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sábado, 27 de maio de 2023

Luto, memórias e encantamento

Hoje recebi uma notícia triste - uma amiguinha de infância faleceu há poucos meses, com pouco mais que trinta anos de idade, vitimada por um câncer. 

Tivemos pouquíssimo convívio. Era prima de amigos, consideravelmente mais nova que nós. Tinha dois ou três anos quando veio com a mãe passar umas poucas semanas com os parentes. Era uma criança encantadora, como costumam ser nessa idade. 

Nunca mais nos vimos e havia caído em meu esquecimento há muitos anos, até a triste notícia de hoje. Considerando a idade, é provável que ela não guardasse qualquer memória a meu respeito.

Hoje, porém, ao saber de seu falecimento, inúmeras lembranças me afloraram à consciência, uma delas particularmente enternecedora.

Me recordo que a menina se encantou por um brinquedo que eu tinha, um "View Master 3D", espécie de binóculo desengonçado onde eram inseridos discos com imagens que contavam historinhas com personagens de filmes e desenhos animados. Ao se acionar uma alavanca, o disco girava e trocava a imagem estereoscópica exibida.

Não era um de meus brinquedos favoritos. Os discos com histórias eram bastante caros e eu possuía pouquíssimos. Para uma criança crescida como eu logo se tornava uma atividade enfadonha. O mesmo não sucedia com minha amiguinha, cujos pequenos olhos azuis ainda se encantavam com esse tipo de bagatela.

Várias vezes ao dia a pequena vinha à varanda de minha casa e pedia para usar o brinquedo. Passava longo tempo visualizando o mesmo disco, manuseando a alavanca, revendo incessantemente as mesmas imagens. Havia ali algo que a encantava, ainda que provavelmente não percebesse que as figuras compunham uma narrativa. Quando cansava de um disco, me pedia que trocasse por outro, operação muito simples, mas não para uma criança tão pequena.

Provavelmente ela foi a pessoa que mais aproveitou aquele brinquedo, que eu e meus amigos já estávamos grandes demais para apreciar com a mesma intensidade; já não tínhamos a mesma disposição para o deslumbramento que se encontra apenas nas crianças muito pequenas, para quem tudo é novidade.

Nunca mais a vi. De certo modo, para mim é como se tivesse morrido aquela criancinha de dois ou três anos, não uma mulher adulta.

Espero, com todo coração, que ao longo de sua breve vida ela tenha tido oportunidade de se encantar com muitas coisas, como outrora com as imagens coloridas daquele brinquedo.