No domingo passado, na ida para minha zona eleitoral, presenciei pessoas berrando agressões verbais sobre candidatos. Voltando, presenciei outra altercação similar. Nunca tinha visto cenas desse gênero nos arredores de minha ZE.
Na semana imediatamente anterior um amigo meu que nem é muito politizado fez uma crítica jocosa sobre Bolsonaro e quase foi agredido fisicamente por um vizinho de 73 anos. Felizmente meu amigo é um sujeito controlado e não revidou; acalmando o exaltado vizinho ainda o alertou para o perigo dessa conduta: idoso, de compleição frágil, esse senhor se arriscava seriamente se fizesse a mesma coisa com uma pessoa menos serena que meu amigo.
No decorrer do último mês, uma amiga minha foi convidada para falar sobre o tema "Paz" em um centro espírita. Sua fala evitava quaisquer conotações políticas, mas no meio da preleção foi interrompida por um homem que se levantou aos berros, dizendo que não admitia propaganda política contra Bolsonaro dentro de uma instituição religiosa. Muito paciente, minha amiga aguardou que ele extravasasse sua raiva, esclareceu que sua fala não tinha qualquer conotação política, mas que oferecia o microfone ao cavalheiro caso ele desejasse se manifestar ao fim da palestra. Menos exaltado, ele se sentou e não pediu a palavra ao fim da reunião; depois, mais calmo, foi pedir desculpas à minha amiga pelo momento de descontrole.
Nenhum desses casos saiu nos noticiários. Imagino que haja outros semelhantes por aí. Os ânimos e emoções estão muito exaltados nessa eleição e os episódios de violência se multiplicam de modo assustador. Não estamos à beira de uma guerra civil, mas mesmo assim é preocupante.
Parte da responsabilidade se deve, sem dúvida, à constante exaltação da violência pelo candidato Bolsonaro, de longa data. O atentado sofrido por ele também deixou os ânimos superexcitados. Talvez o próprio ataque derive dessa exaltação - até onde a Polícia Federal investigou, o atacante é apenas um doente mental; há poucos indícios de uma conspiração.
No entanto, a responsabilidade não cabe apenas a Bolsonaro. Desde 2013 temos visto uma terrível agressividade verbal entre grupos de opiniões divergentes, acompanhada de rótulos pejorativos como "coxinha", "petralha", "reaça", "mortadela", "esquerdopata", "bolsominion", entre outros - sem falar na redução de termos complexos como "fascista" e "comunista" a meros xingamentos.
Passamos quase meia década cultivando tensões sociais insuportáveis e agora ficamos chocados ao vê-las desencadeadas em episódios violentos, por vezes trágicos.
Precisamos TODOS, JUNTOS, desarmar essa bomba relógio, enquanto é tempo. Um bom começo é controlar a agressividade em nossa linguagem. Chega de rótulos, apelidos e xingamentos. Tratemos respeitosamente aqueles que divergem de nossa opinião. Esse seria apenas o começo de um longo caminho para a desintoxicação de nossas relações sociais.
Paz para todos nós!
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