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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

"Quem se contenta" - um apólogo de Ítalo Calvino

Pequeno texto de Calvino que parece descrever muito bem as funções sociais da bilharda no Brasil... digo, do Carnaval! Que lapso!

Havia um país em que tudo era proibido.

Ora, como a única coisa não proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias.

E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar.

Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para a avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem.

Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir.

- Saibam - anunciaram - que nada mais é proibido.

Eles continuaram a jogar bilharda.

-Entenderam? - os mensageiros insistiram. - Vocês estão livres para fazer o que quiserem.

-Muito bem - responderam os súditos. - Nós jogamos bilharda.

Os mensageiros se empenharam em recordar-lhes quantas ocupações belas e úteis havia, às quais eles tinham se dedicado no passado e poderiam agora novamente se dedicar. Mas eles não prestavam atenção e continuavam a jogar, uma batida atrás da outra, sem nem mesmo tomar fôlego.

Vendo que as tentativas eram inúteis, os mensageiros foram contar aos condestáveis.

-Nem uma, nem duas - disseram os condestáveis. - Proibamos o jogo de bilharda.

Aí então o povo fez uma revolução e matou-os todos.

Depois, sem perder tempo, voltou a jogar bilharda.


(Ítalo Calvino, Um general na biblioteca. Companhia das Letras, 2010)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Das possibilidades em História

Ando meio atarefado para postar aqui... Só terei tempo para o blog de novo lá para março. No entanto, essa semana li um trecho muito interessante de O negócio do Brasil, de Evaldo Cabral de Mello. Achei muito interessante o modo como o autor discute uma questão tão polêmica sem recorrer aos clichês de sempre...

"Escusado aduzir que o assunto aqui versado [as negociações diplomáticas em torno do Brasil holandês], como em geral os de história política e diplomática presta-se idealmente às análises contrafatuais, visando às possibilidades alternativas dos processes históricos, ou seja, 'aquilo que poderia ter sido e que não foi', como no verso de Manuel Bandeira. A moda está sendo tão cultivada, especialmente entre os anglo-saxões, que já caberia talvez falar num novo gênero historiográfico, a 'história virtual'. Na realidade, a novidade não é tão grande assim, na medida em que a contrafatualidade é inerente a todo raciocínio historiográfico, como há muito percebeu Max Weber, embora frequentemente não seja explicitada. Na fórmula de Raymon Aron: 'Todo historiador, para explicar o que foi, se pergunta o que poderia ter sido'. A atribuição de relevância a determinados fatos é feita mediante uma operação comparativa pela qual o historiador se pergunta o que teria ocorrido na inexistência deles. Donde o apelo de Huizinga no sentido de que ele procurasse inclusive colocar-se num ponto do passado no qual os fatores conhecidos parecem permitir diferentes caminhos. Se tratar de Salamina, deve fazê-lo como se os persas ainda pudessem ganhar a batalha; se se ocupar do golpe de Estado de Brumário, como se Bonaparte ainda pudesse ser ignominiosamente repelido'. Essa capacidade da historiografia de entrever alternativas mesmo quando elas já se fecharam de todo constitui uma das razões da originalidade da sua démarche científica".