sei que sua pergunta foi dirigida ao juiz Moro, mas finjamos que ela seja para mim.
Sim, eu sou casado. Já aconteceu de minha esposa entrar numa sapataria e gastar muito dinheiro lá sem me consultar. Por outro lado, já aconteceu de eu gastar mais do que devia adquirindo livros e jogos eletrônicos. Enfim, é o tipo de coisa que acontece - faz parte da vida matrimonial.
No caso da minha família, de classe pobre alta, as consequências desse tipo de episódio de compra impulsiva são um tanto desagradáveis, pois gastos inopinados têm um impacto considerável sobre nossa renda familiar, com desdobramentos financeiros impossíveis de ignorar. Parece trivial, mas não é. Uma verdadeira dor de cabeça.
Acho curioso que o senhor compare esse tipo de situação à aquisição de um imóvel. Para a maioria dos brasileiros, adquirir um imóvel é uma verdadeira epopeia - até para comprar esses imóveis "baratinhos" do "Minha Casa, Minha Vida" que o senhor tanto parece desprezar. Para a maioria de nós, comprar um imóvel é algo completamente diferente de comprar sapatos.
Há pouco tempo li uma entrevista que o senhor concedeu à revista Playboy em 1979. À época, o senhor comentava como fôra difícil adquirir uma casinha num projeto do Banco Nacional da Habitação. Fico espantado ao constatar que seu patrimônio familiar tenha crescido tanto nesses últimos 38 anos a ponto de que adquirir um imóvel à beira de uma praia muito valorizada no litoral paulista tenha se tornado uma coisa tão trivial para sua família - comparável a comprar sapatos. Uma comparação realmente espantosa, em minha pobre opinião. Me lembrou até o depoimento da Sr.ª Adriana Ancelmo, ex-mulher do governador Sérgio Cabral (que o senhor conhece tão bem), a qual não se espantava em ganhar de presente de um desconhecido uma poltrona de 17 mil reais.
Enfim, no lugar do juiz Moro - pelo qual não nutro qualquer admiração, diga-se de passagem - eu não saberia exatamente o que responder à sua pergunta retórica.
Cordialmente,
Prof. Luiz Fabiano de Freitas Tavares
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