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domingo, 12 de agosto de 2018

Esvaziando Bolsonaro

Hoje [10/08] peguei um taxista eleitor de Bolsonaro. "A gente precisa de alguém que bote ordem nesse país" - disse ele.

Nesse momento eu poderia ter entrado em acalorado debate, atacando o candidato de um ponto de vista ideológico, rotulando-o como fascista e similares. O taxista provavelmente sairia ainda mais convicto de seu voto. Optei por outra via, afirmando calmamente que vejo Bolsonaro como a pior opção nestas eleições presidenciais. "Por quê?"

Comecei então a analisar detalhes da carreira do presidenciável, enfatizando suas inconsistências e incongruências. Toda minha linha de argumentação caminhava no sentido de simplesmente esvaziar o BolsoMITO, "desencantado-o", apresentando-o como o reles político carreirista e oportunista que ele de fato é. Em lugar de causar rejeição, minhas ponderações despertaram curiosidade, e seguimos dialogando cordialmente.

Lá pelas tantas, presos na Linha Amarela, mudamos de assunto. Mais adiante, contudo, fui surpreendido: "Me fala mais aí dessas coisas que você tava me contando sobre o Bolsonaro", pediu ele. Retornamos ao assunto. Em dado momento, ele fez um curioso e significativo comentário: "Eu não conhecia esses detalhes todos sobre ele, não..."

Aí temos uma questão relevante: boa parte do potencial eleitorado do Bolsonaro não sabe quem ele realmente é; apresentá-los ao "verdadeiro" Bolsonaro pode ser mais eficaz que fazer sibilinas críticas ideológicas que, para a maior parte do eleitorado brasileiro, não passam de ininteligível blablabla.

Continuamos conversando sobre política, desta vez sobre eleições passadas. Novas surpresas. Ele me disse que gostou muito dos governos de Lula. Em 2010 votou em Dilma, esperando que o novo mandato fosse tão bom quanto os anteriores. Decepcionado, anulou em 2014, pois jamais votaria no Aécio "traficante" [sic]. Essa anamnese eleitoral mostra claramente que não se trata de um cidadão com grande consistência ideológica, mas tampouco corresponde ao estereótipo de fanático fascistoide de extrema-direita que tentam aplicar indiscriminadamente a todos os eleitores do candidato. O fenômeno Bolsonaro é muito mais complexo do que isso.

Em momento algum de nossa demorada (e cara) viagem sustentei a vã intenção de convencê-lo a não votar em Bolsonaro pela simples força de meus argumentos, o que provavelmente só o deixaria mais firme em sua resolução. Por sinal, sinto pouca inclinação a manipular a consciência alheia. Me limitei a plantar as sementes da dúvida, conseguindo, com muita paciência, abalar suas convicções acerca do candidato. Já considero isso uma pequena vitória.

Talvez ele acabe mesmo votando em Bolsonaro (é um direito dele, inclusive). No entanto, ele saiu de nossa conversa melhor informado sobre seu candidato, e isso talvez abra espaço para que ele repense seu posicionamento. Essa, evidentemente, é uma decisão que cabe somente a ele, durante os próximos meses.

Concluindo, HÁ espaço para dialogar com os eleitores de Bolsonaro - ao menos com alguns deles. Em suma, me parece que a melhor estratégia para manter Bolsonaro longe do poder seja esvaziar serenamente o "mito", e não combate-lo ardorosamente. A primeira atitude tende a abalar seu pedestal, enquanto a outra tende a consolida-lo. Gritando contra Bolsonaro, emprestamos-lhe legitimidade; por outro lado, nada melhor para expor um louco que deixa-lo berrar sozinho. Não precisamos permanecer calados, mas não podemos ceder à gritaria...


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