Desde sua posse como presidente em janeiro de 2019, Bolsonaro não ofereceu mais significativa demonstração de fraqueza que em sua "Declaração à Nação" divulgada em 9 de setembro de 2021.
Para além de sua mediocridade quase infantil, lembrando o tipo de texto "reflexivo" que estudantes travessos muitas vezes são convidados a redigir nas escolas em caráter disciplinar, a tímida declaração contrasta vivamente com o inflamado discurso proferido à multidão de apoiadores dois dias antes.
Entre os dias 7 e 9, o Messias guerreiro se encolheu como estudante encabulado. A declaração sinaliza que, ao contrário do que se teme, Bolsonaro não dispõe efetivamente dos recursos necessários para empreender um golpe de Estado. A bem dizer, ficou evidente que lhe falta até a capacidade de organizar um prosaico bloqueio rodoviário...
Bastaram ligeiras pressões do Judiciário, do Legislativo e da opinião pública para que o presidente gritasse pelo socorro de Michel Temer, uma das figuras mais insípidas e impopulares de nossa história política recente, para mitigar a desnecessária crise que, de longa data, vem mantendo. Sempre que o calo aperta, Bolsonaro volta à gamela da "velha política" que prometia combater.
De certo modo, a Declaração é o desfecho tragicômico da patética farsa que foi o desfile de blindados realizado há algumas semanas em Brasília. Bolsonaro, ao que tudo indica, não é capaz de fazer muito mais que fumaça, literal ou figurativamente; seus arroubos grandiloquentes simplesmente se desmancham no ar.
Bolsonaro mostra cada vez mais uma inépcia política diante da qual até o fiasco protagonizado pelo doidivanas Jânio Quadros empalidece. Ao contrário do que esperavam seus eleitores tomados por frenesi messiânico, o agora presidente segue sendo apenas o deputado mandrião e o militar indisciplinado que sempre foi - uma figura minúscula que surpreende em sua capacidade de se apequenar cada vez mais e mais.
Entre seus delírios de grandeza e demonstrações de fraqueza, o capitão-presidente faz pensar em certo personagem fanfarrão da "Farsa de Inês Pereira", valentão que, nos versos de Gil Vicente, seria forte contra a esposa, mas frouxo contra os mouros.
Arrastando o terceiro ano desse farsesco mandato, Bolsonaro comprova e confirma a máxima atribuída ao Barão de Itararé: justamente de onde não se espera nada... é que não vem nada mesmo!
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