Como pesquisador do Museu Nacional desde 2015, o incêndio de hoje me afeta de uma maneira muito pessoal. Ainda na última quarta-feira estive lá dando aula; na próxima quarta, não tenho ideia do que será.
É um momento de muita tristeza, uma perda catastrófica de patrimônio cultural, científico e histórico. Mas não é o momento para apontar dedos. O descaso para com o Museu Nacional já vem de muito tempo, é problema de décadas. Não adianta dizer que a culpa é do Temer, da Dilma, do Lula, do FHC, do Itamar, do Collor, do Sarney. Alguns certamente são mais culpados que outros, mas o buraco é muito, muito, muito mais embaixo.
O buraco é que vivemos num país que despreza sistematicamente a educação formal, a cultura erudita, que idolatra imbecis e ignora quem tem algo sério a dizer. O buraco somos nós mesmos, enquanto coletividade.
O trágico e muito simbólico incêndio do Museu Nacional passa pela política e pela administração pública, mas é, antes de tudo, uma tragédia cultural, a catástrofe de uma sociedade que não valoriza o cultivo de sua própria humanidade.
O Museu Nacional arde em chamas porque o povo brasileiro simplesmente nunca fez por merecê-lo.
Descanse em paz, Museu Nacional...
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