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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Batman na arena política

Os primatas do planeta Terra nos surpreendem ao cabo das translações solares.

Nos anos 50, no auge da paranoia macartista, Batman era acusado de induzir os meninos à homossexualidade; quem diria que décadas depois ele seria acusado de "fascista" pelas militâncias de esquerda... Coitado do morcegão!

O personagem salta há mais de 80 anos pelos telhados de Gotham City e já foi abordado de inúmeras maneiras ao longo dessas décadas. 

É curioso que as militâncias digitais andem  mais preocupadas com a fortuna Wayne que com o Batman propriamente dito. Qualquer leitor atento sabe que Bruce Wayne, o entediado playboy milionário, desde a primeiríssima história,  sempre foi apenas a máscara do Batman.

Na história inaugural, publicada na revista "Detective Comics 27" em maio de 1939, Batman figura desde o começo como protagonista. Wayne aparece durante toda a narrativa apenas como um jovem cuja frivolidade chega a ser casualmente lamentada pelo Comissário Gordon. Só nas duas últimas vinhetas ocorre a revelação: Batman é Bruce Wayne. O milionário fútil, entojado e almofadinha talvez até causasse alguma antipatia aos jovens leitores que tiveram a honra de testemumhar a estreia do Cavaleiro das Trevas.

Para todos nós que viemos depois, é impossível saber, pois lemos desde a página 1 sabendo que Wayne e Batman são a mesma pessoa. Há de fazer diferença.

Quanto a Batman ser um "espancador de pobres", vale lembrar que o vilão da primeiríssima aventura era um milionário que assassinava os próprios sócios para dominar sozinho o negócio. Batman surgiu combatendo um "capitalista selvagem".

De resto, elucubrações excessivas sobre as dinâmicas sociais e políticas de Gotham City, uma cidade ficcional, beiram o ridículo. Como bem sinalizava David Mazzuchelli, desenhista de "Batman-Ano Um", uma das histórias mais icônicas do personagem, quanto mais realismo se tenta aplicar ao fantasioso universo dos super-herois, mais evidente se torna o absurdo da premissa original.

Vale notar, inclusive, que "Ano Um", publicada em 1987, mostra um novato Batman em confronto com uma Gotham City decadente e degradada, dominada por empresários gananciosos e mafiosos associados a um prefeito e uma força policial corrupta. Uma das sequências mais emblemáticas da série mostra Batman invadindo um banquete dessa predatória elite e anunciando sua cruzada por Gotham: "Senhoras e senhores, vocês comeram bem. Comeram a riqueza de Gotham... Seu espírito. O banquete acabou. De hoje em diante nenhum de vocês estará a salvo".

Digna de nota também é a longa sequência de aventuras do Batman produzidas pelos engajados Dennis O'Neil e Neal Adams nos anos 70, entusiastas da contra-cultura da época, muitas vezes abordando temáticas sociais com uma abordagem nada elitista. Uma dessas histórias chega a retratar Batman ajudando guerrilheiros contra um regime ditatorial em um fictício país latino-americano!

Desde sua primeira aparição nos quadrinhos em 1939, Batman figurou em literalmente milhares de obras midiáticas, incluindo HQs, livros, animações, séries televisivas, filmes e video-games, entre outras, com abordagens variadíssimas. Há versões de Batman para todos os gostos e desgostos.

Reduzir Batman a um sádico milionário fantasiado de morcego para espancar bandidos pobres é algo tão simplório que beira o ridículo. Mas é desse tipo de reducionismo que se alimentam as paixões políticas e as querelas estéreis e ociosas. 

Discursos bobos e superficiais como o do meme acima só trazem descrédito àqueles que os reproduzem e banalizam questões sérias como violência urbana e desigualdade social; pouco contribuem para o debate público e até fortalecem as forças políticas que pretendem criticar.

#Reflita

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