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terça-feira, 27 de março de 2012

Algumas reflexões sobre o ofício de historiador

Acabei de ler hoje um livro muito interessante, Uma breve história da Europa, de Jacques Le Goff. Trata-se de pequena obra, voltada para o público leigo, especialmente adolescentes; digamos que seja um "Le Goff menor".

Ainda assim, encontrei no livro em apreço alguns trechos muito interessantes sobre a função social do historiador, ainda mais valiosos justamente pelo nítido caráter formativo da reflexão desenvolvida. Cito textualmente os que mais chamaram minha atenção. É importante ter em mente o caráter especificamente europeu da obra em questão. Obviamente as preocupações do historiador brasileiro e as necessidades de nossa realidade social apontam em sentidos diferentes. Ainda assim os trechos parecem muito sugestivos.

"O conhecimento da história é muito importante para os europeus e para a construção da Europa. É preciso conhecer o passado para saber como preparar o futuro, desenvolver as boas tradições da Europa, evitar que os erros e crimes recomecem. Também é preciso evitar que se manipule a história forjando mitos nacionalistas. A História não deve ser um fardo a ser carregado ou uma má conselheira que legitima a violência. Com o tempo ela deve trazer a verdade, servir ao progresso".

"É preciso atualmente livrar as ideologias de seu caráter irracional e agressivo. É preciso transformá-las em ideais, ou seja, em bons modelos a serem alcançados ou a serem tomados como objetivos. É preciso substituir a agressividade dos conflitos de ideologias por debates de ideias pacíficas, honestas e tolerantes. A Europa deve ser um grande campo de diálogos pacíficos".

Por fim, o trecho a seguir me pareceu extremamente comovente pela sinceridade e pela sensibilidade, fechando com chave de ouro esse belíssimo livro:

"Creio que a realização de uma bela e boa Europa é o grande projeto oferecido à sua geração. Necessitamos, principalmente quando se é jovem, de um grande objetivo que seja um ideal e uma paixão. Apaixonem-se pela construção europeia, ela merece. Se ajudarem a realizá-la, ela lhes retribuirá, ainda que devam enfrentar algumas dificuldades. Nada de importante se obtém sem esforço. E não se esqueçam, por favor, que nada de bom se faz sem memória e que a história é feita para oferece uma memória justa que, pelo passado, iluminará o presente e o futuro de vocês".

sexta-feira, 23 de março de 2012

Ser um guerreiro na Idade Média - jogando... "Aragorn`s Quest"

Depois de muito tempo adormecida, eis que a oficina volta ao trabalho! Andei afastado por cometer a maior loucura de minha vida: eu e minha esposa nos atiramos à tarefa insana de escrever um livro de 250 páginas em pouco mais de um mês... Mais detalhes em breve. Depois desse tour de force me dei umas "férias", e estou de volta.

Para o relax, me dei de presente Aragorn`s Quest para Wii. Jogo fantástico, por vários motivos, e subestimado em todas as críticas que li. Por trás de um gráfico cartunesco, um jogo interessantíssimo, com uma narrativa sofisticada e uma jogabilidade altamente intuitiva e estimulante. Por sinal, o gráfico "pobre" libera todo o potencial de processamento para que a plataforma posso botar em cena literalmente algumas centenas de guerreiros altamente diferenciados de cada lado da batalha sem lapsos excessivos de carregamento e de modo altamente funcional.

Mas, vamos à História. O jogo é baseado na trilogia Senhor dos Anéis, sem depender exclusivamente da identidade visual dos filmes de Jackson, o que por si só já significa muito. É possível perceber a apropriação criativa dos originais de Tolkien, mas também das clássicas ilustrações de Alan Lee e de David Wenzel. No entanto, o mais interessante é a possibilidade de imersão numa batalha medieval como nunca vi em qualquer outro jogo.

Ok, uma batalha "medieval", afinal de contas, se trata de um universo ficcional. Ainda assim, o jogo se mostra surpreendentemente fiel aos ritmos, táticas, comportamentos esperados em uma batalha desse período, ao contrário da pseudo-estratégia antiga costumeira nesse gênero de jogos. Arqueiros, cavaleiros, infantes, se comportam de maneira bastante fiel, especialmente considerando-se a diversidade de terrenos e combates: há pântanos, planícies, colinas e fortalezas. Desenrolam-se escaramuças, batalhas campais e sítios, no ataque ou na defesa. Enfim, o jogo proporciona grande diversidade de experiências estratégicas, com objetivos coerentes e pertinentes a cada situação.

As armas são dignas de comentário à parte. Em lugar da diversidade quase absurda, uma seleção sóbria: espada, escudo, lança, arco. O jogo oferece um belíssimo sistema de luta com espada, baseado em movimentos de corte e estoque. A lança pode ser manuseada com bastante naturalidade, a pé ou a cavalo. O arco tem um sistema de mira quase simplório, compensado pela sobriedade dos contextos em que seu uso é exigido.

Last, but not least, o jogo apresenta um sistema de liderança muito instigante: o jogador não é convidado a dar ordens a seus soldados, mas a guiá-los pelo campo de batalha através do exemplo, avançando sobre as fileiras inimigas e empregando dois recursos, o grito de guerra ou o toque de trombeta. Através dessas manobras é possível incentivar os soldados ao assalto ou reuni-los numa posição estratégica para a defesa. Não era muito diferente nas batalhas medievais, a exemplo do que vemos na Chanson de Roland, no Nibelungenlied e outros textos da época. Com efeito, o jogo me fez compreender melhor, "na prática", o que seria a liderança carismática de que fala Weber.

Paradoxalmente, Aragorn`s Quest é um jogo de fantasia que pode conduzir a uma esclarecedora experiência do que seria estar na pele (ou sob a malha) de um guerreiro medieval.