Cuidado
com as generalizações...
Há "direitistas", "direitistas" e "direitistas". Nem
tudo cabe no mesmo balaio. Generalização e polarização caminham lado a
lado, e são as melhores armas do manipulador de plantão. Ninguém é dono
da verdade... Todo mundo é o idiota de alguém, o ignorante de alguém, o "analfabeto político" de alguém... E por aí vai.
300
anos atrás essas noções de "direita" e "esquerda" sequer existiam. É um
filtro conceitual muito limitado para enquadrar toda a realidade.
Não
existe Yin sem Yang. Todo mundo precisa de dois pés para caminhar. Não
existe democracia sem divergência, diversidade e diálogo entre os
diferentes. A obliteração da direita não é um caminho - ou talvez seja
apenas o caminho para a guerra civil (ou ao menos para brigas intermináveis nas redes sociais)...
Rotular
adversários é um tremendo obstáculo ao diálogo. Precisamos ouvir uns
aos outros, e a premissa de que o outro só pode ser ignorante ou mau
caráter não ajuda muito.
Existem
diferentes maneiras de apoiar ideias como capitalismo, liberalismo ou neoliberalismo. Algumas são
torpes, outras são nobres - mesmo que eu não concorde com elas. De um modo ou de outro, é necessário ouvir os argumentos "do outro lado" e dialogar com eles: talvez até concordemos em uma ou outra coisa.
A
realidade possui muitas dimensões e elas não cabem numa linha reta. Os
maniqueísmos são sempre tentadores - e sempre imprudentes. E, é claro, o maniqueísmo dos outros sempre nos incomoda mais que o nosso.
Não
gosto muito de Nietzsche, mas ele bem alertava que aqueles que combatem
monstros muitas vezes se tornam monstros, eles mesmos... Vejo pouca diferença entre eleitores Bolsonaro e algumas pessoas "de esquerda".
Quando
temos apenas uma pergunta e só imaginamos duas respostas já assumimos
uma postura maniqueísta. Outras pessoas podem ter outras respostas e
pensar em outras perguntas. Ouvir essas outras respostas e responder a
essas outras perguntas nos leva do monólogo ao diálogo - nos põe no
caminho da democracia.
A
minha utopia pode ser o inferno para o outro. O que vejo como
libertação pode ser um cativeiro insuportável para outrem. As utopias
são maravilhosas como bússolas, mas podem ser péssimas como mapas. Uma
boa bússola possui Norte, Sul, Leste e Oeste. Uma
bússola que tivesse apenas "Esquerda" e "Direita" só serviria numa rua
bem estreita - mas as sociedades humanas são Oceanos, de vasta
superfície e maior profundidade. O MEU paraíso socialista talvez seja um inferno para OUTRO socialista - e quem tem razão?!
Nós
já vimos onde experiências de "erradicação da exploração" cheias de certezas podem
levar. As tais "semanas patrióticas" da União Soviética eram uma forma
de exploração do trabalho mais cínica e hipócrita do que qualquer
sociedade capitalista jamais imaginou. O "Grande Salto" proposto por Mao
era ainda pior.
Os
Partidos Comunistas se tornaram grandes expurgadores de heresias pelo
excesso de certezas e falta de dúvidas. A ortodoxia política conduz
quase sempre à tirania.
Eu
SOU socialista, e espero que não repitamos os erros passados - para
isso, não podemos esquecê-los.
O grande perigo é imaginar que algumas
ideologias são imunes à tirania: não são. A tirania está mais nos meios que nos fins. Quase todo tirano defende meios torpes para atingir fins nobres, em defesa da família, do trabalhador, da religião, do povo, da nação, dos oprimidos etc.
Não
acredito que sejamos capazes de fazer tabula rasa da realidade, com
gestos voluntaristas, por melhores que sejam as intenções. A meu ver, a
sociedade não é como uma edificação que se projeta, é mais como uma
planta que se cultiva. A diferença de métodos entre o jardineiro e o
engenheiro é imensa. Mesmo o engenheiro, por sinal, precisa muitas vezes empreender correções ao longo de seu projeto, pois solos e materiais nem sempre se comportam da maneira prevista ou desejada.
Independentemente de nossas perspectivas e opiniões, não podemos nos tornar Narcisos enamorados de nossos próprios reflexos. E precisamos lembrar que TAMBÉM existe beleza fora dos espelhos...
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