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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

2ª carta aberta à Sr.ª Cláudia Costin - Autonomia e participação

Cara Sr.ª Secretária,

pretendo aqui desenvolver um tema já esboçado em minha carta anterior e que, creio, seja um aspecto crucial para o desenvolvimento democrático da educação carioca.

Como já adiantei, um de nossos principais anseios é a autonomia político-pedagógica em nossas escolas e, principalmente, a efetiva participação no processo de construção das políticas públicas de educação em nosso município. Infelizmente, nossa realidade atual se encontra muito distante desses legítimos desejos.

No entanto, por que isso ocorre? Que obstáculos afastam os professores desse processo tão importante? Arrisco algumas hipóteses. Comecemos pela esfera dos discursos. Nesses cinco anos em que tenho lecionado no Rio tive oportunidade de entrar em contato com funcionários dos mais variados níveis administrativos da SME, desde a 5ªCRE ao nível central.

Através desses contatos, pude perceber alguns padrões de pensamento reproduzidos de modo mais ou menos consciente. Como já explicitei na carta anterior, existe certa lógica de desqualificação do professor que está em sala de aula, visto como um profissional pouco capacitado, insuficientemente dedicado e, principalmente, necessitado de orientação superior em suas escolhas.

Obviamente não podemos fazer generalizações. Trata-se de uma matriz discursiva elementar, declinada de diversas maneiras de acordo com aqueles que a reproduzem. Alguns se mostram condescendentes: o professor é um "coitadinho", bem intencionado, mas desorientado - uma abordagem um tanto paternalista. Outros têm uma visão ainda mais deprimente, afirmando explicitamente que a maioria dos docentes é descompromissada ou indolente. Há um verdadeiro gradiente de opiniões, desde as mais indulgentes às menos respeitosas, assumindo diversos matizes.

Curiosamente, os profissionais que emitem esse gênero de opinião são geralmente professores que gradativamente se afastaram das escolas, assumindo cargos administrativos na CRE ou no nível central. Dos que conheci, raríssimos escapam dessa perniciosa concepção. Por sinal, muitos empregam correntemente curioso jargão, através do qual nos designam como "o professor que está no campo" ou "o professor no campo". Essa terminologia não me parece nada inocente, traindo concepções muitas vezes inconscientes através das quais se consolida uma visão dual do magistério público carioca. Esses profissionais não se percebem como pertencentes à mesma categoria que nós, sedimentando uma mentalidade que nos vê como castas distintas.

Esse é, em grande medida, o resultado de continuado afastamento da realidade escolar, por parte de funcionários que durante anos se dedicam a carreiras administrativas. Quinze minutos de conversa com alguns deles são suficientes para revelar ideias completamente distantes do que é o cotidiano de uma escola municipal de verdade, indo desde a utopia à distopia, passando pelo mais delirante surrealismo.

Numa evidente distorção do bom senso, a opinião daqueles envolvidos diretamente com a atividade-fim da SME conta menos que a daqueles que, à distância, executam atividades-meio...

Essa mentalidade difusa se faz perceber na prática, na esfera comunicacional ou na esfera representativa. Os fluxos de comunicação na SME denotam claramente essa concepção da rede, uma vez que praticamente todas as decisões partem do nível central ou da CRE e são simplesmente transmitidas como fatos consumados, sem margem para discussões, negociações ou alterações. Aos "professores no campo" cabe simplesmente acatar. As ordens e imposições chegam às escolas e respostas e ações imediatas são cobradas; em compensação, quando procuramos travar contato com os órgãos "superiores" os canais são tortuosos e obscuros e, pior ainda, não há qualquer compromisso em responder adequadamente a nossas solicitações. Ficamos à mercê da "boa vontade" do setor administrativo...

Por outro lado, os mecanismos de representação e participação dos professores nas principais deliberações de nossa rede são escassos, pouco ativos, ineficientes, e frequentemente aleatórios. As instâncias representativas são esvaziadas e desconectadas da realidade escolar, tendo mais função legitimadora que fundamento legítimo. Existem de jure, mas não de facto. Em suma, nossos anseios e valores se vêm fracamente representados na prática administrativa municipal.

Tal estado de coisas fere gravemente a gestão democrática da coisa pública. O futuro de nossa juventude é responsabilidade grande demais para não ser partilhada equanimemente entre todos nós.

Repito: queremos voz na administração da SME!

Cordialmente,
Prof. Luiz F. F. Tavares

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