Paris é linda. Isso não quer dizer muita coisa, mas é verdade. Mas não exatamente pela cidade em si, por suas construções belíssimas. Há algo aqui que é muito, muito especial. Hoje, andando nos corredores da Sorbonne, tive uma pista do que pode ser isso. Tudo aqui é História, mas não história encapsulada, isolada numa bolha. Ao contrário do Rio, onde os espaços arquitetônicos percebidos como "do passado" ou "do presente" são muito claramente demarcados, a relação entre passado e presente na tessitura urbana parisiense parece muito mais fluida. As construções são muitas vezes uma bricolagem de usos diversos. O prédio da Sorbonne é quase milenar, mas é um edifício vivo, cheio de adaptações para os usos do presente. É um tanto como se os homens de hoje pedissem licença aos seus ancestrais para se apropriarem de sua construção para novos usos. Também é curioso observar o quanto essa atitude parece natural para os estudantes que estão lá.
Mas seria possível ser de outra maneira? Sobrevoar a França é uma experiência única, não tanto pela beleza da paisagem, mas pela inevitável comparação à América do Sul. Aqui, as terras parecem ter sido plenamente domesticadas pelo homem, após milênios de ocupação intensiva do solo. Uma linda colcha de retalhos de campos sucedendo a campos, pontilhada aqui e ali por alguns bosques, que são muito mais fruto da iniciativa humana, vestígios de antigas reservas de caça, repositórios de lenha, que propriamente uma floresta primária. Sobrevoar a França torna visível, perceptível "a olho nu", digamos assim, o quanto nós somos realmente uma força da natureza, enquanto coletividade humana. Muito bonito, mas um tanto melancólico. Por outro lado, nossa América do Sul, permanece em grande parte indomada, apesar dos milênios de ocupação indígena. Visto de cima, o Novo Mundo parece mais pujante, parece guardar uma força juvenil, uma energia vital mais poderosa, não sei...
Ao mesmo tempo, passar pela Península Ibérica parece muito evocativo, ou talvez esclarecedor. Apesar da curta distância, é um outro mundo. A natureza é muito mais agreste, rude, difícil, em comparação à fertilidade das planícies francesa... Fica mais fácil entender porque a aventura marítima sempre foi tão atraente aos ibéricos, enquanto os franceses só começaram a tê-la por necessária muito mais tarde, em meados do século XVII.
Continuo viajando com Clio; novidades em breves posts!
terça-feira, 15 de maio de 2012
Primeiras impressões parisienses
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3 comentários:
Ótimo, Luiz! O próximo poderia ser sobre os "amáveis" franceses... Abraço!
"O prédio da Sorbonne é quase milenar, mas é um edifício vivo, cheio de adaptações para os usos do presente. É um tanto como se os homens de hoje pedissem licença aos seus ancestrais para se apropriarem de sua construção para novos usos."
Interessante saber disso porque geralmente temos a impressão que tudo em e na História deve passar (ou passa) por um processo de sacralização.
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