sexta-feira, 26 de abril de 2019
Dia Eterno no Cassino do Chacrinha
"Alô, alô, Teresinha!"
O grito ecoa nas invisíveis paredes do contorcido e torturado espaço-tempo. Tragado por uma urna eletrônica, o Prof. Borges, intrépido explorador do desconhecido, tenta compreender sua incompreensível situação!
Uma atordoante buzina ressoa nos corredores da Eternidade, qual trombeta anunciando algum Juízo Final.
Brasileirinhas, brasileiríssimas, estonteantes chacretes seminuas bailam frenéticas, sensualmente honrando e glorificando os bons costumes, a moral cristã, a família tradicional brasileira e os fariseus de todo o sempre.
Uma chuva dourada cai de inimagináveis altitudes, fecundando a terra brasileira e confundindo-se com a estrepitosa gargalhada de Abelardo Barbosa. O Prof. Borges corre com todas as suas forças, mas o chão parece se desmanchar sob os pés de nosso herói.
"Vocês querem bacalhau?!"
A multidão brada alucinada. Milhões de mãos apedrejantes se erguem contra o Prof. Borges. "Comunista! Comunista! Comunista!" - ruge a turba enfurecida. Dedos apontam perigosamente, atiçados por encarniçadas chacretes que, como despudoradas tchutchucas, rebolam até o chão, seduzindo as arquibancadas e os arquibanqueiros. No longínquo horizonte, ao fundo do palco, um faminto e austero tigrão devora as carnes dos trabalhadores.
Abelardo Barbosa anuncia a próxima atração, em socorro do intrépido aventureiro, agora acuado contra um muro de lamentações. Por breve instante, Prof. Borges suspira aliviado. Mas o alívio dura pouco: contra a multidão enfurecida vem apenas outra turba descabelada, aos berros: "Lula Livre! Lula Livre! Lula Livre!". Um lovecrafteano molusco se agita numa masmorra, instigado por seus adoradores.
"Quem não comunica, se trumbica!"
Prof. Borges se atira do palco, pouco antes do feroz encontro das duas facções sanguinárias, que se dividem e multiplicam por décadas e séculos afora, em sinistras metástases políticas: queremistas esfaqueiam saquaremas, luzias fuzilam lacerdistas, brizolistas pisoteiam as tripas de udenistas, mulheres marchadeiras esquartejam jovens carapintadas, guerrilheiros torturam milicos, black-blocs devoram tupinambás, tupiniquins arremessam molotovs contra o choque... Imperturbáveis como bacantes alucinadas, as chacretes dançam sempre sorridentes, apesar do mar de sangue que as cobre até os joelhos.
A buzina soa e ressoa freneticamente. Não há intervalo comercial. Os ponteiros do relógio seguem imóveis nessa perpétua tarde de sábado. O Prof. Borges se pergunta quando escapará desse tormento. Como se lesse seus pensamentos, Abelardo Barbosa anuncia lugubremente:
"Só acaba quando termina!"
Dedicado ao amigo Vinicius Borges
O grito ecoa nas invisíveis paredes do contorcido e torturado espaço-tempo. Tragado por uma urna eletrônica, o Prof. Borges, intrépido explorador do desconhecido, tenta compreender sua incompreensível situação!
Uma atordoante buzina ressoa nos corredores da Eternidade, qual trombeta anunciando algum Juízo Final.
Brasileirinhas, brasileiríssimas, estonteantes chacretes seminuas bailam frenéticas, sensualmente honrando e glorificando os bons costumes, a moral cristã, a família tradicional brasileira e os fariseus de todo o sempre.
Uma chuva dourada cai de inimagináveis altitudes, fecundando a terra brasileira e confundindo-se com a estrepitosa gargalhada de Abelardo Barbosa. O Prof. Borges corre com todas as suas forças, mas o chão parece se desmanchar sob os pés de nosso herói.
"Vocês querem bacalhau?!"
A multidão brada alucinada. Milhões de mãos apedrejantes se erguem contra o Prof. Borges. "Comunista! Comunista! Comunista!" - ruge a turba enfurecida. Dedos apontam perigosamente, atiçados por encarniçadas chacretes que, como despudoradas tchutchucas, rebolam até o chão, seduzindo as arquibancadas e os arquibanqueiros. No longínquo horizonte, ao fundo do palco, um faminto e austero tigrão devora as carnes dos trabalhadores.
