Era uma vez um monstro comedor de carne humana conhecido como Pezão,
que virou lacaio de outro monstro comedor de carne humana. Usando
palavras encantadas e a ajuda de um mago barbudo eles iludiram os
habitantes do reino, conseguiram votos, votos e mais votos e passaram a
reinar.
A cada dia eles assavam um súdito num espeto e
convidavam muitos outros monstros para o banquete. Comiam até as tripas e
os miolos, e depois lambiam os beiços. Quando sobravam guardanapos
limpos (o que era raro, sendo gente muito suja), adornavam com eles suas
cabeças.
Usavam o sangue das vítimas para fazer argamassa e
assim realizaram muitas obras, inclusive uma grande arena, fazendo a
fortuna de inúmeros pedreiros e arquitetos do reino.
O povo do
reino aplaudia e aplaudia, e mal se lembrava dos pavorosos banquetes. O
mago barbudo subia nos coretos, para dizer ao povo que o monstro maior
tinha um brilho nos olhos, mas não falava nada sobre a baba que lhe
escorria dos lábios, faminto que sempre estava por carne humana. E assim
todos viviam felizes para sempre.
Certo dia, porém, se abateu
sobre o reino uma violenta tempestade. Escorregando na lama, o monstro
maior caiu num calabouço de onde não conseguia sair.
O monstro
Pezão assumiu o governo do reino. Olhando bem o baú do tesouro real, viu
que ele e o monstro maior, embriagados que estavam de sangue humano,
tinham gasto até a última moeda. Foi até a torre mais do castelo e
gritou para todos os súditos que o reino estava em crise.
No
entanto, lá embaixo, os convivas da mesa real continuavam com o mesmo
apetite voraz, clamando por mais e mais carne humana. Revoltados,
pegaram o monstro Pezão, cortaram sua garganta e o assaram no mesmo
espeto onde dia após dia após dia haviam assado tantos súditos, por
tantos anos.
Mas e agora, quem iria governar?
Resolveram
organizar um sorteio. Botaram todos os ossos do Pezão num caldeirão, e
cada monstro enfiou sua mão ali dentro, para ver quem tirava o osso
maior.
Um monstrinho jovem e ambicioso, filhote de uma monstra
velha e velhaca, tirou um fêmur. Onde estava o outro fêmur, ninguém
sabia, nem quis saber, porque os sorteios entre esses monstros sempre
eram meio esquisitos mesmo.
O fato é que depois de muitos
acordos, todos concordaram que aquele monstrinho era um bom candidato.
Era jovem, não muito feioso e ainda tinha poucas carnes presas entre os
dentes, então o povo ainda poderia acreditar que ele era mais ou menos
inocente.
E assim, ao fim e ao cabo, o povo, satisfeito e
esperançoso, elegeu o monstrinho para governar o reino, e os banquetes
puderam continuar, como sempre fora costume naquela terra.
E viveram felizes para sempre, pois aquele era um povo muito alegre, simpático e festivo.
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