Me surpreendi hoje ao constatar que o tão badalado "Universo Marvel" (MCU para os íntimos) já tem trinta e um (!) filmes lançados e mais uns oito (!) agendados - fora os seriados e especiais de TV e streaming (!!!).
Gosto de super-heróis, gosto de (alguns) filmes de super-herois, mas... Para tudo há um limite.
Excluindo algumas obras mais inspiradas, o grosso dessa produção poderia receber o rótulo de "entretenimento barato" - não fosse o orçamento milionário desses filmes e sua extraordinária arrecadação - sem mencionar a vasta gama de produtos derivados.
Se essas "maravilhas" não ocupassem quase todas as salas e horários de cinema o ano inteiro, não seria o maior dos problemas. Filmes de super-heróis (não apenas Marvel) ocupam uma porção cada vez maior de sessões de cinema, deixando menos e menos espaço para outros gêneros cinematográficos.
Como se não bastasse essa quase usurpação das sessões de cinema, o fenômeno se espalha também pelas prateleiras de livrarias, lojas de brinquedos e milhares e milhares (literalmente) de sites, canais e vídeos em plataformas digitais - em sua maior parte, material de qualidade e relevância duvidosas.
Essa verdadeira monomania é prejudicial inclusive às próprias obras de super-herois, visto que a quantidade cada vez maior de produtos compromete sua qualidade, resultando em trabalhos cada vez menos criativos, mais repetitivos e esvaziados de significado - inclusive devido ao status de propriedade intelectual de grandes conglomerados de mídia; à medida que os paladinos mascarados, encapuzados e coloridos se tornam investimentos milionários, a liberdade de criação dos artistas envolvidos com essa indústria se torna mais e mais limitada, devendo se conformar a um cânone cada vez mais padronizado e enrijecido. De certa maneira, quem viu um filme Marvel, viu todos.
Os anos 60 e 70 foram quase uma Nova Gênese para os quadrinhos de super-herois, pela contribuição de criadores como Stan Lee, Dennis O'Neal, Jack Kirby, Neal Adams e muitos outros (apesar do papel vagabundo e da limitada paleta de cores); os anos 80 e 90 viram uma vibrante explosão criativa, encabeça por figuras como Alan Moore, Neil Gaiman, Frank Miller, John Byrne, Grant Morrison e outras mentes talentosas - foi o período em que emergiram as ambiciosas "graphic novels", com maiores pretensões artísticas e recursos editoriais mais vastos. O mesmo não pode ser dito das primeiras décadas do século XXI, marcadas por uma assombrosa estagnação, produzindo poucas obras dignas de nota, apesar dos notáveis avanços técnicos que viabilizam edições belas, caras e artisticamente pobres - décadas estéreis como Apokolips...
Tal excesso de oferta, que beira a imposição, a meu ver, já está se tornando um fator de alienação cultural para grande parte do público, especialmente dos mais jovens. A diversidade é essencial para o cultivo do ser humano em plenitude. Há que se explorar outros horizontes, navegar e mergulhar em outros mares.
Em sua maioria, filmes de super-herois são divertidos, mas tremendamente superficiais. Diversão é importante, mas não pode ser tudo na vida. Um ser humano que se cultive apenas com obras divertidas perde a oportunidade de explorar outras facetas da vida, do mundo, e de si mesmo. O próprio mundo dos quadrinhos, por sinal, não pode ser resumidos a franquias de super-herois - há muitos outros gêneros de "gibis", cada qual com suas riquezas.
Até a diversão demasiada termina por saturar, enfastiar; deixa de ser um prazer para se tornar uma compulsão - sacia, mas não alimenta. E haja circo para pouco pão...
Viraremos todos "zumbis Marvel"? |
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