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domingo, 10 de agosto de 2014

A sociedade dos invejosos

Há mais de um ano tenho observado certa tendência na cultura cotidiana, através das conversas de meus alunos, de diálogos entreouvidos nos transportes coletivos, da publicidade e mesmo do tal funk ostentação (que todos temos o desprazer de conhecer): estamos vivendo numa cultura obcecada pela inveja. Volta e meia vejo pessoas se queixando de que são invejadas por fulano ou beltrano, pelos motivos mais diversos e mais estapafúrdios. Obviamente não se trata de novidade, mas creio que estamos atingindo um nível patológico.

Em que pese o tom quase sempre queixoso, tenho a nítida impressão de que muitas pessoas desejam provocar inveja em terceiros e se sentem (quase) secretamente lisonjeadas por esses sentimentos. De fato, nossa cultura me parece nutrir e estimular um desejo vagamente consciente e inconfessável por ser invejável e, de preferência, invejado. Nessa escala de valores, a inveja alheia quase equivale a uma homenagem involuntária, certidão pública de sucesso - não ser invejado por ninguém equivale a um fracasso na sociedade de ostentação.

Não é difícil relacionar essa tendência ao estímulo da publicidade e das mídias sociais. Por um lado, a inveja sempre foi muito usada na propaganda - lembram da tesourinha do Mickey? Por outro lado, as redes sociais e suas dinâmicas de superexposição e autopromoção constituem outro impulsionador - muita gente busca essas redes mais para ser visto que para ver; cada foto postada implora por atenção, admiração e, no limite, inveja.

No fundo, tudo isso nos remete à questão sempre presente do culto e cultivo intensivo da imagem pessoal, que se torna cada vez mais o frágil sustentáculo da autoimagem e da autoestima. A inveja do outro se torna mais um dos espelhos de Narciso buscados com tanta avidez pela gente de nosso tempo. Não à toa a propaganda de certo automóvel atualmente veiculada usa o slogan: "O carro onde você quer se ver"...

E aí entra outra questão problemática: a inveja é sentimento raramente confessado e declarado abertamente; o (suposto) invejoso é quase sempre imaginado como tal pelo (suposto) invejado, sem muita objetividade. Em suma, as pessoas estão neuróticas por um sentimento cuja existência social só se manifesta publicamente em terceira pessoa.

Concluindo, nessa cultura de espetacularização da vida privada e da imagem pessoal, inveja e exibicionismo caminham lado a lado - Freud provavelmente explica...

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