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quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Jair e Inácio no Purgatório

 De queda em queda, ferozmente atracados, Jair e Inácio despencaram no Purgatório. 

"Sou o Povo"! - gritava um.

"Sou a Ordem"! - berrava outro.

Com olhos injetados de sangue se evisceravam, às gargalhadas, os dois marotos, como anões gigantes sob o céu crepuscular, rodeados por silhuetas de papelão. 

"Vencerei"!

"Perderás"!

 Espumavam saliva em seus lábios, como cadelas raivosas em cio perverso. Sulfurosas gotas de sangue queimavan e esterilizavam o solo onde caíam, tudo matando em odor putrefato - terra arrasada!

Estrela decadente e capitão das trevas, lutavam por lutar, pelo prazer soturno da hedionda disputa, sedentos de glórias vazias, famintos de realidade.

Sob aplausos histéricos se entremordiam, perante uma plateia de sombras esquecidas de si mesmas, bestialmente entorpecidas, fascinadas pelo espetáculo. 

"Pega!"

"Mata!"

"Esfola!"

A turba clamava, delirante, aspergida pelo fétido sangue dos contendores.

Conforme lutavam, suas carnes e ossos se fundiam, como galhos e raízes que se entrelaçam e sufocam.

Uma força irresistível arrastava a multidão ao combate. Não havia mais lutadores, apenas uma massa amorfa, com milhares de olhos cegos, ouvidos surdos e bocas peçonhentas. Uma miríade de braços e pernas se contorcia em grotescas convulsões. 

A colossal massa de carne purulenta e ossos retorcidos rolava sobre pedras pontiagudas, escalavrada, sofrida, murmurando um coro incerto de gemidos aterradores.

Ao cabo de infinitos momentos o corpanzil disforme agonizava em espasmos frenéticos. 

O silêncio reinava no Abismo, exalando odor de penumbra.

A multidão de almas repousava na obscena paz dos corpos em decomposição. 

CAPÍTULO PRIMEIRO DO LIVRO DOS CONDENADOS 

"The great red dragon and the woman clothed in sun" - Wiliam Blake



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