Lá por volta de 2004 tive a maravilhosa e inesquecível oportunidade de realizar um estágio de iniciação científica num laboratório de Arqueologia. Durante um ano e meio tive a oportunidade de participar da escavação de um sambaqui e de modestas fortificações setecentistas.
Para além dos encantos do ofício arqueológico e do companheirismo que somente o trabalho de campo proporciona, a paisagem era fascinante.
Nossas escavações eram na Enseada de Piraquara, área de proteção ambiental em Angra dos Reis. Havia uma paradisíaca nesga de praia, altas falésias e uma densa vegetação de Mata Atlântica.
Vez por outra minhas obrigações exigiam que me afastasse de meus colegas ou que eu permanecesse sozinho no sítio arqueológico.
Tenho carinhosas recordações desses momentos solitários na floresta. É difícil descrever a sensação de liberdade que se experimenta caminhando solitário na penumbra da mata ruidosamente silenciosa, ouvindo o distante acalanto das ondas do mar, a dança da brisa com folhas e ramos, os passos apressados de animais afugentados, entre outros mil sons que povoam esses recônditos recantos.
Uma quietude contemplativa e sonhadora nos invade quase instintivamente, como se estivéssemos fora do fluxo normal do tempo. Sozinho na floresta, o bicho-homem se apequena e se engrandece.
Certa feita, num momento em que a azáfama arqueológica não me requisitava, passei cerca de meia hora sentado numa pedra, no meio do mato, mais ouvindo que vendo, atento ao tanto que se passava longe dos meus olhos mas chegava a meus ouvidos. Ouso dizer que foi um dos momentos mais sublimes que já vivi - sobre o qual depois cheguei a escrever um bucólico poema místico.
Ontem descobri que a língua alemã possui um termo específico para isso: Waldeinsamkeit - o deleite de se estar sozinho numa floresta. Achei bonito. É sempre bom quando, primatas palavrosos que somos, conseguimos encontrar uma palavra que nomeie uma experiência profunda e deslumbrante.
Que bom seria se tivéssemos mais oportunidades de vivenciar Waldeinsamkeit...
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