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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Carta do povo Kisedje em repúdio à PEC 215

Reproduzo abaixo:

"Kisêdjê Wê Kupê Re Ajmendo Wikhrõntá 
AIK Associação Indígena Kisêdjê

Nós, povo Kisêdjê, reunidos na assembleia geral da nossa associação, recebemos a notícia que a PEC 215 está avançando. No dia 27 de outubro de 2015, os inimigos dos indígenas e da natureza deram mais um passo. Nós estamos indignados com essa PEC e vamos contar por que somos contra ela.

Se esta Proposta de Emenda Constitucional for aprovada, queremos dizer para todos que a destruição será muito grande, e ela já está começando. As florestas estão acabando, os rios estão secando, em outros lugares a chuva está inundando as cidades. Em São Paulo as pessoas já estão sofrendo sem água. E elas não estão percebendo o que está causando tudo isso. Os brancos estão provocando os espíritos da natureza, estão destruindo todas as florestas e a natureza. E os espíritos não estão gostando disso, e já começaram a se vingar.

Nós indígenas sabemos disso há muito tempo, só agora os cientistas de vocês estão descobrindo essa verdade, chamando de mudança climática. Mas as pessoas que estão ganhando dinheiro com essa destruição não querem dar ouvidos a isso.

Até hoje, nós, povos originários desta terra, existimos, mesmo sem dinheiro, ou exploração da natureza. Sabemos conviver com a natureza, sabemos respeitá-la, sabemos qual árvore podemos derrubar, sabemos quando e como podemos mexer na natureza. Temos que respeitar, porque é a natureza que dá vida para a gente, ela que dá água e comida.

Não estamos preocupados com dinheiro: dinheiro não é peixe nem caça, dinheiro não é agua, não é lugar bom para viver.

Se a natureza se vingar, como o ser humano vai viver, onde seus filhos e netos irão beber água, onde vão plantar sua comida?

Vocês, ruralistas, empresários, políticos evangélicos, precisam enxergar isso, precisam entender que este olhar grande só no dinheiro está acabando com nossas vidas. De todos do planeta.

Esta destruição não é para plantar comida para o povo brasileiro, que ainda sofre com a fome, mas sim para vender soja para outros países, pensando apenas no lucro de poucas pessoas. Sabemos que existe uma lei, que é a constituição federal do Brasil, aprovada em 1988. Também conhecemos a convenção 169 da OIT, que garante a obrigação de consulta aos povos indígenas quando alguma mudança na lei vai nos afetar. Agora os políticos estão ameaçando essas leis maiores, que foram feitas para todos poderem viver bem.

Estamos chamando as pessoas preocupadas com o mundo, os países que já perceberam isso, para se juntar também à nossa luta, porque todos vão sofrer, todos vão sentir.

Queremos mandar um recado para os países que estão comprando esta soja, eles estão financiando problemas para eles mesmos. Mesmo que seja do outro lado do mundo, eles também serão atingidos, porque o planeta é só um.

Os deputados, senadores, prefeitos, vereadores, governadores, fazendeiros, empresários, políticos evangélicos, precisam enxergar isso, precisam considerar nossa manifestação, antes que seja tarde demais. Vocês precisam pensar nos seus filhos, nos seus netos, nos netos deles.

Nós, povos originários dessa terra, vemos que essa lei avançou para ser aprovada. Se os deputados aprovarem e ela chegar no senado, nós vamos entrar em guerra. Antigamente, nós lutávamos com armas. Aprendemos a lutar pacificamente, do seu jeito, com palavras e com papel, mas os políticos não querem nos dar ouvidos. Vamos fazer guerra de verdade, usando todos nossos poderes, nossas armas, nossos corpos. Vamos começar na nossa vizinhança, nas fazendas, nas BRs e nas cidades vizinhas, e não vamos parar. Estamos lutando pela nossa vida, e não vamos morrer sentados.

Presidente Dilma Roussef, não esquecemos da promessa que você fez para os povos indígenas, de que não irá aprovar esta PEC, e fique sabendo que se esta proposta for aprovada você estará declarando guerra contra nós, povos originários e avisamos que estamos preparados para derramar sangue.

Povos originários do Brasil, nós do leste do Xingu- MT, povo Kisêdjê, estamos nos preparando para guerra, se preparem também para enfrentar juntos esta batalha contra PEC 215.

Já houve muitos assassinatos de vários líderes indígenas pelo homem branco. Estamos cansados de lutar pelo papel, não iremos ficar".

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