Há quase 11 anos postei neste blog um texto lamentando as comemorações pela morte de Bin Laden nas ruas dos Estados Unidos. Comemorar a morte de um bárbaro é um gesto que nos aproxima do próprio bárbaro.
Da mesma forma, mais recentemente, refleti sobre meus próprios sentimentos de regozijo, igualmente lamentáveis, quando recebi a notícia da prisão de Sérgio Cabral.
A língua alemã, em sua riqueza, possui um termo específico para esse tipo de sentimento demasiadamente humano: Schadenfreud - a alegria pela desgraça alheia.
O respeito à doença, ao sofrimento, ao infortúnio e ao luto daqueles que abominamos e nos causam repugnância é um dos limites mais importantes entre a civilização e a barbárie.
O Sr. Jair Messias Bolsonaro, infelizmente, não é uma pessoa conhecida por respeitar esses limites. Sabemos bem disso, como atestam inúmeros episódios.
Bolsonaro manifestava publicamente seu desejo de que um câncer ou um infarte tirassem a vida da então presidente Dilma Roussef, paciente oncológica convalescente. Comemorou a morte de Fidel Castro.
Mais recentemente, já na função de Presidente da República, fez comentários escarninhos sobre os brasileiros falecidos na atual pandemia, especialmente o grotesco "E daí?"
Jair Messias Bolsonaro, infelizmente, é um ser humano que não respeita, nunca respeitou, os limites do pacto civilizatório. Nem mesmo a experiência da fatídica facada o fez repensar tais posturas.
Agora circulam notícias de que o Presidente Bolsonaro está sob suspeita de ter contraído COVID-19.
Tomemos o cuidado de não nos rebaixarmos, sequer jocosamente, à barbárie de Bolsonaro.
Não devemos desejar "Força, COVID" ou nos regozijarmos com a possibilidade da morte do presidente. Tais atitudes nos rebaixam ao mesmo nível de barbárie que tanto reprovamos nele.
Barbárie alimenta barbárie. Em nome da preservação do sempre frágil pacto civilizatório, precisamos nos colocar acima do "olho por olho, dente por dente".
Diante da barbárie, nos cabe cultivar a altivez ética de lutar contra as próprias pulsões bárbaras, vingativas e rancorosas que existem dentro de cada um de nós.
A alegria diante da desgraça alheia é um impulso muito humano, quase instintivo, que habita em nós. Não é vergonha sentir isso e seria hipocrisia negar que tais sentimentos estão em nós.
No entanto, como humanos, somos seres dotados da capacidade de escolher. Podemos escolher cultivar ou não tais sentimentos. Tal semente existe em nossos corações, mas devemos, em sã consciência, irrigá-la? Desejamos transformar nossas consciências em plantações de amargo ódio? Que colheita podemos esperar de semelhante cultivo?
De minha parte, sinto, como tantos, a inclinação de me regozijar com a enfermidade do presidente, desejar-lhe a morte e fazer piada com o tema.
Mas evitarei isso. Como ser humano, faço a escolha consciente de não me entregar a essas inclinações ou cultivar tais atitudes. Como recitava Mandela, "sou capitão de minha alma".
E como capitão de minha alma, escolho não sucumbir à lamentável barbárie que consome a alma do Capitão Bolsonaro.
Em nome de meus familiares e amigos que sofrem e sofreram as consequências dessa pandemia, só posso manifestar minha esperança - provavelmente inútil - de que sofrendo a enfermidade na própria carne, Bolsonaro reveja suas atitudes e, como ser humano que também é, possa fazer escolhas e tomar atitudes melhores no futuro.
terça-feira, 7 de julho de 2020
Bolsonaro, Barbárie e o Pacto Civilizatório
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Um comentário:
Também não desejo a morte dele, até porque ele ia virar mártir para o gado!
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