próprio Lula à Polícia Federal, no famoso episódio de condução coercitiva (ou despertar da jararaca). Nessas versões anteriores, Lula é o protagonista da história, e não sua esposa. Resta saber que interpretação (se alguma) Moro atribuirá a essas contradições; só saberemos disso quando tivermos a sentença à nossa disposição - se nos dermos ao trabalho de ler a sentença, é claro...

Concluindo essa primeira parte, deixo claro que, do MEU ponto de vista NÃO-JURÍDICO, Lula é, com muita verossimilhança, culpado das acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. No entanto, havendo margem para qualquer dúvida razoável acerca do conjunto do processo, LULA PERMANECE INOCENTE, DO PONTO DE VISTA ESTRITAMENTE JURÍDICO. Resta à acusação, em suas alegações finais, argumentar de modo convincente para dirimir essas dúvidas, cabendo por sua vez à defesa destacar de modo convincente todos os pontos em que é possível estabelecer dúvidas razoáveis acerca da acusação. Finalmente, com base nessas alegações finais das duas partes, o juiz Moro emitirá sua sentença - e caberá então, a nós, cidadãos, examinar e discutir essa sentença em seu inteiro teor - e não apenas com base nos memes que circulam pela Internet.

2 - Dimensões morais - Os dilemas da consciência

Acabamos de examinar os aspectos jurídicos do caso. Em suas facetas jurídicas, o caso envolve critérios objetivos (a letra da lei) e interpretações subjetivas acerca da mesma lei - quase nunca é fácil separar esses aspectos. A boa notícia é que eu e você, caro leitor, não somos juiz nem partes do processo! Ao contrário do que afirma com sua habitual lábia, quem está no banco dos réus é o ex-presidente Lula, e não "o povo brasileiro". De minha parte, ao menos, Lula não me representa moral ou politicamente desde 2014.

Isso, todavia, não me exime de ponderar a questão sob um ponto de vista moral, e até, dolorosamente, do dever moral de defender Lula caso considere que seu julgamento não foi conduzido de forma justa.

Vale lembrar dois episódios fundadores da cultura ocidental, da qual nós e nosso presente ordenamento jurídico somos herdeiros, para o bem e para o mal. Ambos episódios, ocorridos há muitos séculos, se situam na curiosa zona de penumbra entre a História e o Mito.

Um desses episódios é o julgamento de Sócrates, onde o eminente filósofo foi acusado de corromper a juventude da cidade de Atenas, induzindo-a à impiedade contra os deuses da pólis. Em sua Apologia de Sócrates, Platão retrata o filósofo apresentando seu ponto de vista com humildade, simplicidade e honestidade. Em sua defesa, Sócrates se apresenta apenas como alguém que busca implacavelmente a Verdade. O filósofo, todavia, já se sabia condenado desde o princípio, e entre o exílio e a cicuta, prefere a execução, entregando-se sem resistência às mãos de um júri faminto por vingança.

O outro episódio, muito mais famoso, nos fala de outro julgamento, ocorrido na cidade de Jerusalém. Um homem da Galileia, conhecido como Jesus de Nazaré, foi condenado (em "primeira instância", digamos assim) pelas autoridades judaicas ligadas ao Templo, após uma captura e um processo noturnos e questionáveis. Conduzido a Pilatos, representante do Senado romano na região, Jesus foi entregue à multidão frenética, que gritava "Barrabás, Barrabás"!

Guardados os devidos distanciamentos culturais e as numerosas reinterpretações desses episódios que emergiram através dos séculos, as figuras de Sócrates e Jesus constituem imagens-exemplos-modelos-símbolos-mitos-arquétipos-etc que estão nas bases de nossa cultura, de nossa organização social e do esquema geral de nossos valores. O filósofo grego e o profeta judeu representam a figura do Justo Culpabilizado, do Inocente Condenado - imagens que, independentemente de nossas crenças filosóficas e/ou religiosas, nos lembram que o Poder das leis pode muitas vezes ser deturpado, desviado e usurpado para a satisfação de apetites políticos bárbaros e cruéis.

