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quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Olhar compassivo

Todos os dilemas sociais ganham dimensões e perspectivas inesperadas quando tentamos enxerga-los com olhos de compaixão. O exercício de imaginar-se no lugar do outro é essencial. 

É necessário ter alguma sim-patia para com todos: o bandido, o policial, o governo, a oposição, o trabalhador, o patrão, a mulher, o homem, o branco, o negro, o homossexual, o homofóbico, o conservador, o iconoclasta, o milionário, o mendigo, o crente, o descrente, o indiferente, o exaltado - cada qual com suas dores, aflições, perplexidades, pavores, angústias, desesperos, carências. 

O sofrimento não escolhe vítimas ou algozes, inocentes ou culpados, oprimidos ou opressores. Todos suam, todos sangram, todos choram. 

Há que se lastimar o linchamento do mendigo e o suicídio do milionário. Há que se chorar cada dor e acolher cada ferido. Há que se prantear especialmente as lágrimas ocultas, invisíveis, incompreensíveis, principalmente aquelas dissimuladas sob frívolos sorrisos. 

Viver fere, nada há mais humano que sofrer e nada nos desumaniza mais que a indiferença perante a dor. Existem misérias e miseráveis de formas variadas, nos lugares mais inesperados. A desventura possui muitas máscaras. Quanta dor cabe num belo dia ensolarado! 

Toda miséria pede misericórdia. 

Precisamos buscar o Eu no Tu, dizia um pensador - e todo Tu é um Eu que sofre. Nenhuma dor humana nos é estranha, mesmo que nos pareça absurda. Todos os sofrimentos são solidários, especialmente entre sofredores que se odeiam. 

Sem buscar compreender o sofrimento alheio, fica muito difícil encontrar soluções para os problemas que enfrentamos juntos.

Pietá, de Michelangelo (detalhe).



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