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sábado, 4 de abril de 2020

Prioridades cariocas

Há alguns anos, assistia a uma emissão do programa do falecido chef Anthony Bourdain onde ele visitava o Rio de Janeiro para conhecer a culinária e a cultura locais. Em dado momento, Bourdain visitava uma favela (Rocinha, se não me engano) e conversava com um idoso morador, que afirmava peremptoriamente:

"A coisa mais importante que se pode ensinar para essas crianças é soltar pipa".

Para um professor suburbano do asfalto, como eu, a declaração soou no mínimo curiosa. Não julgo. Até entendo que a pipa, para muita gente (adulta, inclusive) é um lazer barato, que preenche inofensivamente as horas de ócio e distrai do cansaço da dura labuta diária.

No entanto, tal afirmação é muito reveladora da ordem de prioridades na formação de muitas de nossas crianças e jovens. Por elitista que soe, sabemos muito bem que o cultivo da cidadania plena requer competências muito mais importantes que soltar pipa.

Há poucos minutos, de minha suburbana janela, ouvi um comentário de dois rapazes acerca de um terceiro que bem ressoa a recomendação do velho senhor ao chef estrangeiro:

"Caramba... Ele não sabe jogar bola... Não sabe soltar pipa... Não sabe jogar baralho... Não sabe fazer nada!"

Ainda aqui vemos que a imagem do "incapaz" se define pela carência de competências que tampouco contribuem para o exercício da cidadania: bola, pipa, baralho... Vale comparar com os jovens sul-coreanos que vão para as ruas torcer pelos secundaristas nos dias de processo seletivo para as universidades.

Não é questão de menosprezar a cultura nacional ou carioca, nem de endeusar aos estrangeiros; os sul-coreanos também lidam lá com seus problemas e neuroses.

Ainda assim, esses pequenos instantâneos da vida carioca e brasileira dão bem a dimensão dos desafios sociais e culturais que temos pela frente para que vivamos numa terra de cidadania mais viva e ativa.

Pipas, bolas e baralhos são bacanas, mas, como vaticinava Monteiro Lobato, "um país se constrói com homens e livros".

Livros...


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