Newsletter

Sua assinatura não pôde ser validada.
Você fez sua assinatura com sucesso.

Oficina de Clio - Newsletter

Inscreva-se na newsletter para receber em seu e-mail as novidades da Oficina de Clio!

Nous utilisons Sendinblue en tant que plateforme marketing. En soumettant ce formulaire, vous reconnaissez que les informations que vous allez fournir seront transmises à Sendinblue en sa qualité de processeur de données; et ce conformément à ses conditions générales d'utilisation.

quinta-feira, 31 de março de 2016

O véu, a nudez e o erotismo



Foto muito interessante, para além de suas conotações meramente políticas. 

A palavra revelar (do latim velum, "véu") tem uma ambiguidade curiosa, à medida que remete tanto ao que se mostra removendo o véu quanto àquilo que se percebe através do véu, especialmente de seus volumes. Todo véu oculta algo e exibe outra coisa ao mesmo tempo. Há um poema espetacular de Victor Hugo em que ele explora essa ambiguidade, no que tange à revelação religiosa. 

Nesse sentido, qualquer roupa "revela" alguma coisa e se torna passível de algum grau de decodificação erótica, me parece. Me faz lembrar uma passagem de Montaigne, onde ele falava justamente sobre a erotização do que se furta ao olhar, a cotejar a outra passagem, de Jean de Léry, em que ele salientava/defendia que a nudez das índias era muito mais despida (trocadilho) de erotismo que as vestimentas das europeias (ressoando, obviamente, os conceitos de decência enfatizados pela Reforma). 

Mais ainda, remete à pergunta que um aluno do ensino médio me fez certa vez em sala de aula: se bikinis e lingeries (calcinha e "soutien") são praticamente a mesma coisa, por que os primeiros são considerados aceitáveis em público, e os últimos não? Na ocasião, a pergunta me pareceu curiosa, mas só consegui pensar naquela resposta banal que o estudioso de humanidades sempre utiliza quando não tem ideia: "é uma questão cultural". De qualquer forma, fiquei com a pulga atrás da orelha. De lá para cá, chego à conclusão que, para além da cultura, há também uma questão de contexto e expectativa: ambiente público (praia) x ambiente privado (quarto), perspectiva de satisfação sexual adiada ou imediata

Tudo isso, obviamente, envolve códigos culturais que são aprendidos desde a infância, através de vários canais de comunicação. Em suma, independentemente de qualquer mensagem política, a imagem sugere o quanto o desejo erótico, sua (de)codificação e suas im/expressões fazem parte de aprendizados culturais complexos. Ao longo de suas vidas, esses dois homens certamente aprenderam a "enxergar" o corpo feminino por baixo do véu. Um dia ainda escreverei um artigo mais detalhado sobre o tema.

P.S.: Uma amiga acaba de compartilhar a imagem abaixo, que de alguma forma tem tudo a ver com o texto acima, embora ainda não tenha ideia de como fechar as conexões... Uma imagem "monstruosa", nos vários sentidos que o termo possa ter. Culpa dos algoritmos?


Nenhum comentário: