Há pouco tempo exibi para uma de minhas turmas a belíssima animação Princesa Mononoke, de Hayao Miyazaki, uma fantasia com profunda mensagem acerca de nossa civilização industrial e suas contradições.
Todavia, vários alunos, em lugar de apreciar a experiência, reclamaram que o filme tinha "muita mentira". Curiosamente, esses mesmos jovens, em seus 13 e 14 anos, se mostram ávidos consumidores de todo tipo de produto ou marca a eles oferecido, sem reclamar de todas as mentirosas e falaciosas promessas que a publicidade lhes impinge quotidianamente. Estranho "realismo"
Mas meus jovens alunos não estão sozinhos. Há por aí gente tão "realista" que só "acredita" em contracheque, cartão de crédito, boletim, telejornal, cigarro, sexo, carnaval, futebol, shopping center, carro do ano, dívidas, álcool, redes sociais, financiamentos, parcelas e prestações... "Realismo" pedestre, prosaico, conformado e conformista. "Realismo" bitolado, incapaz de entrever ou imaginar alternativas de vida além daquelas que a sociedade de consumo oferece.
A fantasia liberta, revela mundos possíveis e impossíveis. A fantasia manifesta verdades que se furtam ao "realismo" superficial. A imaginação explora as fronteiras do pensamento e desafia os limites da realidade.
Não à toa, inquisidores e teólogos viam com desconfiança as potencialidades da imaginação, que diziam maleável às influências satânicas, pronta a inspirar pensamentos e atitudes contrários à boa ordem. Toda fantasia é potencialmente subversiva.
Finalizo citando Tolstói: "Baixar o nível do ideal é não só diminuir as
probabilidades de alcançar a perfeição, mas destruir o próprio ideal".
É preciso imaginar, sonhar, fantasiar, idealizar, criar.
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