Nesse sentido, temos um duplo dever moral: se a sentença de Sérgio Moro nos parecer justa, devemos permitir o cumprimento da pena dentro dos marcos da lei, por mais que simpatizemos politicamente com Lula; por outro lado, se a mesma sentença nos parecer injusta, temos o dever de cobrar sua retificação, por mais que Lula nos provoque aversão. Caso contrário, como o povo que outrora gritava "Barrabás", nos tornaremos cúmplices de um julgamento injusto, sujando assim nossas mãos.

Como já deixei claro, Lula me parece culpado, e nem de longe creio que ele se compare em alguma medida a Sócrates ou Jesus (por mais que ao longo de sua carreira, Lula tenha articulado um fortíssimo messianismo político, calcado em imagens profundas do imaginário ocidental, do qual muitos cidadãos brasileiros, inclusive nas cátedras universitárias, não conseguem se livrar).

A questão, aqui, todavia, não é essa. A questão diz respeito à decisão sobre o que é mais importante para nós: a preservação de nossas leis e de nosso ordenamento jurídico ou a condenação de Lula a qualquer custo? Essa escolha diz respeito à consciência de cada um, mas é um claro indicativo daquilo que desejamos (consciente ou inconscientemente) para nossa nação: um país de arbitrariedade jurídica sem limites, ou uma terra onde todo cidadão seja realmente inocente até que prove em contrário, além de qualquer dúvida razoável?

Em suma, de um ponto de vista estritamente moral, como já disse, considero que Lula é culpado; por outro lado, ao fim do processo, precisarei decidir se, de uma perspectiva igualmente moral, devo ficar satisfeito ou insatisfeito com os resultados do processo, e se quero ou não assumir a culpa por um julgamento injusto.

Como já disse, nos cabe agora aguardar as alegações finais da acusação e da defesa, bem como a sentença do juiz, para aquilatar devidamente se é um julgamento do qual, enquanto cidadãos, podemos nos orgulhar ou se é um processo do qual, enquanto cidadãos, devemos nos envergonhar. Aguardemos.

3 - Dimensões políticas - Lula, Dilma e PT no banco dos réus

Para além das questões puramente jurídicas ou morais envolvidas, nós, cidadãos brasileiros, temos o dever civil de emitir um juízo político acerca da conduta de Lula, Dilma e PT no poder.

Fui eleitor vagamente esperançoso de Lula em 2002, anulei meu voto no segundo turno de 2006, votei em Dilma no segundo turno de 2010, com medo do Serra e, finalmente, me abstive de votar no segundo turno de 2014, embora torcesse por Dilma como candidata "menos pior". Desse modo, sou parcialmente responsável por tudo aquilo que o PT fez no poder, especialmente durante os primeiros mandatos de Lula e Dilma, respectivamente.

Os "pactos de governabilidade" forjados pelo PT desde 2002 e até antes sempre me incomodaram, o que se agravou durante o escândalo e julgamento do Mensalão - embora discorde de muitas decisões judiciais ao longo desse processo.  Os acontecimentos políticos de 2013 e 2014 me afastaram irremediavelmente do PT, à medida que deixaram muito claro - ao menos para mim - que os pactos de governabilidade do PT-PMDB, essa monstruosidade bicéfala, estavam acima da vontade da população, ainda que manifesta com grande barulho: os anos no poder haviam tornado o PT inteiramente surdo aos clamores populares...

Nesse sentido, meu veredicto político acerca do PT já foi emitido há muito tempo, e isso não será alterado, apesar de quaisquer resultados do julgamento em curso. Inocente ou culpado, Lula não será meu candidato em 2018, e não deve contar com meu voto ou com minha presença em seus comícios. Tampouco me deixarei envolver pela estranha mistura de tribunal-palanque que Lula e seus aliados vêm tentando articular em torno da Operação Lava-Jato. Minha eventual defesa moral de Lula será sempre pautada por um cuidadoso e deliberado afastamento político, pois não desejo ser usado como massa de manobra por essa gente.

