Acabo de assistir o trailer de lançamento do jogo "Kirby Battle Royale".
O vídeo apresenta uma edição frenética e psicodélica. Tomadas e tomadas se sucedem em poucos décimos de segundo: suponho que para lidar com um público cujo "attention spam" (sic) se torna cada vez mais curto, como tanto enfatizam os "teóricos" (sic) do marketing digital: 8 míseros segundos, dizem, é o máximo que um espectador atual consegue acompanhar atentamente.
Fico com a sensação de que o tiro sai pela culatra. Depois do primeiro minuto, não consegui prestar atenção ao trailer. Imagens, efeitos sonoros e música hiperexcitante se sucediam numa cadência tão intensa que, antes que eu pudesse sequer decodificar a cena apresentada, já havia outra a se desenrolar diante de meus aturdidos olhos e ouvidos.
Me lembrou o famoso episódio, lá se vão duas décadas, das criancinhas japonesas tendo ataques epilépticos em escala industrial diante de seus televisores - singular ocasião nos anais da neurologia humana e, possivelmente, da psicopatologia social. Separados no espaço, juntos no momento, milhares de cerebrozinhos infantis impiedosamente (e acidentalmente) torturados através de seus aparatos eletrônicos domésticos: uma imagem pungente da contemporaneidade. Laranja Eletrônica...?
Ao término do super-ultra-mega-estimulante trailer, precisei de apenas um Rivotril, uma Maracugina, um Frontal sublingual e meia-hora de meditação para me sentir um pouco menos aflito - embora verborragicamente desesperado para verter fora adjetivos e advérbios.
A edição do trailer em apreço tenta espremer tanto conteúdo em menos de 5 minutos de vídeo que todo esse conteúdo se torna ininteligível - e irrelevante; "insignificante", no sentido etimológico. Tão barulhento, que chega a ser inaudível: 5 minutos de psicodelia visual e sonora que, no fundo, não significam quase nada.
Assim parece nosso mundo: tão absurdamente cheio, que parece cada vez mais estupidamente vazio. Ofuscantemente silencioso, apesar de seu inquietante barulho; ruidosamente escuro, apesar de suas luzes deslumbrantes. Tudo tão feérico, tudo tão prosaico.
Talvez a mídia digital consiga em breve realizar aquilo que milênios de Budismo não conseguiram: "esvaziar" a cabeça de toda a sociedade. "Ceci tuera cela". Confesso que nada disso lembra aquilo que imagino como nirvana...
P.S.: Pouco antes, recebera o anúncio do jogo "Detective Pikachu". Maiores comentários podem ser dispensados.
P.S.: Pouco antes, recebera o anúncio do jogo "Detective Pikachu". Maiores comentários podem ser dispensados.
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