Não me entusiasmo nem um pouco com as comemorações dos 200 anos de nascimento do autor de "O Capital".
Marx era um homem inteligente e erudito e, evidentemente, teve algumas ideias muito interessantes - como as noções de mais-valia, alienação e fetiche, por exemplo. No entanto, enquanto reflexão sistemática, a meu ver, o marxismo não se sustenta em pé. O central modelo de "modo-de-produção" é de um reducionismo pavoroso; a "luta de classes" como principal motor da História é um delírio messiânico, e a noção de "consciência de classe" resvala várias vezes na desonestidade intelectual.
Além disso, também acho que o pensamento de Marx tinha nuances extremamente perigosas - marxistas e simpatizantes me parecem subestimar gravemente as tendências autoritárias presentes no discurso do pensador. A noção de "ditadura do proletariado" me causa asco, não importando os sofismas com que se tente maquiar a coisa. As sementes do mais sombrio stalinismo já estavam latentes no discurso de Marx desde o começo.
Nada disso significa que o proponente do "materialismo histórico" seja irrelevante. Muito pelo contrário, é, evidentemente, uma das figuras intelectuais mais relevantes e influentes da História. Seu legado estimulou muitos pensadores brilhantes, especialmente entre aqueles que não o seguiam de modo ortodoxo. Como tal, deve ser lembrado, mas também deve ser analisado criticamente, com respeito, mas sem religiosa reverência. A meu ver, a maior homenagem que se pode prestar a um pensador é criticá-lo conscienciosamente.
Não precisa ser demonizado, como quer a direita, mas tampouco deve ser colocado sobre um pedestal, como faz a esquerda.
Por sinal, já passou da hora de que os movimentos de esquerda superem o legado de Marx, cujos limites são evidentes. Que se aproveite do pensador aquilo que serve, e o resto, que seja deixado para trás, com o devido desapego. A esquerda do século XXI precisa, com urgência, parar de buscar o colo paternal de Marx, como um eterno porto seguro.
Existem outros horizontes a explorar.
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