Conclusões

Devemos permanecer atentos a essas três dimensões presentes nesse julgamento, para além de nossas paixões ideológicas, posicionamentos partidários ou convicções políticas. Há nessa conjuntura imenso espaço para variadas interpretações subjetivas e, nesse sentido, minha mensagem principal ao fim desse longuíssimo texto é a seguinte: não transformemos esse julgamento em causa de divisões irremediáveis entre nós. Estamos todos no mesmo barco chamado Brasil, independentemente de nossas opiniões. Os conflitos e divergências são naturais, mas tentemos escutar uns aos outros e entender (ou ao menos respeitar) os pontos de vista alheios, por mais que discordemos deles. Não existe democracia sem diálogo, e nesse momento de amargas transições nosso país precisa desesperadamente que construamos pontes e derrubemos muros. Nosso futuro enquanto coletividade depende disso a curto, médio e longo prazo...

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Da utilidade das teorias conspiratórias

Texto do historiador Fred Oliveira.

Teorias da conspiração suprem desconhecimento e tapam buracos de qualquer insensatez.

Tornam a vida e o mundo mais coerentes, afinal a realidade de alguns fatos e constatações constrangem. 

Assim, quando se embarca nas teorias conspiratórias (que são fascinantes) só se precisa dizer algo e arrematar tudo com um imponderável, uma causa ausente mas possível (tudo é possível), mobilizada por sujeitos objetivados pela conveniência de dar a qualquer "raciocínio" uma capa de aparente coerência, um sentido que nos acalenta o afeto. 

Isso não explica, claro, a opção de muitos por acreditar e endossar teorias da conspiração, mas percebemos que o óbvio, para alguns, é como aquela má notícia sobre alguém da família... para pais e mães, às vezes, é mais conveniente acreditar somente no que mantém a harmonia do familiar!

quinta-feira, 11 de maio de 2017

A boa e velha política de responsabilidades terceirizadas

Texto preciso do historiador Fred Oliveira

Como já escrevi, "fico me perguntando que virtude teria Lula que o tornasse assim tão especial como ele pretende ou se acha parecer. E ele, para coroar, disse que não tinha responsabilidade com tudo que ocorreu. 

Como assim? O cara era o que? O auxiliar de serviços gerais ou o presidente da república? (...) E o Brasil, mais uma vez, um detalhe. 

Terceirizar responsabilidade (o ministro, o deputado) ou abraçar as delicias conspiratórias que lotam postagens de rede social e, agora, até cadeiras universitárias (a imprensa, as elites, o tatu-bola, o Velho Zuza ou o Mr. Magoo, etc) não dirimem responsabilidades. 

Transformar político em algo além do que ele é, um político, é uma má lição para as gerações seguintes e uma contradição tremenda para quem reclama da política como um todo. O depoimento em si foi tranquilo, pelo que vi... As torcidas nas imediações do tribunal é que deram ares de espetáculo a algo que deveria ser normal.

O depoimento de Lula e o Estado de Exceção

Ao longo de seu depoimento, Lula fez inúmeras pirraças e até ameaças veladas ao juiz. Em situação semelhante, qualquer outro cidadão teria sido preso por desacato... Excepcional!

Questões


1 - Seria Lula o último discípulo de Sócrates?!

2 - O triplex é em Acapulco ou no Guarujá?!

3 - Onde está Carmen Sandiego?!

Cenas reveladoras do depoimento de Lula (envolvendo Chavez e Seu Maduro)

Chamem Schrödinger!

1 - A Operação Lava-Jato é uma conspiração antipetista para destruir as conquistas do povo brasileiro.

2 - O "golpe" foi orquestrado para impedir a Operação Lava-Jato.

CONCLUSÃO: Segundo a militância petista, o "golpe" foi uma conspiração antipetista realizada para impedir outra conspiração antipetista. Ou eu estou apenas muito confuso...?! Fico até me perguntando se o Lula atropelou o gato ou o Quico...



4 conselhos aos cidadãos brasileiros

Caro cidadão brasileiro,

se você "torce" pelo Moro, respeite aqueles que "torcem" pelo Lula.

Se você "torce" pelo Lula, respeite aqueles que "torcem" pelo Moro.

Se você não torce por ninguém, tem meu total apoio, porque, na minha opinião, cidadania não é torcida.

Discuta o tema à vontade, pois democracia é diálogo, mas não brigue com amigos e parentes por isso: a briga é o fim do diálogo - e da democracia.

