Desde o dia 13 de julho, em função de uma invasão, o Museu do Índio
encontra-se fechado.
Falar de Patrimônio Cultural é falar de voz, de representação, de
identidade, de busca por reafirmar um lugar no mundo. São 63 anos de
existência do Museu do Índio.
O órgão científico-cultural da Funai corre sérios riscos. Está há mais
de 24h sem o menor controle dos acervos que custodia. São acervos
etnográficos sobre diversos povos indígenas (o conjunto mais
representativo da América Latina), bibliográficos (uma das maiores
bibliotecas especializadas em etnologia indígena no Brasil) e
documentos arquivísticos que são fontes probatórias das relações
históricas entre o Estado brasileiro junto aos povos indígenas, sendo
FUNDAMENTAIS em processos judiciais de demarcações de terras. O
trabalho de documentação realizado pelo Museu do Índio contribuiu para
a demarcação de mais de 200 terras indígenas, nos últimos 30 anos.
Dentro deste universo, o conjunto documental do Serviço de Proteção
aos Índios foi reconhecido como Memória do Mundo pela UNESCO em 2008.
Além disso, o Museu do Índio tem sido incansável na condução de
projetos de documentação de culturas e línguas dos povos indígenas.
Todos os projetos e as práticas museológicas que vêm sendo
desenvolvidas na última década têm como diretriz fundamental uma
abordagem participativa dos povos indígenas. Todas essas ações contam
com a participação direta de mais de 30 povos, tendo contribuído para
a formação de 215 pesquisadores indígenas, engajados nos projetos de
documentação realizado em parceria com a UNESCO.
O Museu do Índio tem sido espaço de diálogo, de compartilhamento, de
debates promovidos pelo curso Dimensões das Culturas Indígenas -
atualmente ministrados por especialistas e por lideranças e
pesquisadores indígenas -, de qualificações de acervos, sempre
buscando conhecer quais são as principais e diversas necessidades dos
povos indígenas em relação ao seu patrimônio, suas questões
identitárias. As ações têm sido pensadas em direção ao fortalecimento
de suas culturas para possibilitar o fortalecimento de suas
mobilizações na busca incansável para garantir seus direitos.
É inconcebível e reprovável o que ocorre hoje no Museu do Índio. São
seis dias de ocupação – especificamente na noite do dia 17, domingo,
ocorreu uma invasão violentíssima – que podem acabar com décadas de
trabalho à serviço dos povos indígenas e da conscientização da
sociedade em relação à sua diversidade cultural. Depredação dos
portões tombados, arrombamento das salas de trabalho, tentativa de
arrombamento das reservas, agressão verbal e física à funcionários do
Museu e incitação de ódio e desrespeito aos representantes Fulni-ô,
que se manifestam inconformados com o desrespeito ao patrimônio ali
depositado.
É a situação do Museu do Índio hoje. O dano pode ser irreparável. A
Federação das Organização Indígenas do Rio Negro=FOIRN e outras
lideranças indígenas já manifestaram apoio à integridade dos acervos
que o Museu guarda e repudiam fortemente o tipo de ocupação que foi
realizada.
Todas as medidas legais têm sido tomadas para garantir a preservação
dos espaços e do acervo, mas é com tristeza e sensação de impotência
que este patrimônio cultural depositado corre risco de
desaparecimento.
Há pouquíssima clareza por parte dos manifestantes do tipo de atuação
do Museu do Índio dentro da Funai e do trabalho que vem sendo
desenvolvido na instituição.
A Direção do Museu já solicitou à Justiça a reintegração de posse para
evitar danos aos bens culturais materiais e imateriais dos povos
indígenas e ao patrimônio público do povo brasileiro. Somos um órgão
científico e cultural e TODAS as reivindicações apresentadas saem
completamente da nossa alçada.
Direção do Museu do Índio
-
Museu do Índio
Rua das Palmeiras 55 - Botafogo
Rio de Janeiro/RJ
CEP 22270-070
www.museudoindio.gov.br
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