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segunda-feira, 8 de junho de 2020

Careta, Mutreta e a penúria brasileira

Adaptado de uma conversa no WhatsApp; dedicado à prima Leilane e aos amigos Tiago e Vinicius, batalhadores do magistério
Então, prima, a epopeia de Careta e Mutreta é uma história anterior ao meu nascimento... Foi numa das primeiras escolas em que minha mãe trabalhou, lá pelas bandas da Zona Oeste, por volta de 1972.

Certa vez minha avó foi se encontrar com minha mãe na porta da escola, pois de lá iriam resolver alguma coisa. Enquanto esperava a hora da saída, minha avó ficou na calçada conversando com uma das mães de alunos, uma conversa bem agradável.

Quando as crianças começaram a sair da escola, minha avó se despediu e perguntou à interlocutora qual era o nome de seus filhos, para depois checar se eram alunos de minha mãe. Então a senhora respondeu algo assim:

"Ih, minha senhora, lá em casa só quem sabe o nome das crianças é o meu marido. Eu só sei os apelidos. Os dois mais novinhos são Careta e Mutreta!"

"Careta e Mutreta", para quem não lembra, era um desenho animado dos estúdios Hannah-Barbera, protagonizado por um abutre e uma cobra, na mesma linha de Tom, Jerry, Coiote, Papa-Léguas, entre tantos outros, em que um predador se dá mal tentando capturar uma presa.

Os meninos não eram alunos de minha mãe, mas ela foi se informar com as colegas e acabou descobrindo que eram irmãos gêmeos, com nomes compostos e parecidos, algo como João Pedro e João Paulo - em família, Careta e Mutreta.

É um caso extremo, mas professores e funcionários encontram várias situações semelhantes nas escolas municipais. Pais que não sabem a turma dos filhos ou a série escolar são o trivial. Mas também é muito comum chegarem pais que não sabem de cor a data de nascimento ou o nome todo dos filhos. Já presenciei um pai que não sabia dizer o nome do "Carlinhos", até que a filha mais velha, que o acompanhava, se recordou - com algum esforço - que o irmão se chamava Carlos Alberto (ao menos nos registros civis).

Enfim, essas situações são um retrato da nossa população: pouco letrada, sem muita preocupação com o universo das formalidades institucionais e da documentação escrita. Marcas de nossa formação social. Por sinal, é muito sintomático que a mãe dos gêmeos se lembrasse mais dos apelidos associados à televisão, que então se expandia no Brasil, que dos nomes registrados na certidão de nascimento. Ainda hoje sentimos os estranhos efeitos do atabalhoado ingresso de uma sociedade parcamente letrada no mundo das comunicações de massa.

Quanto à "lenda de Careta e Mutreta", o ideal era ouvir minha avó e minha mãe contando a história juntas - minha esposa e minha tia são testemunhas. Infelizmente minha avó não está mais entre nós, então quem viu, viu...
Careta, o abutre e Mutreta, a cobra; ou o contrário.

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