Cordialmente,
LF

Carta aberta sobre um imóvel no Guarujá

Caro ex-presidente Lula,

sei que sua pergunta foi dirigida ao juiz Moro, mas finjamos que ela seja para mim.

Sim, eu sou casado. Já aconteceu de minha esposa entrar numa sapataria e gastar muito dinheiro lá sem me consultar. Por outro lado, já aconteceu de eu gastar mais do que devia adquirindo livros e jogos eletrônicos. Enfim, é o tipo de coisa que acontece - faz parte da vida matrimonial.

No caso da minha família, de classe pobre alta, as consequências desse tipo de episódio de compra impulsiva são um tanto desagradáveis, pois gastos inopinados têm um impacto considerável sobre nossa renda familiar, com desdobramentos financeiros impossíveis de ignorar. Parece trivial, mas não é. Uma verdadeira dor de cabeça.

Acho curioso que o senhor compare esse tipo de situação à aquisição de um imóvel. Para a maioria dos brasileiros, adquirir um imóvel é uma verdadeira epopeia - até para comprar esses imóveis "baratinhos" do "Minha Casa, Minha Vida" que o senhor tanto parece desprezar. Para a maioria de nós, comprar um imóvel é algo completamente diferente de comprar sapatos.

Há pouco tempo li uma entrevista que o senhor concedeu à revista Playboy em 1979. À época, o senhor comentava como fôra difícil adquirir uma casinha num projeto do Banco Nacional da Habitação. Fico espantado ao constatar que seu patrimônio familiar tenha crescido tanto nesses últimos 38 anos a ponto de que adquirir um imóvel à beira de uma praia muito valorizada no litoral paulista tenha se tornado uma coisa tão trivial para sua família - comparável a comprar sapatos. Uma comparação realmente espantosa, em minha pobre opinião. Me lembrou até o depoimento da Sr.ª Adriana Ancelmo, ex-mulher do governador Sérgio Cabral (que o senhor conhece tão bem), a qual não se espantava em ganhar de presente de um desconhecido uma poltrona de 17 mil reais.

Enfim, no lugar do juiz Moro - pelo qual não nutro qualquer admiração, diga-se de passagem - eu não saberia exatamente o que responder à sua pergunta retórica.

Cordialmente,
Prof. Luiz Fabiano de Freitas Tavares

Dá pra acreditar...?!

Acredite se puder: minha esposa assinou um contrato de compra de um imóvel, depois ela pagou parcelas, eu declarei no imposto de renda, e aí, não sei por que motivos, eu nunca mais ouvi falar do imóvel, nem me preocupei com a questão, porque, afinal de contas, eu e minha esposa achamos dinheiro pela rua para sair comprando imóveis por aí, e depois largamos os investimentos feitos pela metade. Porque sim.

Esclarecimentos

"Não sei..."

"Fulano indicou Beltrano e eu só assinei".

"Não sei..."

"Parece que..."

"Não sei..."

"Eu não tenho influência nenhuma no partido pelo qual fui presidente duas vezes".

"Não sei..."

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Impressões sobre o depoimento de Lula

Pelo que vi no depoimento de hoje, me ocorrem duas possibilidades:

1- Lula é culpado.

OU...

2- Lula é inocente, mas era um presidente desatento, omisso e irresponsável, que delegava funções importantes de modo extremamente leviano.

Em suma, o ex-presidente foi a Curitiba para (teoricamente) prestar esclarecimentos, mas só ofereceu desculpas (pouco coerentes) que o fazem parecer um governante ingênuo e desleixado.

Pior ainda, figura como uma pessoa totalmente descuidada de seu próprio patrimônio pessoal e familiar, o que não é exatamente abonador para alguém que geriu um país inteiro durante 8 anos...

Ao dizer que pouco se interessava pelas dinâmicas internas de seu próprio partido também se expõe a ridículo - afinal de contas, seria ele um "analfabeto político"...?!

