O escritor é como um caçador, que captura pensamentos. Pensamentos, como se sabe, são criaturas selvagens. Alguns se deslocam em grandes manadas pelos prados da mente. Outros, mais arredios, se escondem na penumbra dos bosques do subconsciente; pensamentos perigosos e ariscos, que entrevemos apenas nos sonhos ou nos lapsos da vigília.
O escritor habilidoso se põe à espreita, nas tocaias da introspecção. Observa, atento, os pensamentos que se movem para lá e para cá. Com sorte, identifica seus hábitos e caminhos costumeiros. Sagaz, prepara suas armadilhas, com redes, cordas e nós. Quando um pensamento desavisado se deixa pegar na trama das palavras a luta é duríssima. Nenhum pensamento se entrega facilmente, nem mesmo os mais mansos. Eles deseja liberdade, não as cadeias da gramática, da sintaxe, da lógica. A luta pode ser dura e demorada; muitas vezes se prolonga por horas, dias, semanas, meses... Com muita frequência, depois de tantos esforços, o danado simplesmente escapa, deixando desconcertado o caçador.
Com sorte, o pensamento capturado é arrastado até o curral, onde poderá ser amansado com muita dedicação. Domesticar um pensamento não é tarefa fácil. Tratados sem delicadeza, eles empacam, definham, morrem; sobra apenas um esqueleto de pensamento, uma tristeza! É preciso encontrar a dose certa de carinho e firmeza para domesticá-los.
Amansado o pensamento, o escritor pode integrá-lo aos seus rebanhos. Com algum engenho, ele descobre como conduzi-los para lá e para cá, explorando e conquistando essas vastas pastagens e horizontes sem fim que são as frases, parágrafos, páginas, capítulos, livros inteiros...
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