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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

"Morte ao povo branco"

Hoje de manhã me deparei com as seguintes palavras pichadas num banheiro da UERJ, redigidas com a mesma caligrafia:

"Morte ao povo branco

Guerrilha Negra

Racistas F.D.P.!"

Para início de conversa, tais palavras têm por trás um discurso genocida, direcionado contra o "povo branco". Não há muito que discutir - é lamentável e seria lamentável que essa frase fosse redigida contra qualquer outro "povo". Não existe muita diferença - talvez nenhuma - entre esse tipo de atitude e os valores de um jovem hitlerista ou de um adepto da Ku Klux Klan. Eu imagino, e espero, que o autor da frase não tenha intenção real de matar ninguém, mas a fala tem caráter violento, reforçado pelo termo "guerrilha".

Por outro lado, é irônico que ele xingue os "racistas F.D.P.", à medida em que o seu próprio discurso tem uma matriz racista, pregando a violência contra outras pessoas a partir de critérios raciais. É um discurso baseado no ódio. Não nego que esse ódio possa ser explicado: é provável que o rapaz que escreveu isso já tenha sofrido muita discriminação, preconceito, abuso policial, entre outras coisas. Explica, mas não justifica - ou seja, não torna esse discurso justo. Há que se lembrar a figura de Mandela, que tanto lutou contra todo tipo de racismo e contra todo tipo de ódio. Não se cura ódio com uma dose oposta de ódio. Mesmo no período em que aderiu à revolta armada, Mandela lutava contra a instituição do apartheid, não contra o "povo branco" da África do Sul.

Vale também salientar que esse tipo de discurso também desfavorece a imagem de todos os movimentos negros, que lutam por causas justíssimas. Quando o autor prega uma "guerrilha negra" para exterminar o "povo branco", depõe publicamente contra todos os outros que defendem justas causas, o que é uma pena. É uma fala que sustenta preconceitos, em lugar de desfazê-los.

São palavras violentas, e infelizmente, violência gera mais violência. Tanto é que, logo abaixo, uma outra pessoa pichou uma réplica: "Heil, Abdias!", em referência ao falecido Abdias Nascimento, importante figura do movimento negro no Brasil. A réplica é totalmente absurda e injusta, comparando Nascimento a Hitler, mas comprova o que sustento acima: tais atitudes desfavorecem o movimento negro.

Uma outra pessoa escreveu uma segunda réplica: "Vai ler Darcy Ribeiro!". São palavras mais amenas, mas revelam uma agressividade velada. Obviamente não se trata de uma simples e inocente recomendação bibliográfica; o autor dessa réplica queria certamente rotular o defensor da "guerrilha negra" como um ignorante, carente de recursos intelectuais. Ambas réplicas são lastimáveis, pois respondem à violência de modo agressivo.

Uma terceira réplica dizia: "No Brasil, todo branco é negro, e todo negro é branco", aludindo à mestiçagem brasileira. No limite, vale questionar se o defensor da "guerrilha negra" não teria ascendentes brancos. Seria ele um negro "puro"? Sendo ele um negro "puro", poderia advogar também a morte de pessoas menos "puras"? Quem poderia lutar nessa "guerrilha negra"? Qualquer discurso de pureza racial está fadado ao fracasso, pois, na verdade, todos somos mestiços, em termos biológicos ou culturais; raças não existem. Talvez essa terceira réplica represente as palavras mais sensatas escritas naquela parede.

Mas não quero atribuir um excesso de importância às palavras de um jovem revoltado por razões justas, mas orientando sua revolta em sentidos injustos. Tudo que quero lembrar é que, onde sobra agressão, falta diálogo. Lembro do célebre discurso de Martin Luther King, que sonhava com uma sociedade onde todas as pessoas se entendessem e amassem, independentemente de suas "raças". Rezo para que um dia possamos superar todos os erros e fantasmas de nosso passado escravista e racista, para tornar esse sonho realidade.

"Eu tenho um sonho" - tradução integral

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