A alternativa 1 tem conotações jurídicas; a alternativa 2 tem conotações políticas - muito sérias, por sinal.
Os "moristas" agem como se o juiz fosse parte; os "lulistas" agem como se o juiz fosse réu. Na pátria de chuteiras, tudo vira questão de torcidas...

terça-feira, 9 de maio de 2017

Nessa grande casa de tolerância chamada Brasil não há virgens - nem o juiz Moro, nem o ex-presidente Lula, nem a Veja, nem o Diário do Centro do Mundo. Boa noite. Descansem em paz - se puderem...

domingo, 7 de maio de 2017

O Brasil segundo Escher

Mão esquerda e mão direita:
PMDB desenhando o PT desenhando o PMDB.


 A ascensão da Nova Classe Média.

Convenção anual do Partido Angélico Brasileiro.

 O futuro é por ali!

O povo brasileiro defendendo seus interesses.

O Brasil precisa de soluções simples.

 Eleições de 2018.
Ciências, Filosofias e Religiões são janelas abertas sobre o mundo. Mas há quem tome as janelas pela paisagem...

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Rótulos, slogans e argumentos

Não confunda rótulos ou slogans com argumentos; geralmente os rótulos e slogans servem apenas como lápides para indicar (vagamente) o lugar onde os argumentos foram enterrados. Muita gente acha que berrar slogans equivale a pensar, mas a diferença é considerável... Não confunda o pensamento vivo com seus pálidos fantasmas.

terça-feira, 2 de maio de 2017

Qualquer trabalho dignifica o homem?

Trabalho é vida.

Todos os seres vivos trabalham, de alguma maneira. Animais, plantas e até bactérias empreendem algum tipo de esforço para sobreviver.

O ser humano começa a trabalhar assim que nasce, se esforçando para respirar e digerir, e mais tarde aprendendo a se locomover.

Através do trabalho, transformamos o mundo em um lugar um pouco menos hostil a nossa espécie. Pela magia do trabalho, sementes, argila e minérios passam à condição de alimento, moradia e ferramentas.

Alguns dizem que o trabalho liberta. Com efeito, ao longo da História, o trabalho efetivado por muitas gerações libertou os seres humanos de algumas das condições de vida mais difíceis, fornecendo meios de viver com mais conforto e segurança, oferecendo proteção contra intempéries, doenças e inúmeras outras dificuldades naturais.

Também dizem que o trabalho dignifica o homem. Será verdade? Qualquer trabalho dignifica o ser humano?

Vivemos hoje numa sociedade muito complexa, e muitos ofícios são necessários ao funcionamento de nosso mundo globalizado. A maioria das profissões é útil à coletividade em alguma medida e, assim sendo, são dignas.

No entanto, nem todas as condições de trabalho permitem que as pessoas vivam com dignidade.

O trabalho deveria nos permitir viver, mas muita gente trabalha apenas para sobreviver: quando uma pessoa passa a maior parte de sua semana realizando alguma tarefa e presa em intermináveis engarrafamentos apenas para ganhar um salário miserável que mal lhe permite pagar o aluguel e as contas, sustentar a família ou até cuidar de sua própria saúde, sua dignidade lhe é roubada. Mal lhe sobra tempo para conviver com amigos e familiares, cultivar o espírito através do estudo e outras atividades edificantes e gratificantes. Nossa sociedade trata a maioria de seus trabalhadores como reles animais, como se precisassem apenas de uma ração barata e uma toca limpa para viver...

Quando o trabalho é digno, mas o trabalhador não recebe condições de viver com dignidade, é uma grande hipocrisia dizer que "o trabalho dignifica o homem"...


George Monbiot on Neoliberalism: "A self-serving racket"

Os mundos e suas placas

Cerca de meia-noite.

Abro os olhos no vagão de trem fracamente iluminado. As entranhas do veículo parado emitem um suave zumbido. Ainda sonolento, olho pela janela e levo um tremendo susto. O trem se encontra parado numa pequena estação ferroviária, deserta. A placa da estação ostenta palavras incompreensíveis. Polonês...?! O que teria acontecido?!

Eu partira de Paris ao cair da tarde e adormecera ainda na França, a caminho de Madri. Teria o trem tomado a linha errada, rumando para algum lugar da Europa Oriental? Mas... como?! Seria impossível percorrer tamanha distância em tão pouco tempo! Como o maquinista não teria percebido que viajávamos na direção errada? Seria isso possível?! Onde estaríamos? Onde?! O que se passava?! Estaria eu dormindo ou acordado?! Seria aquilo um sonho?

