Sérgio Moro acaba de se retirar intempestivamente da sessão parlamentar onde prestava esclarecimentos sobre os vazamentos recentemente divulgados pelo site The Intercept.
Sob os gritos de "fujão", Moro se retirou em reação a fala do deputado Glauber Braga, que o chamara de "juiz ladrão e corrompido". Certamente a fala de Braga foi inadequada e indecorosa; com efeito, um dos piores defeitos do deputado, a meu ver, é sua incontinência verbal, que vez ou outra o leva a ultrapassar limites.
Todavia, a atitude de Moro me parece ainda mais desrespeitosa que as falas de Braga. Desrespeitosa, em primeiro lugar, para com os deputados presentes à sessão, muitos dos quais (inclusive governistas), aguardavam havia mais de 7 horas para apresentar suas questões ao Ministro da Justiça. Pior ainda, atitude desrespeitosa para com todos os cidadãos que desejam os devidos esclarecimentos sobre as suspeitas de descumprimento das regras do processo penal que pesam sobre a conduta de Moro no exercício da magistratura.
Suspeito de improbidade, o juiz trata como réus e inimigos aqueles que agora cumprem o republicano dever de investigar sua conduta. Mais uma vez demonstrando sua vaidade, aquele que tantos julgou agora não aceita se ver como objeto de julgamento. O "superministro" se recusa a ser tratado como reles mortal.
O gesto de Moro denota uma atitude melindrosa e suscetível que não se espera da parte de um ministro de Estado. A partir do momento que aceitou um cargo público de tamanha importância deveria demonstrar a devida disposição a engolir alguns sapos em nome da democracia. Noblesse oblige.
Vale comparar a conduta do ministro à do jornalista Glenn Greenwald em condições semelhantes. Comparecendo diante dos deputados, Greenwald teve de encarar situações muito mais vexatórias, desde ameaças diretas por parte de deputados que, atropelando a própria Constituição, exigiam sua prisão imediata até ofensas de ordem pessoal acerca de sua orientação sexual e de sua vida conjugal.
Apesar de tamanhos constrangimentos, Greenwald não se deixou intimidar, permanecendo até o fim da sessão, respondendo mesmo às piores ameaças e ofensas com firmeza, profissionalismo, polidez e urbanidade, mantendo a serenidade e a compostura, sem jamais se rebaixar ao nível daqueles que o desrespeitavam.
Nas circunstâncias mais hostis é que demonstramos nosso caráter. Como diria meu avô, é o que diferencia homens de moleques. Greenwald passou pela provação, tornando-a testemunho de sua integridade. Moro, pelo contrário, mostrou que lhe falta coragem quando lhe falta a toga. Moro hoje descobriu que a política não é um tribunal onde o juiz pode chamar o meirinho para prender quem o desacate. Desprovido do aparato da magistratura, Moro se revelou um covarde com um ego frágil, incapaz de suportar o mínimo arranhão. Ao "superministro" falta a fleuma que todo árbitro de futebol demonstra diante dos uivos da arquibancada.
O caráter não se compra. Nem se adquire num concurso para a magistratura...
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2 comentários:
👏👏👏
Muito bom!!!!👏👏👏👏👏👏
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