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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Notre Dame de Paris, 2012


Hoje realizei um velho sonho: visitar Notre Dame! Justamente Notre Dame de Paris, 1482 foi o primeiro livro de Victor Hugo que li, o início de uma grande paixão literária. Em grande parte devo a essa leitura boa parte dos desenvolvimentos posteriores de minha formação como historiador. Particularmente emocionante foi o encontro com as famosas gárgulas. O telhado de Notre Dame é um lugar para se sonhar...


O olhar sonhador dessa gárgula simiesca me parece muito curioso... Que panorama ele teria descortinado do alto da catedral na Paris medieval? Ele "viu", em seu posto de sentinela imóvel, a Île de la Cité e as duas margens do Sena se transformando ao longo de quase 850 anos de história. Debruçada no parapeito de Notre Dame, essa gárgula "assistiu" ao massacre de São Bartolomeu, a Revolução francesa e tantos e tantos outros acontecimentos centrais à história da França e do Ocidente...

Não resisti à tentação de um bate-papo ao melhor "estilo Quasímodo"... Por sinal, Victor Hugo é um personagem central da história de Notre Dame, à medida em que precipitou a formação de novos significados em torno do edifício e do patrimônio histórico francês em geral. Recomendo a todos a leitura do magnífico capítulo "Paris à vol d`oiseau", verdadeira obra-prima historiográfica. Escrevendo sobre Notre Dame, Hugo se tornou parte importantíssima da história da própria catedral. Que mais poderia desejar um escritor?




 É impressionante pensar que essas esculturas estão lá há quase um milênio, e continuam tão vivas e fascinantes quanto à época em que sofreram os primeiros golpes do cinzel... Por sinal, o camarada aí em cima saiu de Hogwarts ou da Terra Média?
No entanto, é interessante observar que Notre Dame é mais que uma obra medieval: é um edifício vivo que encontrou sua evolução ao longo de séculos da história da França e de Paris. Por exemplo, que dizer dessa magnífica imagem de Joana d`Arc? Esculpida no ínício do século XX, a imagem remete também a um período da história francesa posterior à construção da catedral. Desde seu princípio, Notre Dame tem sido capaz de atrair e integrar transformações constantes. Talvez seja por isso mesmo a mais importante construção da Île de la Cité, resistindo aos séculos, enquanto todo o resto se desmanchava ao seu redor...

Contudo, a peça mais interessante para mim foi essa Nossa Senhora de Guadalupe, incorporada à catedral em 1685, sob encomenda de um aristocrata da alta nobreza francesa (esqueci seu nome!). Uma imagem originária do Novo Mundo, elaborada no seio das culturas ameríndias do México, conseguiu abrir caminho e encontrar seu espaço numa catedral construída no coração do Velho Mundo. Como são complexas as relações e mediações culturais que tornaram isso possível! Faz pensar na Guerra das Imagens, obra magistral de Gruzinski onde justamente a Virgem de Guadalupe ocupa papel central; lembra também o magistral Inferno atlântico de Laura de Melo e Souza: a América também moldou a Europa na Idade Moderna...
 E como estará Notre Dame de Paris em 2112? Só as gárgulas saberão...

terça-feira, 15 de maio de 2012

Primeiras impressões parisienses

Paris é linda. Isso não quer dizer muita coisa, mas é verdade. Mas não exatamente pela cidade em si, por suas construções belíssimas. Há algo aqui que é muito, muito especial. Hoje, andando nos corredores da Sorbonne, tive uma pista do que pode ser isso. Tudo aqui é História, mas não história encapsulada, isolada numa bolha. Ao contrário do Rio, onde os espaços arquitetônicos percebidos como "do passado" ou "do presente" são muito claramente demarcados, a relação entre passado e presente na tessitura urbana parisiense parece muito mais fluida. As construções são muitas vezes uma bricolagem de usos diversos. O prédio da Sorbonne é quase milenar, mas é um edifício vivo, cheio de adaptações para os usos do presente. É um tanto como se os homens de hoje pedissem licença aos seus ancestrais para se apropriarem de sua construção para novos usos. Também é curioso observar o quanto essa atitude parece natural para os estudantes que estão lá.