Durante alguns minutos me debatia nesses pensamentos angustiados e desconcertantes, quando finalmente me dei conta do que se passava: estávamos no País Basco! A língua estranha naquela placa não pertencia ao Leste Europeu, mas aos Pirineus.

Passei por essa curiosa experiência em 2012. Além de engraçada, ela me parece instigante em vários sentidos. Antes de tudo, pelo modo como o letramento informa nossa percepção de mundo, a ponto que a mera leitura de um placa possa provocar tamanho estranhamento, induzindo até uma angústia pavorosa. Ao mesmo tempo, lembra quanto nossas próprias percepções de espaço, distância e tempo incorporam também dimensões linguísticas às quais mal prestamos atenção, a não ser quando nos deparamos com o inesperado.

Não é apenas uma questão de língua, todavia, mas de contexto social específico. Digamos, se eu tivesse avistado um simples cartaz em basco afixado à parede da estação, a sensação de estranhamento talvez fosse menos brutal. Há aí um problema de convenções de sinalização: eu sabia que aquela não era uma placa qualquer, mas que indicava o nome do lugar onde estávamos - um nome que não parecia nada francês ou espanhol. Um nome estranho, num determinado contexto convencional, foi capaz de me induzir a imaginar coisas absurdas e extremamente improváveis. Nesse caso, as convenções, que normalmente servem para facilitar e orientar nosso trânsito pelo mundo, atuaram de modo inesperado, desorientando e dificultando a percepção da realidade. No limite, a sonolência contribuiu até para que me pusesse a questionar a própria realidade de minhas percepções naquele momento!

Essa situação me trouxe curiosas ressonâncias, lembrando a epopeia ferroviária de Jacinto de Tormes em A cidade e as serras, perdido entre os mundos francês e ibérico...

Mas minhas experiências estranhas com placas ainda não estavam esgotadas naquela semana. Após breve estadia em Madri, seguimos para Lisboa. Depois de dois meses morando em Paris, finalmente retornava a uma terra onde se fala minha língua nativa.

No entanto, em inúmeros momentos, me pegava estranhando algumas placas, escritas em minha própria língua. Após minha brevíssima passagem por Madri, meu primeiro impulso em diversos momentos era de achar que havia erros de tipografia nas placas, invariavelmente seguidos, após um lapso infinitesimal, pela consciência de que elas estavam escritas em português... não em espanhol! Esses pequenos equívocos aconteciam sempre em momentos que me encontrava distraído, causando um breve desconforto, quase como um susto.

O mais curioso nisso tudo é que, durante os dois meses que passara em Paris, não perdera contato com a língua portuguesa. Era a língua que usava em casa com minha esposa, bem como com os demais companheiros de andar na Casa do Brasil da Cidade Universitária. Era também a língua com que mantinha contato cotidiano com meus amigos do Brasil, através da Internet, sem falar nos livros em português que levara do Brasil e nos telefonemas para a família. Em suma, não passei nenhum dia na França sem usar a língua portuguesa - falando, ouvindo, lendo, escrevendo. Como era possível que viesse a estranhá-la tanto, em Lisboa? Estranhar uma língua tão estranha quanto o basco, vá lá, mas estranhar minha língua nativa e cotidiana... Não fazia nenhum sentido!

Mais uma vez, me parece, trata-se de uma questão de contexto. Durante os dois meses anteriores eu realmente utilizara o português em meu dia-a-dia, mas em situações muito específicas: em livros, no computador ou na comunicação oral. Praticamente tudo que via em ambiente urbano estava escrito em francês. Naqueles dois meses, a língua de Molière se tornara minha língua de uso público, enquanto a língua de Camões era minha língua de uso privado. Inconscientemente, eu criara para mim dois mundo linguísticos paralelos em uma mesma cidade: minha Paris era francófona e lusófona ao mesmo tempo.

