Quando mais um museu brasileiro pega fogo, é oportuno lembrar a mais que emblemática fala do Sr. Jair Messias Bolsonaro reclamando que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional "atrasa obras" por causa de qualquer "cocô de índio petrificado", como se a missão do IPHAN, instituição quase centenária, que teve Mário de Andrade como um de seus fundadores, fosse acelerar obras, e não zelar pelo patrimônio cultural do povo brasileiro.
Em que pese a característica prosa do atual presidente e guardadas as devidas nuances, a fala é fiel retrato do modo como pensamos, enquanto coletividade.
Há alguns anos lembro de um blogueiro petista que reclamava do atraso de uma obra do apressado "Programa de Aceleração do Crescimento", que andava atrasada devido à presença de uma comunidade de anfíbios ameaçados de extinção no futuro canteiro de obras. Segundo o digníssimo publicista, seria um exagero de regulamentação ambiental - concluía que, entre tantas espécies brasileiras de batráquios, uma a mais ou a menos faria pouca diferença. Por que se preocupar com biodiversidade quando precisamos construir um viaduto?
Assim segue o Brasil: para que se "acelere" o suposto "crescimento", um sapo a mais ou um museu a menos pouca diferença podem fazer.
O povo brasileiro corre sempre, sem saber muito bem para onde ou para quê. Correr, aos trancos e barrancos, tropeços e trambolhões, é o que nos basta. Que se destrua o "cocô de índio" - e até o índio, principalmente o índio - se necessário for.
Seguimos sempre em crescimento acelerado, seja para construir Belo Monte ou para escalar a curva pandêmica. "O Brasil não pode parar".
Como dizia um velho slogan, "esse é um país que vai pra frente" - e pouco se importa com o que deixa para trás...
"Après nous, le déluge" - Luís XIV bem merecia ser brasileiro.
Urnas funerárias amazônicas - mas há quem confunda patrimônio arqueológico com fezes... |
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