Mas seria possível ser de outra maneira? Sobrevoar a França é uma experiência única, não tanto pela beleza da paisagem, mas pela inevitável comparação à América do Sul. Aqui, as terras parecem ter sido plenamente domesticadas pelo homem, após milênios de ocupação intensiva do solo. Uma linda colcha de retalhos de campos sucedendo a campos, pontilhada aqui e ali por alguns bosques, que são muito mais fruto da iniciativa humana, vestígios de antigas reservas de caça, repositórios de lenha, que propriamente uma floresta primária. Sobrevoar a França torna visível, perceptível "a olho nu", digamos assim, o quanto nós somos realmente uma força da natureza, enquanto coletividade humana. Muito bonito, mas um tanto melancólico. Por outro lado, nossa América do Sul, permanece em grande parte indomada, apesar dos milênios de ocupação indígena. Visto de cima, o Novo Mundo parece mais pujante, parece guardar uma força juvenil, uma energia vital mais poderosa, não sei...

Ao mesmo tempo, passar pela Península Ibérica parece muito evocativo, ou talvez esclarecedor. Apesar da curta distância, é um outro mundo. A natureza é muito mais agreste, rude, difícil, em comparação à fertilidade das planícies francesa... Fica mais fácil entender porque a aventura marítima sempre foi tão atraente aos ibéricos, enquanto os franceses só começaram a tê-la por necessária muito mais tarde, em meados do século XVII.

Continuo viajando com Clio; novidades em breves posts!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Uma fábula chinesa

Esta semana li uma belíssima antologia de fábulas chinesas, em tradução de Sérgio Capparelli e Márcia Schmaltz. Transcrevo aqui uma que me pareceu muito interessante...

"O Velho louco que removeu as montanhas" - Liezi

Perto das montanhas Taihang e Wangwu, vivia um velho de noventa anos que todo mundo achava louco. Ele tinha uma ideia fixa, a de remover as montanhas da frente de sua aldeia e levá-las para outro lugar. Ninguém acreditou que ele fosse fazer isso.

Certa noite todos foram dormir tranquilos. No dia seguinte, o velho louco acordou bem cedo e disse novamente que iria remover as duas montanhas, para abrir um caminho até Hanying, onde os agricultores iam vender seus produtos no mercado.

Ele começou a encher um cesto com pedras e, pouco depois, passou perto de sua casa com a carga nas costas.

Sua mulher perguntou: - Onde vai jogar a montanha?
-No mar Bohai.

Logo seu filho e seus três netos foram trabalhar com ele. Juntos quebravam as pedras, tiravam a terra, enchiam com ela os cestos e iam jogá-los no mar Bohai. Até o filho de sete anos da viúva que nascera depois da morte do vizinho, veio ajudá-los. Eles trabalhavam de domingo a domingo, de primavera a primavera, voltando para casa apenas uma vez por ano.

Mesmo algumas pessoas que não acreditavam que fosse possível tirar as montanhas do lugar se dispuseram a ajudar o velho louco. Primeiro sua mulher e seus outros filhos. Depois os vizinhos, e os vizinhos de seus vizinhos. Mais tarde acharam, sim, que a montanha tinha de dar passagem até Hanying.

Um sábio que vivia na curva do rio tentou dissuadi-lo daquela loucura.
-Deixa de ser doido. Um homem velho e fraco como você, incapaz de carregar um saco de areia, vai remover duas montanhas para mudá-las de lugar?

O velho deu um suspiro. Olhou para a montanha, olhou para o mar Bohai, lá longe, como se calculasse quanto tempo faltava para terminar o trabalho, e disse:
-Se eu morrer, eu deixo o meu filho, e o filho do meu filho, o filho do meu neto, o filho do filho do meu neto. Já as montanhas, não crescem mais, nem aumentam de tamanho. Por isso eu vou continuar meu trabalho.

O sábio da curva do rio não soube o que responder.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Au revoir!

Tenho andado ausente devido à falta de tempo, lutando contra a burocracia para resolver meus problemas antes da viagem. Nas próximas semanas permanecerei inativo. Volto à carga com posts diretamente da França! À bientôt!

Só deixo aqui uma pérola ouvida no ônibus:
"Certas civilizações antigas construíam coisas enormes, mas isso tem uma explicação científica: em certos ambientes, as pedras ficam mais leves!"....