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quinta-feira, 28 de abril de 2016

Crônica de uma aula

Manhã. Uma escola municipal. Sala de uma turma de 9º ano.

Sai a professora de Ciências. O professor de História está na porta. Diversos alunos (que já deveriam estar no Ensino Médio) estão em pé, zanzando pela sala, berrando uns para os outros. Um deles dança funk. Dois trocam socos. De brincadeira.

O professor aguarda alguns minutos, para ver se eles "se mancam". Demora, mas alguns tomam "espontaneamente" seus lugares. Cerca de 3 ou 4 permanecem em suas alegres atividades, ignorando deliberadamente a presença do professor.

Disfarçando irritação com polidez, o professor chama nominalmente cada um dos "cavalheiros", pedindo que tomem seus respectivos lugares. Fingem que não ouvem, atendendo apenas ao terceiro ou quarto convite.

Agora, todos estão sentados, mas a maioria fala pelos cotovelos - aos berros. O Mercadão de Madureira ou a Rua da Alfândega costumam ser mais silenciosos. Com 8 anos de experiência, o professor já sabe que a aula de hoje não vai render. No início da carreira, ele tentaria dialogar com os alunos, pedir colaboração e até berrar ou dar um tapa na mesa. Mas agora ele já sabe que nada disso funciona.

Partindo para o Plano B, ele adianta a matéria, enchendo o quadro. Com sorte, na semana que vem eles estarão mais calmos, e então será possível explicar alguma coisa.

O professor gosta de propor atividades criativas, que envolvam expressão e desenvolvimento de opinião, que fomentem uma postura autônoma. No passado, ele já conseguiu fazer isso com muitas turmas, mas a cada ano ele encontra menos turmas minimamente interessadas por esse tipo de atividade. Em outra semana, ele pedira à turma que elaborasse uma história em quadrinhos sobre João Cândido e a Revolta da Chibata, mas a maioria dos alunos preferiu passar a aula inteira sem fazer nada, mesmo quando o professor lhes lembrou que a nota correspondente seria importante para a média bimestral.

Sobram o cuspe e o "giz" (caneta Pilot, na verdade). Os poucos alunos interessados copiam a matéria. O professor lembra aos demais que vai dar visto e ponto para a cópia - continuam indiferentes: "daqui a pouco eu copio".

Hora do recreio. Todos descem.

Um aluno se demora. O professor já o conhece há alguns anos. Ele era terrível no 6º ano! Já deveria estar no Ensino Médio. Sorri:

-E aí, João! Tá mais calmo esse ano, hein?

-Tô amadurecendo, Professor. Tem que tomar jeito...

-Isso aí! Antes tarde do que nunca!

Sorriem.

Uma alma (apenas uma) está saindo do purgatório...

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