Abelardo Barbosa anuncia a próxima atração, em socorro do intrépido aventureiro, agora acuado contra um muro de lamentações. Por breve instante, Prof. Borges suspira aliviado. Mas o alívio dura pouco: contra a multidão enfurecida vem apenas outra turba descabelada, aos berros: "Lula Livre! Lula Livre! Lula Livre!". Um lovecrafteano molusco se agita numa masmorra, instigado por seus adoradores.
"Quem não comunica, se trumbica!"
Prof. Borges se atira do palco, pouco antes do feroz encontro das duas facções sanguinárias, que se dividem e multiplicam por décadas e séculos afora, em sinistras metástases políticas: queremistas esfaqueiam saquaremas, luzias fuzilam lacerdistas, brizolistas pisoteiam as tripas de udenistas, mulheres marchadeiras esquartejam jovens carapintadas, guerrilheiros torturam milicos, black-blocs devoram tupinambás, tupiniquins arremessam molotovs contra o choque... Imperturbáveis como bacantes alucinadas, as chacretes dançam sempre sorridentes, apesar do mar de sangue que as cobre até os joelhos.
A buzina soa e ressoa freneticamente. Não há intervalo comercial. Os ponteiros do relógio seguem imóveis nessa perpétua tarde de sábado. O Prof. Borges se pergunta quando escapará desse tormento. Como se lesse seus pensamentos, Abelardo Barbosa anuncia lugubremente:
"Só acaba quando termina!"
Dedicado ao amigo Vinicius Borges
quarta-feira, 24 de abril de 2019
"Nova Política": Onde está?!
quinta-feira, 18 de abril de 2019
O retorno da chanchada
Política virou entretenimento no Brasil. Antigamente eu reclamava que as pessoas eram alienadas. Eu era feliz e não sabia. Torcida por torcida, era melhor quando as pessoas torciam só por futebol e escola de samba. E segue a chanchada...
quarta-feira, 17 de abril de 2019
Japão Clichê
terça-feira, 16 de abril de 2019
Notre-Dame: Eternidade em chamas
Notre-Dame é a estrela mais brilhante da Cidade Luz. Que tristeza vê-la fulgurando à infernal luz das chamas!
Notre-Dame é um universo inteiro, povoado de santos, anjos, demônios, gárgulas e quimeras. De suas torres, parece que o próprio Céu, capturado pelos construtores, é apenas um pano de fundo para suas magníficas formas - o Infinito reduzido a detalhe arquitetônico.
Suas rosáceas eram verdadeiros tratados de teologia medieval, dizia Roy Wagner. Victor Hugo considerava a catedral inteira um livro escrito a muitas mãos.
Dentro da nave, a luz filtrada pelas janelas e vitrais criava um ambiente difícil de descrever: aconchegante, misterioso e um tanto claustrofóbico. Um espaço gigante, ínfimo e paradoxal. Na nave de Notre-Dame me sentia respirando num Outro Mundo ou, quem sabe, num Mundo Outro.
Como um ser vivo, aquela catedral tinha uma voz. Respirava, cantava e orava através de seu órgão, um dos melhores e mais antigos do mundo.
Notre-Dame de Paris não parecia uma obra medieval. Eu acreditaria se me dissessem que estava ali desde o princípio dos tempos, construída por anjos ou demônios, descida inteira do mais alto dos céus ou emersa dos mais profundos infernos. Sua beleza fascinante e terrível, certamente, não é deste mundo.
Ainda não se sabe ao certo o que sobreviveu ao incêndio de hoje. Os vitrais certamente estão perdidos. A espectral luz de sua nave nunca mais será a mesma. Talvez seja igualmente espectral e fascinante, mas será outra. O órgão, ora mudo, talvez seja restaurado, mas sua voz será outra, sua acústica foi irremediavelmente perdida.
Notre-Dame persistirá, bela mesmo em sua catástrofe, como mater dolorosa. Mas o mundo perdeu hoje um pedaço de Eternidade...