Desse modo, chegando a Lisboa, me encontrava num ambiente linguístico um tanto diferente, onde o português retornara um tanto bruscamente à condição de língua única. Era, na verdade, meu ambiente familiar, do qual me desacostumara: ali estava eu, parodiando Lévi-Strauss, a estranhar o familiar...!

"Minha pátria é a língua portuguesa", disse Fernando Pessoa. Tomo a liberdade de acrescentar que nossos mundos são nossas línguas e seus contextos, repletos de estranhos estranhamentos...

Nem tenho certeza se isso aqui é basco, mesmo...

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Chaves, Dona Florinda e os direitos dos trabalhadores

Dona Florinda contratara o pequeno Chaves para trabalhar em seu restaurante em troca das gorjetas que conseguisse obter dos clientes. O jovenzinho ingressava assim nas fileiras do trabalho infantil e do mercado informal de trabalho. Uma situação muito comum na América Latina em meados dos anos 70 - e relativamente comum até hoje, a bem da verdade.

Em certo episódio, o restaurante é invadido por Dona Neves, acompanhada por representantes da Associação Pró Direitos Femininos (APDF ou "Alfafa para Dona Florinda), do Diretório Nacional dos Veteranos em Restaurantes (DNVR ou "Dona Neves Velha Reumática) e União dos Trabalhadores Pró Juventude (UTPJ ou "Uma Torta para Jaiminho").

Segue-se um simulacro de greve e negociação trabalhista, onde Chaves sucessivamente serve e retira a torta do carteiro Jaiminho, cliente do restaurante. Dona Florinda se mostra inflexível perante as reivindicações legais apresentadas em favor do pequeno garçom. Ao fim e ao cabo, após inúmeros desentendimentos e aborrecimentos, Dona Neves e os demais manifestantes batem em retirada, deixando Chaves entregue à própria sorte e aos desmandos de sua patroa.

Até aqui, a trama segue de perto a vida real. Um trabalhador, inconsciente de seus direitos ou incapaz de reivindicá-los efetivamente, se submete à exploração fora das determinações legais. Organizações sindicais e sociais barulhentas e ineficazes encampam um simulacro de luta trabalhista, ao mesmo tempo que não concedem qualquer espaço ao próprio trabalhador para se expressar ou deliberar, falando por ele e não com ele. No fim das contas, o trabalhador permanece alijado de seus direitos e impotente perante a situação.

Em seus minutos finais, todavia, o roteiro de Roberto Goméz-Bolaños  se desvia da realidade. Num repentino e inexplicável surto de consciência, Dona Florinda (que odeia a gentalha) se decide a conceder voluntariamente o cumprimento dos direitos de Chaves.

Apesar de moralmente edificante, o episódio é socialmente desalentador. O trabalhador está à mercê dos caprichos e da boa vontade de seu empregador, que decide unilateralmente se cumpre ou não a legislação trabalhista vigente. Sabemos que esses finais felizes são raros na maioria dos casos.

Temos hoje às nossas portas uma proposta de reforma da lei trabalhista que fragiliza ainda mais a situação dos trabalhadores brasileiros, especialmente na ideia de fazer prevalecer o contratado sobre o legislado. O trabalhador estará livre para negociar com seu empregador - tão "livre" quanto um coelho que "negocia" com um lobo.

A maioria dos trabalhadores se encontra em situação tão precária quanto a do pequeno Chaves, mas haverá por aí tantos patrões dispostos à generosidade de Dona Florinda?! Olhe à sua volta, caro leitor...

[Durante a greve de 2013 da Educação municipal do Rio de Janeiro tracei analogias ligeiramente diferentes em torno desse episódio, no contexto específico da ocasião, disponíveis no post "Retire a torta!"-Chaves e a greve dos professores, onde o leitor também encontra a íntegra do episódio.]

Transformar o trabalho em jogo, para melhor alienar [ou "Trabalhando na era Uber"]

Tradução da coluna de Xavier de La Porte em 1º de maio de 2017

Se a festa do trabalho acontece em 1º de maio, é por causa dos movimentos operários que aconteceram nos Estados Unidos em 1884. Talvez seja nos Estados Unidos que se deva buscar as novas formas de alienação... E no Uber em particular. Porque se o termo de uberização já passou para a língua designando essa economia de plataformas que põe em contato direto clientes e trabalhadores independentes, será sem dúvida necessário acrescentar à palavra um conteúdo suplementar. Pelo menos é a isso que nos incita uma fascinante investigação publicada no mês passado pelo New York Times.

