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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Cultura, cérebro, percepções

Trecho de A outra face da Lua - Escritos sobre o Japão, de Claude Lévi-Strauss

O japonês talvez não seja uma língua de tons, ou talvez o seja mal e mal; mas eu diria de bom grado que a civilização japonesa me apareceu como uma civilização de tons, em que cada coisa se refere simultaneamente a vários registros, e me pergunto se essa ressonância, essa faculdade evocadora das coisas não é um dos aspectos que a enigmática expressão mono no aware conota. O despojamento vai junto com a riqueza, as coisas significam mais. Relatos me ensinaram que um neurologista japonês, o dr. Tsunoda Tadanobu, demonstrou num livro recente que seus compatriotas, à diferença de todos os outros povos, asiáticos inclusive, tratam os gritos dos insetos no hemisfério esquerdo do cérebro, não no hemisfério direito; o que leva a pensar que, para eles, os gritos dos insetos, mais que ruídos, são da ordem da linguagem articulada. E, de fato, imagina-se que o herói de um romance ocidental faça, como Genji, transportar de charnecas distantes para seu jardim insetos a fim de se alegrar com seu canto?


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