Notre-Dame é um universo inteiro, povoado de santos, anjos, demônios, gárgulas e quimeras. De suas torres, parece que o próprio Céu, capturado pelos construtores, é apenas um pano de fundo para suas magníficas formas - o Infinito reduzido a detalhe arquitetônico.
Suas rosáceas eram verdadeiros tratados de teologia medieval, dizia Roy Wagner. Victor Hugo considerava a catedral inteira um livro escrito a muitas mãos.
Dentro da nave, a luz filtrada pelas janelas e vitrais criava um ambiente difícil de descrever: aconchegante, misterioso e um tanto claustrofóbico. Um espaço gigante, ínfimo e paradoxal. Na nave de Notre-Dame me sentia respirando num Outro Mundo ou, quem sabe, num Mundo Outro.
Como um ser vivo, aquela catedral tinha uma voz. Respirava, cantava e orava através de seu órgão, um dos melhores e mais antigos do mundo.
Notre-Dame de Paris não parecia uma obra medieval. Eu acreditaria se me dissessem que estava ali desde o princípio dos tempos, construída por anjos ou demônios, descida inteira do mais alto dos céus ou emersa dos mais profundos infernos. Sua beleza fascinante e terrível, certamente, não é deste mundo.
Ainda não se sabe ao certo o que sobreviveu ao incêndio de hoje. Os vitrais certamente estão perdidos. A espectral luz de sua nave nunca mais será a mesma. Talvez seja igualmente espectral e fascinante, mas será outra. O órgão, ora mudo, talvez seja restaurado, mas sua voz será outra, sua acústica foi irremediavelmente perdida.
Notre-Dame persistirá, bela mesmo em sua catástrofe, como mater dolorosa. Mas o mundo perdeu hoje um pedaço de Eternidade...
Assuntos relacionados:
Arquitetura,
Arte,
Cristianismo,
Democracia,
França,
Idade Média,
Imaginação,
Música,
Paris,
Permanências culturais
quarta-feira, 10 de abril de 2019
Escuta e concordância
Eu posso ouvir você, mas isso não me obriga a concordar com sua opinião.
"Escuta" não é, nem deve ser, sinônimo de "concordância" - até porque não existe liberdade de pensamento sem direito à discordância. Concordância compulsória costuma ser desejo de gente autoritária: não passa de delírio inquisitorial, por melhores que sejam os argumentos ou as intenções - das quais, cumpre lembrar, o inferno está sempre repleto.
No entanto, em tempos de opiniões polarizadas e trincheiras cavadas, é muito mais fácil acusar o outro de não ouvir que reconhecer franca e generosamente que ele tem o direito de não concordar.
P.S.: Vale lembrar que o direito de discordar independe da qualidade dos argumentos. É claro que apenas perfeitos idiotas conseguem discordar de alguns argumentos, mas, no fim das contas, a própria idiotice também é um direito, que todos nós acabamos exercendo em um ou outro momento de nossas vidas.
P.S.: Vale lembrar que o direito de discordar independe da qualidade dos argumentos. É claro que apenas perfeitos idiotas conseguem discordar de alguns argumentos, mas, no fim das contas, a própria idiotice também é um direito, que todos nós acabamos exercendo em um ou outro momento de nossas vidas.
sábado, 6 de abril de 2019
A bebedeira e a ressaca
O "intelectual" Olavo de Carvalho se tornou uma dor de cabeça para o atual governo, disparando comentários grotescos contra membros destacados do Executivo a cada dos ou três dias.
"És responsável por tudo que cativas". Nosso Pequeno Príncipe mandão cultivou a Rosa desbocada; que ouça os palavrões...
Toda ação tem consequências; ações irresponsáveis costumam trazer consequências desagradáveis.
Depois da bebedeira vem a ressaca.
Bateu palma para o maluco dançar, agora tem que aguentar o espetáculo. Eu, de minha parte, confesso que estou me divertindo...
quarta-feira, 3 de abril de 2019
A desconstrução dos empoderados
A mera leitura da palavra "desconstrução" me dá sono. Muito. Quando leio "empoderamento", pior: quase entro em coma. Ainda bem que já anda por aí gente se dizendo "empoderada em Jesus", para desconstruir a amolação dos empoderados de plantão...
Assinar:
Postagens (Atom)