Uma investigação que nos mostra que a Uber, enfrentando uma crescente contestação de seus motoristas, decidiu utilizar as ciências comportamentais para reformar a relação entre a plataforma e as pessoas que trabalham para ela. O problema do Uber é que seus motoristas são trabalhadores independentes. Isso permite aliviar consideravelmente os custos da empresa, mas há uma preocupação: esses trabalhadores trabalham onde querem, quando querem. Logo, não necessariamente onde a Uber gostaria, no momento em que a Uber gostaria (ora, o sucesso do Uber repousa sobre o fato de que o cliente espera o menos possível, especialmente nas horas de pico). Como fazer para controlar trabalhadores livres, para incitá-los a trabalhar no interesse da empresa, e às vezes contra seu próprio interesse? É a problemática da Uber. Durante muito tempo, para levar os motoristas aos locais de afluência nos momentos de pico, Uber o fazia à moda antiga, enviando e-mails e sms, alguns gerentes utilizavam até um pseudônimo feminino para incitar os motoristas, que são frequentemente homens. Funcionava razoavelmente, mas era artesanal e os motoristas suportavam mal as notificações amontoadas. A empresa logo buscou especialistas em ciências sociais e analistas de dados que recorreram a todo tipo de técnicas muito mais eficazes.

Por exemplo, encorajamentos quando um patamar é atingido. Quando eles fazem logoff da aplicação em uma hora em que Uber preferiria que eles continuassem a trabalhar, os motoristas vêem aparecer mensagens como: "Mais uma corrida e você atinge 300 dólares!" É um sistema que se chama "ciclo lúdico" ["boucle ludique", "ludic cycle"] (que incita a lançar uma partida a mais para tentar ir um pouco mais longe que na anterior). Uber então enche sua interface de pequenos sinais de dólares, esquemas, insígnias ["badges"] a ganhar (um pequeno Groucho Marx para os motoristas mais engraçados...). É, efetivamente, o que se chama gamificação. O fenômeno não é novo nas empresas, mas Uber o leva ao extremo. E funciona. Os próprios motoristas o dizem: essas formas de retribuição que não custam nada à empresa lhe permitem induzir os motoristas a fazer o que é bom para ela, e não necessariamente para eles.

Para que os condutores fiquem todo o tempo ocupados, e trabalhem nas horas em que Uber tem mais necessidade deles, a empresa usa também o mesmo sistema que Netflix, que abre uma janela para ver o episódio seguinte assim que termina o anterior. Pois bem, a Uber preparou um algoritmo que envia ao motorista sua próxima corrida, antes que ele tenha terminado a precedente. Tudo isso é maravilhosamente não-coercitivo. Obviamente, a Uber introduziu um botão de pausa para que os motoristas possam ao menos parar para ir ao banheiro ou reabastecer combustível, e pretende atualmente desenvolver um função que permita aos motoristas dizer onde eles preferem terminar sua última corrida - perto de casa ou da escola onde eles deverão buscar os filhos. Nesse sentido, a tecnologia pode ser boa. Por outro lado, Uber também adquire inúmeros dados sobre a conduta de seus motoristas, e no futuro poderia personalizar ainda mais as recompensas. Além disso, Uber está cada vez menos sozinho em usar esses métodos para controlar os trabalhadores (sua concorrente Lyft faz mais ou menos a mesma coisa). Também aumenta o número de plataformas que recorrem a trabalhadores independentes, sem que os direitos desses trabalhadores - e as possibilidades que lhes são dadas de se defender - aumentem. O que faz o jornal americano dizer uma coisa terrível: "Não estamos longe de voltar à época que precedia o New Deal (....os anos 30...) em que as empresas tinham poder quase total sobre os empregados, e eles quase nenhum meio de defesa". Excetuando que isso não se passa numa fábrica e no suor, mas em um carro de passeio diante de uma tela que exibe aquilo que parece um jogo.

Aí está! Boa festa do trabalho!