Extrato de O cavaleiro inexistente, de Ítalo Calvino
"Rambaldo dirigiu-se ao pavilhão da Superintendência para Duelos, Vinganças e Máculas à Honra. Já não se deixava enganar pelas couraças e elmos emplumados: percebia que atrás daquelas mesas as armaduras encerravam homenzinhos mirrados e poeirentos. E se devia agradecer quando havia alguém dentro!
- Com que então, quer vingar seu pai, marquês de Rossiglione, patente de general! Vejamos: para vingar um general, o melhor procedimento é eliminar três majores. Poderíamos indicar-lhes três fáceis e tudo em ordem para você.
-Não me expliquei bem: quem devo matar é Isoarre, o emir. Foi ele em pessoa quem derrubou meu glorioso pai!
-Sim, sim, entendemos, mas você não se iluda porque derrubar um emir não é coisa simples... Quer quatro capitães? Podemos garantir-lhe quatro capitães infiéis durante a manhã. Note que quatro capitães valem um general de exército e seu pai era apenas general de brigada.
-Vou procurar Isoarre e arrancar-lhe as tripas! Ele, e só ele!
-Você vai acabar preso, sem ir ao campo de batalha, pode ter certeza! Reflita um pouco antes de falar! Se criamos obstáculos em relação a Isoarre é porque temos boas razões... Se, por exemplo, o nosso imperador tivesse alguma negociação em curso com Isoarre...
Mas um dos funcionários que até aquele momento mantivera a cabeça enfiada nos mapas levantou-se contente:
-Tudo resolvido! Tudo resolvido! Não é preciso fazer nada. Nada de vingança, nem é preciso! Outro dia, Ulivieri, pensando que seus dois tios haviam morrido em combate, vingou-os! Contudo, eles estavam bêbados debaixo de uma mesa! Acabamos ficando com duas vinganças de tio a mais, uma boa trapalhada. Agora está tudo certo: uma vingança de tio podemos contar como meia vingança de pai; é como se tivéssemos uma vingança de pai completa, já executada.
-Ah, meu pai! - Rambaldo quase tinha um ataque.
-Mas o que tem você?"
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