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domingo, 16 de abril de 2017

A lenda do Pezão

Era uma vez um monstro comedor de carne humana conhecido como Pezão, que virou lacaio de outro monstro comedor de carne humana. Usando palavras encantadas e a ajuda de um mago barbudo eles iludiram os habitantes do reino, conseguiram votos, votos e mais votos e passaram a reinar.

A cada dia eles assavam um súdito num espeto e convidavam muitos outros monstros para o banquete. Comiam até as tripas e os miolos, e depois lambiam os beiços. Quando sobravam guardanapos limpos (o que era raro, sendo gente muito suja), adornavam com eles suas cabeças.
Usavam o sangue das vítimas para fazer argamassa e assim realizaram muitas obras, inclusive uma grande arena, fazendo a fortuna de inúmeros pedreiros e arquitetos do reino.

O povo do reino aplaudia e aplaudia, e mal se lembrava dos pavorosos banquetes. O mago barbudo subia nos coretos, para dizer ao povo que o monstro maior tinha um brilho nos olhos, mas não falava nada sobre a baba que lhe escorria dos lábios, faminto que sempre estava por carne humana. E assim todos viviam felizes para sempre.

Certo dia, porém, se abateu sobre o reino uma violenta tempestade. Escorregando na lama, o monstro maior caiu num calabouço de onde não conseguia sair.

O monstro Pezão assumiu o governo do reino. Olhando bem o baú do tesouro real, viu que ele e o monstro maior, embriagados que estavam de sangue humano, tinham gasto até a última moeda. Foi até a torre mais do castelo e gritou para todos os súditos que o reino estava em crise.

No entanto, lá embaixo, os convivas da mesa real continuavam com o mesmo apetite voraz, clamando por mais e mais carne humana. Revoltados, pegaram o monstro Pezão, cortaram sua garganta e o assaram no mesmo espeto onde dia após dia após dia haviam assado tantos súditos, por tantos anos.

Mas e agora, quem iria governar?

Resolveram organizar um sorteio. Botaram todos os ossos do Pezão num caldeirão, e cada monstro enfiou sua mão ali dentro, para ver quem tirava o osso maior.

Um monstrinho jovem e ambicioso, filhote de uma monstra velha e velhaca, tirou um fêmur. Onde estava o outro fêmur, ninguém sabia, nem quis saber, porque os sorteios entre esses monstros sempre eram meio esquisitos mesmo.

O fato é que depois de muitos acordos, todos concordaram que aquele monstrinho era um bom candidato. Era jovem, não muito feioso e ainda tinha poucas carnes presas entre os dentes, então o povo ainda poderia acreditar que ele era mais ou menos inocente.

E assim, ao fim e ao cabo, o povo, satisfeito e esperançoso, elegeu o monstrinho para governar o reino, e os banquetes puderam continuar, como sempre fora costume naquela terra.

E viveram felizes para sempre, pois aquele era um povo muito alegre, simpático e festivo.

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